quarta-feira, maio 28

O meu amigo João mais do que tudo (II) reeditado. Não se bate à porta dos outros se não fôr para a verdade falar.

A última coisa que me ocorreria é tornar este blogue num espaço de confidencialidades e muito menos confessional.

Mas, como, por vezes, todos nós acabamos por ser emocionais no que escrevemos, e assumindo tudo o que narrar sei, pois, reitero, pela enésima vez, acredito que a palavra é ainda a única coisa que nos sobrevive e que nos salva, e que quem tem gestos completamente discrepantes do que diz, ou está num processo de fissuração pessoal muito intensa e grave, ou é de uma perfídia profunda e assutadora que merece ser confrontado, mesmo denunciado, não poderei deixar de dedicar umas palavras mais ao meu amigo João, mais que Tudo, até tendo em mente que, do que anteriormente escrevi, obtive reacção.

Escrito, efectivamente, a pensar num tipo de situações que cada vez mais se vai tornando vulgar que é o total esbatimento da palavra enquanto efectivo lugar de comunicação (tão esquecida está a expressão "Um homem de palavra"), porque a mentira e o autismo vai impregnando muitas almas, ocupando o espaço que deveria pertencer à criação, não pretendeu o meu texto ser senão um depoimento sobre uma situação conhecida sobre a qual, até por me ser mais intimamente ligada, através de pessoas a quem há tanto tempo prezo e estimo, tive oportunidade de reflectir, ciente que é mais comum do que se possa imaginar.

Bem sei, que a escrita, o testemunho dito e escrito, ainda continua a assustar, como mecanismo de aferição da alteridade ........ mas, se a palavra existe é para a sabermos usar!

E, por isso, volto hoje a narrar, não poderia deixar de o fazer!

Porque as minhas palavras originaram e, sei-o bem, originarão reacções!

E porque sei que um dia, pelo menos isso sei, a minha história será ainda libertadora para quem a sua não foi capaz de enfrentar.
Porque viver sempre no sofrimento da mentira e da indecisão não é saber viver!

Sei amigo João que, mesmo sem querer, ainda te estou a ajudar, pois não a saberias contar. Talvez não me devesse preocupar com isso, mas quem sabe, um dia ainda te vá libertar.

Não reajas, portanto, uma mais, sem pensar!

A situação anteriormente descrita, de alguém que, perdido, por se sentir exactamente assim, ia sugando tudo em seu redor, sem que disso desse conta (?), já nem isso sei bem, mas que nada tivesse conseguido aprender, provocou um mecanisco acelerado de sucção.

Certamente por ter enfiado uma espécie de "carapuça", a personagem que se sentiu visada resolveu agir, reagir, tendo mesmo a minha casa procurado para me tentar explicar das suas razões.

Uma vez mais, claro está, quase me pareceu estar, de novo, a usar um processo de fuga ..., desespero de quem se sente a perder o pé.

Claro, também, e uma vez mais, não parou para pensar antes de agir! E se o fez, apenas o tempo o dirá!

Resolveu, na continuidade da perdição, ainda mais a acentuar.
Criando, chegou a ocorrer-me, outras tantas efabulações mais, com a graça de nem tão pouco temer o testemunho!

Num sufoco típico de quem já não pensa senão em salvar a própria pele, ou, quem sabe mesmo, apenas já não consegue respirar!

Desta vez a desculpabilização envolveu tanta gente, gente de mais, quase me pôs a sucumbir a mim, a tentar ouvir ... acreditar e entender, com criança a ver, pois com a sua chegada os seus desabafos urgentes, ao raiar do Sol, nem a pude poupar ...., quase se pôs ele próprio e outros tantos mais a morrer, tal filme de Almodôvar na sua versão mais apurada (antes visse o Crash que esse, pelo menos, contém o Pecado mas também a Salvação!).

Felizmente a minha amiga poupada ficou a tal turbilhão!

Quase conseguiu fazer com as suas angústias fazer sentir culpados os outros, ou melhor, a mim, porque não o tinha conseguido entender ...

Mas sempre manifestando amor, sempre falando de amor, de crescimento, e do amanhã! De promessas de uma mudança desejada, crente e verdadeira!

Escutei, escutei ... pese já ter jurado que não o faria mais.

Uma coisa boa tenho que ressalvar, conseguiu admitir a mentira e a omissão, se bem que tentando escamoteá-la ainda com algumas desculpas vãs!

Disse-me que ia emigrar de novo (afinal sempre tinha partido antes, como me haviam informado amigos comuns).

Achei bem. Quem sabe assim o meu amigo tenha tempo para definitivamente se enfrentar!
Se a loucura não acabar por dele se apossar. Espero bem que não!

Quem sabe a solidão o faça pensar!

Afinal é tudo tão simples quando a verdade se consegue enfrentar.
É tão somente saber olhar os outros, como se ao espelho nos conseguissemos ver, e dizer o que há a dizer.

Tão simplesmente isso, sabermo-nos olhar e dizer a verdade que vai no mais fundo de nós.

E apenas assim, com esse pacto que a palavra tem, conseguirmo-nos entender, conseguirmos encontrar a via possível que nem sempre é o que os outros consideram "ideal", mas que é a via possível para o que nos torna melhores e mais felizes.
Só que, infelizmente, há quem isso não consiga fazer, nunca tenha aprendido a fazer, tão moldado foi a encontrar na fuga a solução.
Mas, está-se sempre a tempo de começar (?)!

Pois é, bem sei, um blogue não é um lugar de confissão, mas um lugar de comunicação.

Por isso estou a falar, a narrar uma história que, repito, de outro modo, não saberia ele, certamente, contar.

Um dia, reitero, ainda o meu amigo João mais que Tudo me irá agradecer de o ter feito, não me acusando, como agora, de a sua intimidade estar a romper... (coisa que pouco me preocupa, aliás, pois, para isso me merecer alguma consideração, era preciso a dos outros não violentar) porque a minha história, sei-o bem, sabe ele também bem, ainda o vai libertar!
Com o peso do remorso e da fuga como solução é que não pode continuar a viver.

E a intimidade não se proteje porque, com o pérfido silêncio dos outros, ou com a sua cumplicidade, comprado a que preço nem eu sei (relembro o texto que aqui escrevi sobre a chantagem e a corrupçao - que têm em comum?) nos passamos a vida a esconder, sem nunca assumir que as nossas palavras e os nossos gestos são também escolhas e que todos têm as suas consequências, afinal. Porque isso é que é viver.

A intimidade não se corrói porque a vida se consegue enfrentar! Rompe-se, isso sim, quando somos nós os primeiros a não a respeitar.
Por isso há que parar, por vezes, para pensar.

Alguém teria que contar esta história. E ele não está capaz, não era ainda capaz de o fazer!

Um dia Luz se fará!















P.S.: Adorei ver o meu amigo de aliança de brilhantes na mão.
Disse-me que tinha uma igual para te entregar amiga, mas quase se envergonhava de o fazer.
(Aliás está muito envergonhado o nosso amigo, mas também lhe disse que a maior vergonha é a que temos quando nos olhamos no espelho e não para os outros).
Guardei-a comigo cerrando a minha mão, mas aconselhei-o, por ora, a não a deixar.
Porque sei que não lhe darias a tua mão assim! Porque até me queimaria a minha mão.
Haverá ainda caminho a percorrer para a poderes usar!
E o tempo, o tempo é o que é, tudo acaba por fazer viver ou matar.

No entanto amiga, bem mais serena do que eu que consegues ser, dou-te razão, quando não se é capaz de olhar o espelho, de o encarar, quando até dele temos medo, é melhor dizer, tão simplesmente, como conseguiste tu fazer: não varras o lixo, não apanhes o lixo do chão!

E aí, sim, há que amuralhar, amuralhar! No meio do turbilhão alguém tem que manter a lucidez!

Ao João, seguir-lhe-ei os passos possíveis ... quem sabe a vida me vá ainda surpreender! Não sei, há tanto trabalho a fazer.
Desejei-lhe, contudo, que a caminhada que fosse de feição, não fosse o meu amigo ser ainda mais engolido pelo abismo, tão acossado o achei.
Já não escreve pela sua mão, não fossem os grafólogos começarem a opinar, compraram-lhe o silêncio a troco de nem sei bem do quê, mas de um pérfido pacto se tratará, hipotecou a capacidade de se exprimir e nem mails pode mandar, porque tem pânico de tudo que o possa comprometer, muda de telefone conforme a personagem que quer representar - só no último ano lhe conheço pelo menos quatro - num jogo de espelhos e de loucos que não sabe gerir e onde se está completamente a deixar engolir.

A viagem, o retiro, só lhe pode mesmo ser de feição!
Porque ao lugar de origem, sei-o bem, sabe-o ele tão bem, nunca mais voltará como partiu, senão para descansar. Só que ainda tem medo de o aceitar!

Por isso há que saber partir.

Talvez por morse, quem sabe se sob outro pseudónimo qualquer, mas, estou certa, que um dia vai dar sinal!

6 comentários:

Anônimo disse...

conta-se que nos tempos coloniais um chefe de posto do interior de Angola chamou à sua presença um indivíduo duma sanzala próxima para contar o que sabia sobre uns aconecimentos sangrentos ocorridos na sanzala. No Gabinete do Chefe de Posto havia um Intérprete. O Chefe de posto disse ao indíduo para contar o que sabia. Ao fim de meia hora de exposição o Chede de posto perguntou ao Intérprete: "O que é que ele disse"? Respondeu o Intérprete: "Até aqui só falou".
Pois é. As palavras devem ter um peso e uma madida, mas por vezes, por dentro dos seus invólucros não há nada. Nada, percebeste, Filomena?
um braço

A Lusitânia disse...

Não queria entrar em diálogo. Cada um de nós sabe o interprete que tem!
Bem sei, bem sei, que a palavra tem que ter no gesto o seu reflexo.
E há que saber escutar nas entrelinhas também!
A história que contei terá o seu justo valor para quem a souber ler.

A Lusitânia disse...

Da vida, não te iludas também tu, tantas vezes apenas conseguimos ver a ponta do iceberg.

Anônimo disse...

Não sei o que te responder. É um facto que vemos melhor para fora do que para dentro onde pode haver muitas miasmas que nos dificultem a visão. Mas tu desnudas-te tanto à janela da tua escrita, numa afirmação de autenticidade, de verdade e de temeridade, que me é mais fácil interpretar-te nestes assuntos de mais que tudos do que noutros mais esotéricos e herméticos.
Desculpa, Filomena, um estilo assim de sopetão. Faço-o em nome duma amizade de anos e para te prevenir de que pode ser perigoso descer os degraus dum alçapão onde mingue a claridade. Onde mingue a claridade pode escassear a verdade.

bettips disse...

Na minha modestíssima opinião - e assim de dentro - o problema "da maldade" está no chefe do posto e a sua inércia em querer saber (e tomar providências) e do intérprete, insensível às palavras, ainda para mais sangrentas, partindo do princípio que ao "indígena" interessava contar a verdade ou o que viu/sentiu. Isto e tal como é comentado acima, em sentido figurado. Ninguém melhor do que o humano para esvaziar palavras, sentimentos...de acordo com as suas conveniências.
As palavras não "devem" nada...as pessoas é que as enchem (mal ou bem).
E eu...que nem conheço ninguém daqui! só as "pedras que falam" e essas precisam de um bom intérprete!
Cuidem-se e tratem-se bem.
Bj
Perdoem-me a intromissão

Anônimo disse...

Tal como disse no outro texto dedicado ao «meu amigo João» também não (re)conheço a história de que fala a nossa narradora.
No entanto, conhecendo-a como conheço, de quando a idade nos começa a moldar, uma coisa sei:
há histórias que temos que saber contar, nem que seja para nos libertar! ´
E a outra também consigo dizer: enquanto houver vontade de falar, mesmo que algumas palavras possam parecer apenas palavras vãs, é sinal que ainda conseguimos parar para olhar os outros! Importa saber (e isso não sei, nem quero saber) se conseguimos intuir o seu verdadeiro significado, o seu verdadeiro valor.
Poderei apenas repetir o que diz a Bettips, precisa-se de um bom interprete para as "pedras que falam". Certamente se encontrará o apropriado para a situação! Confio amiga na tua intuição