quinta-feira, novembro 25

voltarei ao Miradouro da Lua

para ver as «Mulheres ao Luar»






segunda-feira, novembro 22

O Palácio da Ajuda



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Para lá caminhava eu, pela primeira vez em trabalho, em 1987, quando ainda o Departamento de Arqueologia funcionava nos Jerónimos.
Ao Palácio, onde se sediavam mais arquitectos do que historiadores ou arqueólogos, ia-se a "despacho" ou a uma qualquer reunião.
Sempre com a sensação de que o "poder" residia ali.
Repentinamente a "Arqueologia" mudou-se, e aproximou-se também mais desse espaço de decisão, sem que tivesse conseguido ainda "ombrear" com os seus pares arquitectos ou engenheiros.
Em 1998, fui nomeada, mediante concurso, para exercer funções em Évora. Afastei-me do Palácio nove anos, regressando-lhe de vez em vez, para as reuniões do Conselho Consultivo do IPPAR e para os habituais despachos, pois Lisboa dera algumas competências às Direcções Regionais, mas não as suficientes para se autonomizarem. Mas regressava-lhe sempre como se conhecesse a casa, pois nela já "residira", trabalhando.
Hoje daqui desta janela onde se espreita o Tejo, contígua à que foi minha quando aqui comecei a trabalhar ainda no Departamento de Arqueologia, há mais de 20 anos, sintetizo o vivido aqui e o ali, para Além do Tejo, no Alentejo que jamais esquecerei.

Arrumando todos os dias um pouco de mim, enquanto me dedico a trabalhar ...

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domingo, novembro 21

Os Gémeos (Lembrança para trabalhar)



Imagem 1 - Lápide dos «Gémeos Siameses», Capela de S. Brás, Castelo Branco, publicada no artigo «UM PARTO PRODIGIOSO EM CASTELO BRANCO NO SÉCULO XVIII» da autoria de Pedro Miguel Salvado (a quem agradeço), editado na Revista «Medicina na Beira Interior», nº8,1995, e dado também a conhecer por Joaquim Baptista no Blogue "Epigrafia Portuguesa do Distrito de Castelo Branco".
Recomendo a sua leitura pelas aspectos prodigiosos com que é conotado este nascimento de gémeos siameses.






Aos meus gémeos: a Joana Albarran, o Francisco Rocha, a Antónia Tinturé, a Carla Oliveira, a Masisa Matos Dias.

E também a Bettips, minha observadora dual.







No dia em que me dispus a começar apressadamente o meu trabalho sobre alguns aspectos simbólicos, mitológicos e históricos relacionados com os Gémeos, verifiquei que, mesmo sem querer, estava a preparar-me para os homenagear.
Lembrei-me ainda que me tenho sentido um pouco como eles, una e dividida, tentando, tal como os Gémeos, obter uma harmonia interior através da redução do múltiplo à unidade, num permanente combate pelo equilíbrio na dualidade.

Isto porque a minha vida se construiu, em anos recentes, numa constante ambivalência, que nem sempre foi fácil de gerir:

· Duas casas, dois espaços, ambos fortes e fundamentais.
· Ausências e presenças também elas com afectos duais.
· Dois Alentejos onde trabalhei, um litoral e outro interior, sem por um poder decidir.

De toda estas dualidades a mais fecunda é a existência de duas mulheres juntas, mãe e filha, ambas crescendo lado a lado, porque a aprendizagem nem sempre é fácil, mas tem sido mútua.

Pesando todos estes factores e porque, no fundo, a vida de todos nós tem tanto destas dualidades que tentamos que conduzam à unicidade equilibrada, decidi aceitar o repto que me fizeram, algum tempo atrás, de preparar uma pequena intervenção, num encontro cuja temática foi centrada nos vários aspectos sócio-psicológicos relacionados com os gémeos, fazendo uma resenha de como eles têm sido encarados em algumas culturas, mitologias e religiões.

Segundo o «Diccionário dos Símbolos», coordenado por Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, idependentemente da forma como os gémeos são encarados: perfeitamente simétricos, um obscuro e o outro luminoso, um voltado para o céu e o outro para a terra, um negro e o outro branco, vermelho ou azul, um com cabeça de touro e outro com cabeça de escorpião, é um facto que exprimem sempre, ao mesmo tempo, uma intervenção do além e a dualidade de todo o ser ou o dualismo das suas tendências, espirituais e materiais, diurnas e nocturnas.

É o dia e a noite, o Sol e a Lua, os aspectos celeste e terrestre do cosmos e do Homem: o Sol, com a força vivificante dos seus raios, que desempenha genericamente o papel masculino e patriarcal e, por isso foi associado quer a Febos, quer a Hórus; e a Lua, telúrica, é a força feminina e matriarcal que se associa a Cibele, Ísis, Proserpina, que faz desabrochar os frutos e condiciona o crescimento de ervas e plantas. Também entre os Persas, o Sol ou Ormuzd, enquanto fonte de Luz, representava a Vida, a Saúde e a Fertilidade da terra enquanto criadora de todas as coisas necessárias à sobrevivência do Homem; em contrapartida, à Lua ou Arimânio, atribuíam-lhe forças maléficas; as trevas e a esterilidade da Terra.

Mas como em quase todas as dualidades simbólicas, é através do casamento mistérico do Sol e da Lua; do Céu e da Terra que se pode alcançar a Unicidade Divina.

Podem simbolizar as oposições internas do Homem, da vida e da morte, do divino e do mortal, do bem e do mal, e o combate que ele tem que travar para ultrapassar as oposições, cabendo às forças espirituais da evolução progressiva assegurar a sua supremacia sobre as forças regressivas.
Mas poderão ainda simbolizar a identidade, como se os Gémeos fossem cópias ou duplos um do outro. Aqui exprimem a unidade obtida numa dualidade equilibrada, pois representam o que em todos nós existe de "eu e seu duplo".
Genericamente, os Gémeos aparecem carregados de uma força poderosa, seja perigosa, seja protectora, podendo ser deuses ou heróis, pressupondo-se mesmo que maoiritariamente eles fosses fruto da união de um mortal com um deus.
Tal como o número dois que representa o eco, o reflexo, o conflito e a contraposição, os Gémeos assumem, portanto, o dualismo fundamental do ser, até porque o dois é o primeiro número que destrói a unidade, o Um, ou Deus, a Divindade. É o número da alteridade. No fundo, é esse momento brutal em que a criança deixa de ver na mãe como uma extensão de si próprio a ela passa a ser um "outro".
Por isso, intimamente ligado com o arquétipo de Gémeos são as divindades hermafroditas ou andróginas. O mito do Andrógino, ou signo de totalidade inicial, muitas vezes concebido como ovo cósmico, representa a plenitude da unidade fundamental e primordial onde se confundem os opostos, círculo que contém o princípio e o fim.
É comum a muitas Civilizações e Culturas, como a egípcia, a fenícia, a grega, a indiana, a chinesa, a indonésia ou mexicana. É através da partição que cosmicamente se cria ou se diferencia a noite e o dia, o céu e a terra, o macho e a fêmea.
Platão na sua obra «Banquete» relembra o mito do Andrógino, afirmando que o Homem original tinha a forma esférica, integrando os dois corpos e os dois sexos. São estas as suas palavras: «... naquele tempo, o andrógino era um género distinto e que, tanto pela forma como pelo nome, continha os outros dois, ao mesmo tempo macho e fêmea».
A própria Bíblia, segundo o Génesis, ao assumir que Eva foi tirada de uma costela de Adão aceita que, na origem, todo o humano era indiferenciado e que o nascimento de Eva mais não teria sido do que a cisão do Andrógino primordial em dois seres: macho e fêmea. O retorno ao estado primordial, à unicidade primeira, em que se inclui a ideia de fusão do divino e humano, é para a maioria das religiões o grande objectivo da vida.
É pois nesta relação unicidade/dualidade que o mito do Andrógino se aproxima do arquétipo de Gémeos, que se encontra também reflectido em muitos mitos e religiões.
Zervan, o deus iraniano que os historiadores gregos traduziram por Cronos, é andrógino e deu origem a dois gémeos: Ormuzd e Ahriman, o deus do bem e do mal, da luz e das trevas.
Nas representações dos sacrifícios dedicados ao deus Mitra, que sendo de origem indo-europeia, obteve grande devoção entre as legiões romanas, aparecem comummente dois irmãos gémeos, um com uma tocha virada para cima e acesa e outro com a tocha virada para baixo e apagada. Isto porque Mitra é irmão gémeo de Varuna, que ocupa o cume do panteão e domina os céus, e Mitra é o deus da luz, representando dois aspectos da essa mesma luz eterna, a síntese da luz solar e lunar. Mitra surge, aliás, como uma espécie de "terceiro elemento", uma divindade mediadora entre duas forças antagónicas, viabilizando o nascer de um novo dia, ou seja, não permitindo que a Lua oculte o Sol.
Entre os Gregos, da Noite, esfera imensa e oca, separam-se, como o desabrochar de um ovo, duas metades: O Céu e a Terra (Urano e Geia), de cuja união nascem os Titãs.
Também na Mitologia Grega, as divindades gémeas Apolo-Artemisa situam-se entre os doze grandes deuses do Olimpo. Ambos eram filhos de Zeus, o chefe supremo dos deuses gregos, e de Leto, uma mortal que foi abandonada pelo Senhor do Olimpo quando estava para dar à luz, devido aos ciúmes da sua possessiva mulher, Hera.
Enquanto Apolo é o deus da Luz, do Sol e da Verdade, da vitória sobre a violência, a suprema espiritualidade, Artemisa, é a deusa virgem da vida selvagem, senhora dos bosques e dos montes, caçadora-chefe dos deuses, e era associada à Lua e a tudo o que acontecia na escuridão, sendo mesmo considerada por alguns autores uma divindade cruel e vingativa.
Ainda na mitologia grega e romana encontamos outros gémeos: , filhos de Leda, que eram divindades protectoras dos marinheiros.
As referências que sobre eles chegaram aos nossos dias são um pouco contraditórias. Por vezes, apenas Pólux é considerado como divino, enquanto Castor não passa de um simples mortal, devendo uma espécie de meia imortalidade ao facto de o seu inseparável irmão Pólux não ter suportado a sua morte e ter resolvido partilhar com ele a imortalidade. Nessa versão, Leda, a mãe, e o seu esposo Tíndaro, rei de Esparta, terão tido dois filhos, como quaisquer outros mortais, um deles Castor. Só que o deus Zeus, disfarçado sob a forma de um belo cisne, terá cortejado Leda e desta relação teriam nascido outros dois filhos, estes sim imortais: Pólux e Helena, a bela heroína de Tróia. No entanto, e apesar de filhos de pais diferentes, é comum referi-los como nados de um ovo de Leda e filhos de Zeus ou Dióscuros.
Não obstante, muitas vezes eles foram designados ambos como «filhos de Zeus», tendo os dois atingido a imortalidade, se bem que, em muitas versões, ela seja dividida, pelo que alternadamente vivem entre o Céu e a Terra.
Enquanto Castor era considerado um exímio domador de cavalos, Polux celebrizou-se como bom lutador. Na maior parte das histórias consta que estas duas divindades viviam metade do tempo na Terra e outra metade no Céu, denotando bem a ambivalência com que foi tratada a essência destes dois irmãos que são considerados gémeos.
Esta situação pendular ou ambivalente de viagens simbólicas entre a Terra e suas entranhas é, aliás, comum a outras divindades, a exemplo Proserpina, divindade "lunar" do mundo subterrâneo,"horrível pelos seus uivos nocturnos", pois esta divindade, filha de Zeus com Demetra foi raptada por Hades o deus dos mortos que fez dela a sua esposa. No entanto, ela vive parte do ano nesse mundo das "entranhas da Terra" e outra parte à luz do Sol.

Regressando aos Gémeos Castor e Pólux , relembro que a morte de Castor se deveu a um confronto com uma outra dupla de gémeos, Idas e Linceu, seus primos, a quem tentaram roubar as noivas.

Por seu lado, a dupla gemelar Rómulo e Remo simboliza, de algum modo, os gémeos em oposição. Rómulo e Remo são filhos de uma união ilícita entre Reia Sílvia e o deus Marte, que a seduziu. Por ter tido esta relação foi castigada por seu tio, o rei Amúlio, que se tinha apoderado do poder, aprisinonando o seu próprio irmão. Isto porque, tendo em vista afastar a eventualidade de ela ter algum descendente ao trono, o seu tio Amúlio havia obrigado Reia Sílvia, que era filha do legítimo rei e herdeiro do trono, o seu irmão Numitor, a consagrar-se ao culto de Vesta que exigia a castidade e, por isso mesmo, inibia a maternidade. Por ter faltado ao voto de castidade foi condenada à morte e os dois gémeos foram expostos num cesto de vime junto ao rio Tibre. As águas revoltas do rio contribuiram para que o berço tivesse sido levado para o sopé de uma das colinas da futura Roma, onde uma loba os descobriu e alimentou com o leite dos seus seios. Mais tarde, um pastor, Fáustulo, e a esposa Aca Larência, criaram-nas e instruíram-nos.
Chegados à idade adulta, Rómulo e Remo, dedicaram-se à pilhagem e roubaram algumas cabeças de gado do próprio rei Amúlio. Remo foi preso e Rómulo, em sua defesa, acabou por matar o rei usurpador, e repôs no trono o seu avô Numitor.

A dificuldade fundacional e simbólica da cidade de Roma deve-se também ao facto de os dois irmãos serem gémeos que decidem dar à interpretação dos auspícios diferentes significados, tendo entrado em disputa a propósito da localização e das condições da fundação da futura Roma. Deste modo, Rómulo escolheu o Palatino e Remo escolheu o Aventino e ambos foram proclamados reis ao mesmo tempo, tendo originado o conflito que acabou por conduzir à morte de Remo e à subida ao poder de Rómulo.
Segundo uma das lendas da fundação de Roma, Rómulo influenciado pelos oráculos acabou por traçar com a charrua um sulco que delimitava o recinto da futura Roma, proibindo Remo de o transpor. Porque Remo não escutou a advertência de Rómulo, acabou por sucumbir às mãos do próprio irmão, que ficou senhor único de todo o território.
Pese o assassínio do seu irmão Remo, Rómulo acabou por ser divinizado com o nome de Quirino, tendo sido ficado eternamente ligado à fundação de Roma.
Por vezes são representados um com a cabeça de touro, também ele uma força genésica e primordial, e outro com a cabeça de escorpião.
Simbolicamente o significado desses dois gémeos é o mesmo: o branco e o negro; a luz e a escuridão, o dia e a noite.
Mas existem muitas outras refências a gémeos em diversas religões antigas.
Na Bíblia, logo no Génesis, encontramos dois Gémeos: Tamar, nora de Judá, engravida do sogro, tendo-se disfarçado de meretriz. Quando estava a dar à luz, uma das crianças estendeu a mão para fora e a parteira coloca-lhe um fio escarlate, dizendo: é o primeiro. Mas a criança recolhe a mão e o irmão acaba por nascer primeiro; este foi chamado Farés, tendo o segundo o nome de Zara (Génisis, 38, 28).
Segundo uma interpretação simbólica desta referência bíblica, as crianças simbolizam o Sol e a Lua, que sai e volta a entrar para deixar passar o Sol em primeiro lugar.
No signo do Zodíaco, representado genericamente por duas crianças de mãos dadas (se bem que haja zoodíacos que representem um homem e uma mulher ou dois amantes), os Gémeos são símbolo geral da dualidade ne semelhança e até na identidade e a imagem de todas as oposições interiores e exteriores, contrárias ou complementares, que se resolvem numa tensão criadora. E não é por acaso que a fase dos Gémeos se completa desembocando na eclosão do Verão. E também por isso mesmo que Gémeos seja o signo da diversidade, da comunicação e do movimento constante, caracterizando-se por uma grande compreensão da vida, enorme capacidade para a integração, necessidade de relativização e de uma constante conceptualização da vida e das coisas.
Mercúrio, o planeta regente de Gémeos, é o vizinho mais próximo do Sol, e o planeta mais rápido. Por isso a sua associação à divindade mitológica com o mesmo nome, deus dotado de asas nos pés, mensageiro do Olimpo que «voava tão célere como o pensamento», deus astuto e arguto e protector dos comerciantes e dos ladrões.
Mas Mercúrio é também o metal líquido que representa na tradição hermética ou alquímica o princípio e o fim da Obra, o Mercúrio que tudo contém antes da separação dos seus compostos.
A carta do Tarot correspondente aos Gémeos, a carta 6, é «o Amoroso» ou «Enamorado». Nessa carta é representado um homem entre duas mulheres encimado pelo deus Eros ou Cupido com uma flecha. O significado geral dessa carta é a ideia de encruzilhada, que inclui tensão, hesitações e ambivalência. As duas figuras femininas apontam para a necessidade de uma escolha entre a virtude e o vício, o bem e o mal, o passado e o futuro.

sábado, novembro 20

Bom Sábado




Até que se aquietem plantas e animais, por outro lugar me quedarei ....
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quinta-feira, novembro 18

Mar e mar ...




domingo, novembro 14

Cesário Verde ...

 
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terça-feira, novembro 9

O tempo, esse grande escultor


É sempre aparente o Tempo: os minutos não têm o mesmo espaço nem o mesmo compasso, quanto mais os dias e os meses.
Há Tempo que separa e Tempo que une. Tempo que faz esquecer e Tempo que faz lembrar.
Tempo de sofrer e Tempo de sorrir.

E, aparentemente, tudo fica igual no espaço em nosso redor...
Mas não, Tempo e Espaço dão as mãos quando estamos a sonhar.

Agora para mim é Tempo de sossegar.
Porque o Mundo vai mudar e vou apenas ouvir a sua rotação.

E se algum dia encontrassem esta palavra aposta ao que escrevem ou imposta ao que dizem, sentem ou fazem?


Como reagiriam?
Vale a pena reflectir no que de censura ainda nos bate à porta, tanto a ainda possa residir dentro de nós próprios ou a que nos querem fazer sentir, sob forma de pressão, porque nem sempre dizemos ou fazemos o que a alguns convém!
Ou porque não contamos só a "verdade" que queriam ouvir.
É este o meu repto.
E pensar que, com censura ou sem ela,
«A mente que se abre a uma ideia nova jamais volta ao tamanho original», Albert Einstein
e, face a isso, nenhuma clausura conseguirá o que quer ...
só a que impomos a nós próprios!

Mas que somos censurados muitas vezes, é um facto ...

Viver ....

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Vacilo se ajo como Genghi, na história de Yourcenar, em «Contos Orientais» que, desde os cinquenta anos se prepara para morrer, afastando-me de tudo que não seja a arqueologia das memórias que há que organizar;


ou se faço como a águia que se renova após os 50 anos, permitindo que as novas penas substituam as velhas e que o bico se rejuvenesça ....


Afinal o morrer e o resnascer são simplesmente a mesma coisa!

 
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segunda-feira, novembro 8

Vigílias

mesmo em dias em que a cor cinza parece tudo cobrir
há o longe, e sempre, um outro lugar para desvendar


 



...
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a luminosidade é uma placa de zinco suspensa
do céu do deserto

em redor
a imensidão das areias vibra contra o caos
de pedra e de eufóbios que se multiplicam
a perder de vista

o bafo inquieto dos cavalos acende
a pólvora das festas inesperadas

uma coruja morre
no cimo açucarado da tamareira

caminhas
sitiada pelo canto agudo do muezin
chamando à oração

mektoub

sítios onde a vida cessou e tudo está escrito
há séculos - onde o coração dos homens
é uma rosa nómada e calcária

no limite da escassa água e desta terra seca
mal abençoada - caminhas
na pla noite das ardósias
nas jeiras de súplicas e recolhimento onde
talvez se esconda
o contorno quase terno do rosto de deus


Al Berto, Vigílias

sábado, novembro 6

Bom Sábado!

sexta-feira, novembro 5

Há coisas e coisas ....


Como há quem se despeça tão facilmente dos seus objectos de estimação?
Durante três anos o meu fantástico telemóvel para todo o lado me acompanhou.
Faz fotografias melhores do que muitas máquinas ... verdade se diga que estas "Cyber shot" têm uma lentes extraordinárias.
Mas três anos feitos deste fantástico presente de Natal, a memória começou a "entrar em disfunção" .... e não tive outro remédio que outro comprar, porque senão quem ia entrar era eu: pura e simplesmente amuou e deixou de cumprir dotas as indicações.

Mas, nem penses vaidoso telemóvel novo e táctil que, lá porque tens um belo GPS (sempre bom para entreter uma filha quando se vai de viagem, é um facto ...), que vou abandonar o outro como a máquina das minhas fotografias.

Isso nem pensar, tanto mais que foste sempre o grande companheiro deste blogue!!!

 
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Este mês das "bruxinhas", elas resolverem avariar vários dos meus objectos de estimação ....
Vejam lá, sosseguem depressa essas vassouras, senão com elas ainda vos vou ter que dar!!!

De Eva a Roma: O Papel das Divindades femininas em Roma . Para a Cidade das Mulheres (reeditado de 19.04.08)

Cris, no dia dos teus anos quero dedicar à tua Cidade das Mulheres um texto sobre o papel das mulheres e das sacerdotisas na difusão da ideologia imperial romana e antes dela na República que a precedeu.
Para ti e todas as mulheres da minha vida.


Eva só conheço três: a do “Paraíso Perdido” e do “Pecado Original” ; uma Eva Bruno de que tanto gosto e uma Eva Cantarella que se dedica ao estudo da Mulher Romana.

Talvez por esta última ser também Eva, e talvez por eu tango gostar da Civilização romana, resolvi não me centrar exclusivamente na Eva do Éden e do Génesis, e pensar também um pouco na mitologia do que genericamente se designa como “Antiguidade Clássica”. No universo feminino e sua representação, segundo o que nos é dado conhecer pelos escritos que dessa época existem.
Na Grécia Antiga, racionalizada, apenas duas mulheres, Circe e Medeia, têm poderes mágicos ou sobrenaturais que espelham, de algum modo, a memória de um mundo ancestral e arcaico, onde o Homem era ainda dominado por medos do desconhecido (quem sabe se a Eva das Sagradas Escrituras não seria também uma "maga" dotada de conhecimentos sobre a árvore do “bem” e do “mal” e sobre as poções que dela poderia extrair, de que a maçã é apenas a metáfora ...).

As narrativas mitológicas centradas em mulheres (como nos homens aliás) são, portanto, veículos de interpretação de um universo que se pretende descritível, narrável e, deste modo, enquadrados numa “religião racional”.

Entre os Titãs, ou “deuses primitivos” encontra-se Mnemosine, que significa “Memória”. Mnemosine era filha de Geia (que personifica a terra em formação, gerada do nada, mãe e esposa de Úrano, com o qual constitui o primeiro casal divino) e mãe das nove Musas. Entre os “deuses supremos” do Olimpo temos a possessiva e ardilosa Hera, a poderosa Atena, a caprichosa Afrodite, a protectora Artemisa e a discreta Héstia. Estas personagens femininas, ao contrário da Eva bíblica, desempenham um papel fundamental na trama que se constrói entre as entidades divinas e entre estas e os Humanos.
No entanto, podemos rembrar tantas outras que desempenharam um papel cruxial na mitologia e na própria literatura, A tradição clássica consagrou para a posteridade uma extensa galeria de figuras femininas. Notáveis pela auréola mítica (...),essas mulheres tiveram seus nomes transformados em símbolos, em estereótipos
dos quais a arte, nas suas diversas formas de expressão, em todos os tempos
posteriores, apropriou-se, tornando-os patrimônio comum da humanidade", referindo, a título de exemplo, Afrodite, Andrômaca, esposa de Heitor, Andrômeda, Antígona, Ariadne, Ártemis, Atenas, Aurora; as Bacantes; as Camenas, Calíope, Calipso, Cibele, Cíntia,Circe, Clio, Dafne, Deméter, Dido, a épica e trágica personagem que Virgílio imortalizou na Eneida , a amante apaixonada de Eneias que vítima da urdidura de Vénus e Juno, divindades cujo ciúme e vaidade tecem o enredo da sua paixão, Diana; Electra, Eurídice, Europa; Fedra, as Fúrias, Górgona; Harmonia, as Harpias, Helena, Hera; Ifigênia, Io; Jocasta, Juno; Leda, Medeia, Medusa,Melpômene, as Mênades, Minerva, Moira, as Musas; as Nereidas, as Ninfas; as Parcas, Partênope, Pasífae, Penélope, Perséfone, Pirra, Políxena,Prosérpina; Quimera. Adap. a partir de REPRESENTAÇÕES DA MULHER NA POESIA LATINA, Aécio Flávio de Carvalho* http://www.olhodagua.ibilce.unesp.br).

O estatuto de Eva é, contudo, mais ambíguo, pois a sua persongem não tem contornos definidos na narrativa bíblica. Nascida (como, aliás, algumas divindades da mitologia greco-romana) do corpo de um homem que, apesar de ter podido presenciar o divino antes do “Pecado Original”, não o é, Eva é apenas a “Mulher”. Sendo num primeiro momento agente  é ela que provoca com a sua curiosidade o “Pecado Original” e rapidamente se transforma num ser cuja função exclusiva é procriar, sendo que essa função é ela própria um estigma, pois um dos castigos que lhe é infringido é “a dor da gravidez”. Torna-se também num mero objecto da dominação masculina, pois o anátema que sobre ela caiu foi proferido pela voz divina, que lhe é alheia e superior: “terás desejo ardente de teu esposo, e ele te dominará”.

Ao contrário, na mitologia greco-romana as divindades femininas são bem mais afirmativas, agentes ou adjuvantes em todo o enredo das(es)/histórias que se geram em seu torno: Hera, filha dos Titãs Oceano e Tétis, é o centro de uma trama onde o ciúme e a vingança obtida com uma ira implacável chegam a perturbar o próprio “deus dos deuses”.
No entanto, pese embora a sua personalidade, ou por isso mesmo, ela é também a protectora das casadas ou das parturientes, tendo gerado Ilitia, que acabará por zelar por estas últimas.
Atena, a virgem, que não foi gerada por uma mulher, porque brotou da cabeça de Zeus, é também feroz. Protectora da agricultura e das actividades artesanais, esta deusa tudo fará, contudo, para salvar a “Cidade”, mesmo que seja através da guerra. A deusa do Amor e da Beleza  Afrodite  é, por sua vez, capaz de todos seduzir, deuses ou mortais.
Estas divindades, embora todas filhas, irmãs ou amantes de Zeus, desempenham, não obstante, papéis diferenciados, autónomos, interferindo em quase todos os aspectos da vida, tal como acontece com as “deusas menores”. Apesar dessa filiação/irmandade mimetizar, de certa forma, a situação bíblica, pois também Eva nasce da costela de Adão e dele se tornar concubina, não haver ter qualquer equivalência no que diz respeito ao protagonimo assumido pelas personagens.

De salientar, contudo, que o papel desempenhado pelos seres femininos na mitologia grega se contrapõe, de algum modo, à condição a que é remetida efectivamente a mulher. Já em Roma, que adoptou e adaptou os deuses gregos, a situação da mulher não tem um aspecto tão intimista. Embora submetidas ao poder patriarcal (do omnipotente paterfamilias ou seu sucedâneo - o marido ou o sogro de que poderia tornar-se “filha” através do matrimónio - , as mulheres romanas assumem um desempenho que poderemos considerar mais extrovertido, mais visível ou mesmo extravagante, como acontecia com algumas, normalmente priveligiadas.

As mulheres romanas quer as divinas, quer as humanas, participam, portanto, de uma sorte onde se envolvem, desde um primeiro momento, os dois sexos, na igualdade possível...

Eva, essa, participará apenas do devir solitário a que quiseram condenar, no mundo judaico-cristão, até praticamente os nossos dias, a Mulher





















Vénus é a "mãe" de uma linhagem, que, por via feminina, justifica o poder divinizado de Augusto.
Será, doravante, a deusa Venus Genitrix que , com Marte Ultor, acompanhará o poder imperial, proclamando a sua imortalidade.
E a Lívia, esposa de Augusto, associaram-se Juno, Vénus, Ceres, Vesta ou a divindade de origem frígia Cibeles.

E as sacerdotizas nada mais fazem, após a aceitação do poder divino do imperador/imperatriz, do que sedimentar a ideologia centralizada, de quem são defensoras e garantes.

Mas antes desse poder, o do Império nascente e pujante, já as mulheres tinham, em Roma, entre as divindades, o seu pleno lugar.

Em Roma, cada homem tinha o seu Génio e cada mulher a sua Juno.
Os prórios imperadores e os deuses tinham o seu Génio, acompanhantes da sorte e do infortúnio.

Em casa, onde imperava o Pater Familias, pontuavam os Lares e os Penates, enquanto as mulheres seguravam arduamente as chaves das portas que, com libações, libertavam do que fosse negativo ou intrusivamente mau.

De algum modo,´essa realção no interior da casa permite que «A noção romana da integridade moral da mulher desenvolveu-se em função da noção da propriedade pessoal, e a castidade feminina (implícita na virtude matronal) tornou-se parte integrante da posse de um bem fisíco; a expropriação passiva ou activa do próprio corpo era, como toda a expropriação, idêntica, portanto, à decadência moral e material, à humilhação irremediável ...» (Klossowsky), acabando por viabilizar a centralização do poder, que, aparentemente disseminado/descentralizado nos nossos dias, acaba, por ainda replicar a herança da Roma primordial.

(Na Igreja e no Estado discute-se ainda se será possível existir um estar e um poder e que não passe pela apropriação de bens, de ideias e de pessoas nos moldes que Roma criou: punitiva para quem acredite que é possível estar de outra forma).

Nas virtudes particulares espelha-se também o lugar que o Universo Feminino consegue ter entre as divindades romanas, em virtudes como Pax, Fides, Victoria, Libertas, Virtus, Pietas., que se constituem garantes de um mundo sedimentado em valores em que o religioso nunca se separa da guerra, do poder, ou do amor.

E Fortuna, a quem foram dedicados vários templos e altares, adorada sob vários epítetos, não deixará de ser a deusa da felicidade, do acaso feliz.

E ainda há, entre os deuses maiores, a cruel, rancorosa e ciumenta Hera de que acima já falámos, esposa de Zeus, curiosamente a única divindade casada do Olimpo com esse Deus pai dos deuses, mas sempre infiel. Como não o consegue enfrentar, vinga-se nos filhos que Zeus teve das mortais Io e Europa. Apesar dos atributos reais, o ceptro e o diadema e a cabeça coberta de véus, símbolo do casamento, Hera nunca foi mais do que a esposa de Zeus, não se tendo constituído nunca como "rainha dos deuses e dos homens".

Transmutando-se e transmutando os outros, Hera será também a matriz do pensamento feminino ocidental, pois como nunca conseguiu derrotar o pai dos deuses, acabará por exercer noutras mulheres, noutras entidades divinas, a sua perfídia e a sua vingança.

Ou então falar dessa divindade Prosérpina, como Claudiano a descreve:

«Prosérpina, por seu lado, encantado a casa com doce cantar, tecia, em vão, um presente para o regresso da sua mãe. Neste pano lavrava com a agulha a série dos elementos e o trono paterno, bordava com que regra a mãe natureza ordenou a antiga confusão e como os elementos e como os elementos se dispuseram nos lugares próprios: o que é leve para o alto é conduzido, no meio caem as coisas mais pesadas, tornou-se o ar incandescente, o fogo ergueu-se para o céu, ondeou o mar, ficou suspensa a Terra. E não havia apenas uma cor: com ouro iluminou as estrelas, derramou as águas com púrpura. Com pedras reciosas ergue um litoral, fios em relevo dão engenhosamente forma a fingidas ondas (...)
Acrescentou três regiões: com um fio escarlate assinalou a zona pelo calor atingida (...) De ambos os lados desta colocou as duas regiões habitáveis (...) Ao alto e ao fundo colocou as duas zonas entorpecidas (...)
Representa também o santuário de Dite, seu tio, e os Manes para si fatais. Não faltou o presságio: de facto, como que adivinhando o futuro, molharam-se-lhe as faces com um súbito pranto».

O Rapto de Prosérpina, Claudiano

Vale a pena ler : «La religiosidad de las Sacerdotisas de la Betica», in Congresso Peninsular de Historia Antiga, 1993, Faculdade de Letras de Coimbra.
Origens Cultuais e Míticas de um Certo Comportamento Romano, Pierre Klossowsky

(Falando nisso Cris, estou ainda em falta com o prometido texto da Salomé pedindo a cabeça de S. João).

Sei que voltarei,de novo, a Roma.

quarta-feira, novembro 3

Hei-de voltar às Mulheres em Roma

No Amor, Mil Almas, Mil Maneiras Diferentes

Nem todas as mulheres experimentam os mesmos sentimentos. Encontrareis mil almas com mil maneiras diferentes. Para as conquistar, empregai mil maneiras. A mesma terra não produz todas as coisas: tal convém à vinha, tal à oliveira; aqui despontarão cereais em abundância. Há nos corações tantos caracteres diferentes, quantos rostos há no mundo. O homem prudente acomodar-se-á a estes inumeráveis caracteres; novo Proteu, tão depressa se diluirá em ondas fluidas para logo ser um leão, uma árvore, um javali de eriçadas cerdas. Os peixes apanham-se aqui com o arpão, ali com o anzol, acolá com as redes puxadas pela corda estendida. E o mesmo método não convirá a todas as idades: uma corça velha descobrirá a armadilha de mais longe; se te mostrares experiente junto de uma noviça, demasiado petulante junto de uma recatada, ela desconfiará que a vais tornar infeliz. Assim é que a mulher que às vezes teme entregar-se a um homem honesto, caiu vergonhosamente nos braços de alguém que a não merece.

Ovídio, in "A Arte de Amar"




Ver também:

http://www.wook.pt/ficha/a-vida-quotidiana-da-mulher-na-roma-antiga/a/id/168283


Sim, hei-de regressar um dia à Mulher em Roma, mas por hoje fica aqui apenas, para começar a semana, um texto que ofereci à «Cidade das Mulheres» e que me fez relembrar que tenho que lá voltar.


Roma é uma sociedade ancestralmente uma sociedade patriarcal. À cabeça de cada grupo estava um pater familias que exercia o seu poder até à morte, podendo decidir da vida ou morte dos seus filhos.
Pelo casamento, a mulher passava a depender da família do marido, ficando submetida a um poder familiar semelhante ao que tinha em casa antes do matrimónio, pois o esposo podia também decidir da sua vida.
No entanto, em Roma as mulheres ocupavam uma posição de maior destaque do que acontecia na Grécia Antiga.
Quando casada, era, de facto "dona da casa", não sendo reclusa nos aposentos das mulheres, Geniceu, como acontecia na Grécia Antiga. Tomava conta dos escravos e participando das refeições com o marido, como se pode verificar no Banquete, saía (usando a stola matronalis)e participava nos espectáculos públicos, sendo por isso criticada por Juvenal e pelo cristão Tertuliano, e tinha acesso aos tribunais.
Por casamento — justum matrimonium —, sancionado pela lei e pela religião, processava-se a transferência da mulher do controle (potestas) do pai para o de seu marido (manus).
O casamento tomava assim a forma de coemptio, "uma modalidade simbólica de compra com o consentimento da noiva. Ele também podia consumar-se mediante o usus, se a mulher vivesse com o marido durante um ano sem ausentar-se por mais de três noites" (http://marius.blogs.sapo.pt/arquivo/952564.html).
Com o crescimento de Roma, a mulher foi gradualmente adquirindo autonomia, podendo inclusivamente participar da herança dos bens paternos, sendo sabido que, a partir do século II a.C., é notório um processo de emancipação.
Foram-se abandonando gradualmente as formas mais antigas de casamento e adoptou-se uma na qual a mulher permanecia sob a tutela de seu pai, e retinha na prática o direito à gestão de seus bens, havendo muitas mulheres ricas, disfrutando do seu património e dedicando-se aos negócios.
O divórcio era aceite na sociedade romana e o casamento chegou a ser até impopular na Época Imperial, sendo estas as palavras de Cecílio Metelo "Se pudéssemos passar sem uma esposa, romanos, todos evitaríamos os inconvenientes, mas como a natureza dispôs que não podemos viver confortavelmente sem ela, devemos ter em vista nosso bem-estar permanente e não o prazer de um momento" (Suetônio, Vida dos Doze Césares, "Augusto", 89).
Muitas das alterações sentidas na sociedade romana devem-se à sucessivas guerras e aos longos períodos de ausência dos maridos, fruto do expansionismo romano, que permitiu a ascensão do papel da mulher.
No entanto, os recenseamentos omitem as mulheres, sendo apenas contabilizadas as herdeiras.
Se bem que a generalidade das meninas romanas recebesse apenas uma instrução básica, pois a sua função primordial era prepararem-se para ser esposas e mães, houve muitos exemplos de mulheres que exerceram influentes profissões e que dirigiram negócios lucrativos. Há também inúmeros exemplos de mulheres versadas em Literatura.
Até determinada altura, a toga era o elemento básico do vestuário, quer feminino, quer masculino.
No entanto, ele foi-se sofisticando e, já durante a República, só os jovens e as cortesãs usam toga. As matronas utilizavam sobre a stola (túnica ou vestido comprido) a palla (grande mantilha pregueada que, ao contrário da toga, cobria os dois ombros).
As mulheres de condição mais elevada usavam tecidos ricos bordados e importados das várias partes do império.
O rosto era embelezado e os cabelos tratados e penteados de diferentes formas, também dependendo das épocas e respectivas modas, se bem que em público tivessem o costume de cobrir a cabeça.
A mulher romana usava diversos tipos de enfeites no cabelo e utilizava jóias, como brincos e pulseiras de pedras preciosas, colares ou gargantilhas.

Recomendo a consulta de: http://marius.blogs.sapo.pt/arquivo/952564.html
e de http://www.hottopos.com/notand12/ale.htm


Fig. 1 - Escultura de Agripina, proveniente da Villa Romana de Milreu pertencente ao acervo do Museu de Faro.

Eu Não, Samuel Beckett


tentar noutro lado ... abocanhar noutro lado ... e a prece sem parar ... a prece num lado qualquer ... para tudo terminar ... e nenhuma resposta ... ou não ouvida ... muito fraca ... por ali fora ... não desistir ... continuar a tentar ... sem saber o que é ... o que ela tenta ... o que é que ela tenta ... o que é que precisa de tentar ... todo o corpo como que a ir-se ... apenas a boca ... como louca ... por ali fora (...)

tudo isto ... não desistir ... sem saber o que é ... (...)

... o que é que ela tenta ... o que é preciso tentar ... seja o que fôr ... não desistir (...)


Instalação: Charles Sandinson, em exposição «A consistência dos sonhos»

terça-feira, novembro 2

Alentejo, era uma vez um lugar (reeditado)



Não sei se é deste Alentejo de que vou ouvir falar no próximo fim de semana, porque o Sado lhe alaga as margens, fazendo adocicar as memórias, pois as terras ribeirinhas ou as palustres são férteis na produção mas não na recordação ...

Com elas se coadunam melhor os campos de sequeiro, as poucas sombras onde se abrigam contos e se escondem alegorias.

No entanto, esse Alentejo está ainda presente, como um pano de fundo, nos lugares que vou visitar.
Porque há viagens que, depois de empreendidas, não têm retorno, e nunca se dão por terminadas!

Há apenas que dar aos caminhos que vamos percorrer uma força redobrada pelo que entretanto fomos capazes de aprender. E iniciar nova peregrinação!

Ciente que o que perdura, o que vale, um dia se reencontrará.
E o que tem que morrer, morrerá.
















A ti, o homem deste Luar, de novo.

CONTO DE INVERNO (Porque o Outono está no ar)

Era uma vez um lugar. Cheio de sol de espaço, onde semeadas houve, em tempos, searas trigueiras. Isto nas planuras, porque esse espaço era tão, tão grande que nele também havia lugares cheios de esteva, infestando hectares e hectares, e outros, onde o montado teimava em sobreviver, abrigando as "zorras" quando anoitece, e onde escavam tocas os coelhos bravios, e sobrevoam as sobranceiras águias ao alvorecer.



Só que uma vez, nesse lugar habitualmente raiado de um Sol que quase tudo queima, o céu resolveu esconder-se e, durante dias e dias a fio, molhar searas, estevas, montados e arrozais, uniformizando tudo com uma luz cinzenta no céu e tudo tapando com uma lamacenta superfície na terra.
Os tímidos ribeiros transformaram-se, de repente, em tumultosos rios e os açudes e barragens, usualmente brandos, espumaram uma água torrencial que arrastou para as suas margens barrentas tudo o que nas águas havia a boiar.

E, de repente, o frio foi tanto tanto que até, em alguns locais, a chuva se transformou em neve e cobriu o resto dos campos e os lugares sagrados.


Esse lugar, habitado por um povo de tez morena, onde se cruzavam mouros e ciganos, estranhou tais fenómenos da natureza, pensando mesmo que, desta feita, os deuses os haviam definitivamente abandonado.
Os poucos habitantes que já o ocupavam chegaram mesmo a julgar que era um convite dos céus ao abandono definitivo do seu lugar.
Só alguns deles teimaram em ficar.


Entre eles, um, provavelmente de remota origem cigana, notória, quer na tez, quer na altivez do porte e das atitudes, resolveu empreender uma viagem, porque era a única forma de um dia poder voltar.
Esse habitante sabia que, para apaziguar os deuses, havia que visitar os lugares sagrados que, antes dele, as divindades haviam semeado nos inacessíveis sítios do seu território. E, tal nómada de sangue, decidiu percorrer esses sítios, enfrentando chuvas e torrentes.

Um a um, visitou-os. E em cada um deles homenageou a divindade, quer fosse uma força anímica, as forças que protegiam os mortos num abrigo rupestre, o orago de uma anta outrora cristianizada, Vénus e Marte num templo romano qualquer, ou numa ermida dedicada a S. Torpes, na Senhora da Boa Nova ou às águas da antiga represa Romana que em Cuba se pode encontrar.




Contudo, o tal habitante de origem cigana não foi só. Ele sabia bem que para apaziguar a natureza e as divindades precisava da companhia de uma mulher.
Poderia ter escolhido uma da sua raça. Teria sido quase natural fazê-lo. Mas não. Levou consigo alguém que o ajudasse a descobrir outros tantos sítios sagrados que para ele eram desconhecidos. Porque, face a tanta calamidade, a viagem tinha que ser longa e muito prolongada.
Atravessaram caminhos e estradas, algumas vezes quase foram levados pelas enchentes. Espreitaram amontoados de pedras, onde abrigados haviam dormido deuses e descansado homens. Em alguns deles jaziam mesmo mortos milenares.Viram casas onde o abandono dava lugar às almas penadas.


E espreitaram também santuários muito antigos e outros mais recentes dentro dos quais ainda suavam velas que os orantes haviam deixado ficar.



Viram castelos encantados ou talvez de encantar. Alguns falavam de grandes tranças femininas a aguardar o resgate, prisioneiras que o tempo transformou em deusas solitárias ou moiras enfeitiçadas que, de noite, escondiam tesouros e segredavam murmúrios.

Chegaram mesmo a visitar o mar também revolto. E aí vergaram-se perante forças tão antigas como a terra.
E em todos os sítios deixaram oferendas. Em todos eles oraram de acordo com o que um sabia e cria, pedindo que o Céu voltasse a sossegar.




E um dia, depois desse longo, muito longo, périplo, o Sol voltou a raiar forte e cheio de luz.

O homem e a mulher cantaram e dançaram juntos em honra dele e ficaram acordados um dia inteiro, até o verem, de novo, nascer.
Depois despediram-se. Porque a viagem tinha que terminar. Dela ficou o Sol e este conto que é a melhor forma de sonhar.



Cientes que, um dia, o périplo poderia recomeçar, pois novas fúrias divinas haveria que apaziguar.
Desde aí estão o homem e a mulher distantes: cada um partiu para seu lugar, mas sempre juntos pelas palavras que juraram um dia de que se voltariam a encontrar, logo que houvesse necessidade de nova viagem empreender.



Fotografias

Cromeleque dos Almendres: António Carlos Silva

Gruta do Escoural e Castelo de Belver: Manuel Ribeiro