segunda-feira, maio 26

A minha rua saiu à rua 40 anos depois ...


Na minha rua havia sempre gente, bicicletas, braços partidos, gritos das mães a chamar pelos filhos que não queriam voltar para casa; trotinetas feitas com rolamentos; bicicletas sem travões; festas de anos de mais ricos e mais pobres... havia mangueiradas e bolos feitos de terra nos quintais, onde também se dançava nos carnavais e com o ano a findar.

Na minha rua havia uns "cientistas loucos"; outros atinados já com óculos grossos para observar e, na minha rua, subia-se e descia-se a dizer «supercalifragilixticexpoilidoce» ... estará mal escrito? Não importa!

Na minha rua houve os primeiros amores e desamores ... as zangas de ocasião e o fumo da paz.

Na minha rua ia-se a caminho da piscina, para tristeza de alguns que, tanta malandrice feita, os viam passar, pois os castigos obrigavam a uma ausência temporária dos feitos de mergulhos em pranchas altas e outros alabarismos mais.

Na minha rua combinavam-se piqueniques, idas ao cinema e os jogos e acampamentos usuais.

Havia as meninas sempre à moda, as mais refilonas e as mais pacatas; havia os sossegados e os dos desacatos.

A minha rua era um mundo que não acabava mais.
Apenas sei que a minha rua saiu hoje à rua e um abraço enorme nos fez cantar «Parabéns», mesmo sem ser dia de anos de ninguém. Porque um dia a rua foi desmembrada e viram-se mortos nos passeios onde costumávanos brincar ...

Hoje não foi a nossa rua o mundo, mas o mundo inteiro que ali se reuniu para nos podermos finalmente abraçar.