domingo, dezembro 31

A minha mãe: A mulher da minha vida, pelo dia que era o seu (reed.)






















Se, de facto, as estrelinhas que há no Céu são os que partiram com a alma em paz, sei que brilharás como nenhuma.
Para mim és aquela a que chamam estrela, mas não o é: Vénus, a estrela da manhã. A primeira que se vê e a última a deixar de se poder observar. A Estrela d'Alva que a Mariana cedo aprendeu a reconhecer.


Nome: Maria Helena Antunes dos Santos Albarran Barata (a bela Helena de Tróia, mais conhecida por "linda", porque toda a vida assim lhe chamou o meu pai, o seu homem de toda a vida).


31 de Dezembro 1935 -10 de Janeiro 2005 (atravessou as Festas, para connosco ainda passar o seu último dia de Natal e o seu dia de anos, o 31 de Dezembro).


Toda a vida trabalhou e cresceu, tendo sido a única mulher do Banco de Angola em Malanje.
Toda a vida conduziu descalça em dias de calor fazendo estranhar, pelo pioneirismo, Malanje (Angola) que lhe conheceu os melhores anos.
Toda a vida amou
Toda a vida gostou de viver e sorrir
Toda a vida tomou chá, tantas vezes gelado, sentando-se nos degraus da casa que foi a da minha infância.






A minha mãe (segunda à direita, junto da minha avó. Em baixo, o primeiro à direita, o meu pai com a minha irmã ao lado. Eu estou com as tampas da panela na mão).


Os meus pais (do lado direito)

Toda a vida soube festejar, dançando com as amigas o Zorba ou a valsa da Meia-Noite com o meu pai.
Sempre aprumada e elegante, a ela nisso não consegui sair.

A minha mãe e suas duas filhas, em 1964, quando vi o Tejo pela primeira vez.

Toda a vida teve tempo para os seus.
Toda a vida teve preocupações sociais, o que a tornou uma convicta votante socialista, coisa que as filhas herdaram, cada uma a seu modo.
Sempre lhe vi um livro na mão.
Com ela teve até ao último dia o «Cavaleiro da Dinamarca» de Sophia de Mello Breyner Andersen, que quis ler e ouvir até que os olhos quase lhe fecharem.
Ela sabia que era apenas uma viagem que tinha que empreender!
Hoje eu ter-lhe-ia também juntado «A Casa dos Espíritos» e um livro de poemas de Florbela Espanca que me tinha emprestado.

Que saudades eu tenho de um café no Nicola, em dias de chuva, nostálgica que sempre foi da sua Lisboa, e de a ver meditar serena junto ao mar de Odeceixe, em posição de yoga e sorvendo o Sol.

Venha hoje a tua Força e a tua Luz para me acompanhar, porque crente sempre foi, mas à sua forma.
Sei que tanto falava directamente com Deus, como com o sol a pôr-se, pese a sua educação católica, como a maioria de nós.




Porque eu às minhas histórias vou voltar, sem medo de fantasmas ou sombras e sei bem que por aqui estás perto para me serenar!
E sei que te prometi ser feliz, tentasse as vezes que tivesse que tentar.


A minha mãe no Ambrizete 1958


A minha mãe (à direita) e a minha irmã (do seu lado, em baixo)


E sei que a partir de amanhã estará de novo junto ao meu pai para com ele poder jogar crapot no Céu.

Ao despedir-se, disse-me: «não sei porque estás assim. Quando olhares para a tu filha, lembra-te que nela corre um pouco de mim»! Hoje ouvi-lhe a voz, dizendo o mesmo, nesta casa onde vivo e que foi a sua.

Sei que talvez tenha sido a única vez que, verdadeiramente, lhe "obedeci".Nunca mais o esqueci. E sei também que a minha filha o ouviu, porque ainda hoje, logo passados uns minutos da meia-noite, ma perguntou «já deste os parabéns à avó»?