sábado, maio 31

Procurando Cagliari - A arquitectura dos afectos



















Amanha falarei da arquitectura dos afectos. Como diria a a Cris, «as nossas arquitecturas afectivas no território social».
Ao Antonio Angelillo que tanto dela me tem ensinado, tantos mundos corridos, mas ainda, sempre, palavras para dizer.

E a ti, também, com tantos lugares para ainda inventar.



sexta-feira, maio 30

Em Roma é-se Romano


Cagliari, Sardenha à vista























A Universidade de Cagliari e a Região da Sardenha vão organizar, a partir de 29 de Maio, um encontro de Arquitectura, o FEST'ARCH 2008, dedicado, este ano, aos projectos turísticos com sustentabilidade que se baseiem numa melhor articulação com os recursos regionais, designadamente os Culturais.


Até lá A.A..
Per quattro giorni Cagliari e la Sardegna
diventano l'epicentro dell'architettura internazionale La Sardegna e Cagliari, luoghi di trasformazione e in trasformazione, nodi essi stessi del cambiamento, si offrono come scenario ideale per lo svolgimento di una manifestazione che non vuol essere solo una parata di opinioni già formate, ma al contrario: laboratorio, officina, fucina di proposte, tensioni verso il futuro o agganci al passato recente o ancestrale.
In questo senso, è tutt’altro che casuale che il luogo centrale del Festival sia la Manifattura Tabacchi, archeologia industriale urbana e luogo simbolo di un punto di vista attivo e “produttivo” verso la cultura, laboratorio ideale per la “Fabbrica della Creatività”. info@festarch.it © Festarch - Primo festival di architettura in Sardegna
Para conhecer: «Cagliari (antigamente chamada de Karalis) era habitada por tribos sardas. Mais tarde os Fenícios colonizaram a Sardenha e no século V a.C. passou aos Cartagineses, e nesse período a cidade teve um rápido desenvolvimento. No ano de 238 a.C. Cagliari passou aos Romanos (junto com o resto da Sardenha e da Córsega). Em meados do século V d.C. foi ocupada por Vândalos e mais tarde foi conquistada por Justiniano». in Wikipedia

Esta Lisboa que eu amo





Que bem que se pode trabalhar no Hotel Palace!

quinta-feira, maio 29

Cicuta doce

Vieste servir-me cicuta doce na hora do adeus
fiquei com um copo de cristal na mão,
mas não, não a traguei
olhei-a distante e pensei
vou servir-ta de volta
gota a gota, tempo infinito,
até que sintas como é amargo
não ter um lugar qualquer
até que com essa dor aprendas a viver

Quem sabe um dia a brisa do mar me venhas trazer,
num outro instante de Alento, de Eterno
mas sem veneno no paladar
sem medo da morte, sem vergonha do vento.





A escrita é a minha primeira morada de silêncio
a segunda irrompe do corpo movendo-se por trás das palavras
extensas praias vazias onde o mar nunca chegou
deserto onde os dedos murmuram o último crime
escrever-te continuamente... areia e mais areia
construindo no sangue altíssimas paredes de nada

esta paixão pelos objectos que guardaste
esta pele-memória exalando não sei que desastre
a língua de limos

espalhávamos sementes de cicuta pelo nevoeiro dos sonhos
as manhãs chegavam como um gemido estelar
e eu perseguia teu rasto de esperma à beira-mar
outros corpos de salsugem atravessam o silêncio
desta morada erguida na precária saliva do crepúsculo


Al Berto, O Medo
Lisboa, Assírio & Alvim, 1997

quarta-feira, maio 28

o valor do trabalho




















pensar as pedras que falam ...
ouvir os segredos, como se fossem búzios do mar
arrancar à terra o que ela consegue contar
arquitectando tantos outros lugares
À Bettips.

Tanto rio, tanto mar




















Da minha janela espreita-se o lugar, o abrigo
onde os rugidos do mar vão embater

Filmes à Letra

publicado a partir de: bgrip

«Em Maio de 2005, o GRIP realizou a sua primeira iniciativa pública, com um ciclo de cinema. Passados três anos, vai assinalar este aniversário com o Filmes à Letra - um ciclo dedicado a todas as letras do 'LGBT'. Quatro fins-de-semana, oito filmes, e conversa q.b. vão ser a nossa maneira de comemorar a riqueza e diversidade destas comunidades, que, diferentes entre si, se vão reunir no mesmo espaço

Programa:

30 de Maio: Boys Don't Cry

31 de Maio: Ma Vie en Rose - conversa com Nuno Carneiro e elementos do GRIT

6 de Junho: Gia

7 de Junho: Kinsey - conversa com Isabel Menezes

20 de Junho: Imagine Me and You

21 de Junho: Producing Adults - conversa com Maria João Silva

4 de Julho: The Bubble

5 de Julho: Wedding Wars - conversa com Gabriela Moita

O Filmes à Letra apoia o Congresso Feminista 2008 – a decorrer entre 26 a 28 de Julho, na Fundação Calouste Gulbenkian e na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.

Parceria: UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta)».

publicado a partir de: bgrip

Ver ainda:
http://teatrotictac.blogspot.com
geral@congressofeminista2008.org

O meu amigo João mais do que tudo (II) reeditado. Não se bate à porta dos outros se não fôr para a verdade falar.

A última coisa que me ocorreria é tornar este blogue num espaço de confidencialidades e muito menos confessional.

Mas, como, por vezes, todos nós acabamos por ser emocionais no que escrevemos, e assumindo tudo o que narrar sei, pois, reitero, pela enésima vez, acredito que a palavra é ainda a única coisa que nos sobrevive e que nos salva, e que quem tem gestos completamente discrepantes do que diz, ou está num processo de fissuração pessoal muito intensa e grave, ou é de uma perfídia profunda e assutadora que merece ser confrontado, mesmo denunciado, não poderei deixar de dedicar umas palavras mais ao meu amigo João, mais que Tudo, até tendo em mente que, do que anteriormente escrevi, obtive reacção.

Escrito, efectivamente, a pensar num tipo de situações que cada vez mais se vai tornando vulgar que é o total esbatimento da palavra enquanto efectivo lugar de comunicação (tão esquecida está a expressão "Um homem de palavra"), porque a mentira e o autismo vai impregnando muitas almas, ocupando o espaço que deveria pertencer à criação, não pretendeu o meu texto ser senão um depoimento sobre uma situação conhecida sobre a qual, até por me ser mais intimamente ligada, através de pessoas a quem há tanto tempo prezo e estimo, tive oportunidade de reflectir, ciente que é mais comum do que se possa imaginar.

Bem sei, que a escrita, o testemunho dito e escrito, ainda continua a assustar, como mecanismo de aferição da alteridade ........ mas, se a palavra existe é para a sabermos usar!

E, por isso, volto hoje a narrar, não poderia deixar de o fazer!

Porque as minhas palavras originaram e, sei-o bem, originarão reacções!

E porque sei que um dia, pelo menos isso sei, a minha história será ainda libertadora para quem a sua não foi capaz de enfrentar.
Porque viver sempre no sofrimento da mentira e da indecisão não é saber viver!

Sei amigo João que, mesmo sem querer, ainda te estou a ajudar, pois não a saberias contar. Talvez não me devesse preocupar com isso, mas quem sabe, um dia ainda te vá libertar.

Não reajas, portanto, uma mais, sem pensar!

A situação anteriormente descrita, de alguém que, perdido, por se sentir exactamente assim, ia sugando tudo em seu redor, sem que disso desse conta (?), já nem isso sei bem, mas que nada tivesse conseguido aprender, provocou um mecanisco acelerado de sucção.

Certamente por ter enfiado uma espécie de "carapuça", a personagem que se sentiu visada resolveu agir, reagir, tendo mesmo a minha casa procurado para me tentar explicar das suas razões.

Uma vez mais, claro está, quase me pareceu estar, de novo, a usar um processo de fuga ..., desespero de quem se sente a perder o pé.

Claro, também, e uma vez mais, não parou para pensar antes de agir! E se o fez, apenas o tempo o dirá!

Resolveu, na continuidade da perdição, ainda mais a acentuar.
Criando, chegou a ocorrer-me, outras tantas efabulações mais, com a graça de nem tão pouco temer o testemunho!

Num sufoco típico de quem já não pensa senão em salvar a própria pele, ou, quem sabe mesmo, apenas já não consegue respirar!

Desta vez a desculpabilização envolveu tanta gente, gente de mais, quase me pôs a sucumbir a mim, a tentar ouvir ... acreditar e entender, com criança a ver, pois com a sua chegada os seus desabafos urgentes, ao raiar do Sol, nem a pude poupar ...., quase se pôs ele próprio e outros tantos mais a morrer, tal filme de Almodôvar na sua versão mais apurada (antes visse o Crash que esse, pelo menos, contém o Pecado mas também a Salvação!).

Felizmente a minha amiga poupada ficou a tal turbilhão!

Quase conseguiu fazer com as suas angústias fazer sentir culpados os outros, ou melhor, a mim, porque não o tinha conseguido entender ...

Mas sempre manifestando amor, sempre falando de amor, de crescimento, e do amanhã! De promessas de uma mudança desejada, crente e verdadeira!

Escutei, escutei ... pese já ter jurado que não o faria mais.

Uma coisa boa tenho que ressalvar, conseguiu admitir a mentira e a omissão, se bem que tentando escamoteá-la ainda com algumas desculpas vãs!

Disse-me que ia emigrar de novo (afinal sempre tinha partido antes, como me haviam informado amigos comuns).

Achei bem. Quem sabe assim o meu amigo tenha tempo para definitivamente se enfrentar!
Se a loucura não acabar por dele se apossar. Espero bem que não!

Quem sabe a solidão o faça pensar!

Afinal é tudo tão simples quando a verdade se consegue enfrentar.
É tão somente saber olhar os outros, como se ao espelho nos conseguissemos ver, e dizer o que há a dizer.

Tão simplesmente isso, sabermo-nos olhar e dizer a verdade que vai no mais fundo de nós.

E apenas assim, com esse pacto que a palavra tem, conseguirmo-nos entender, conseguirmos encontrar a via possível que nem sempre é o que os outros consideram "ideal", mas que é a via possível para o que nos torna melhores e mais felizes.
Só que, infelizmente, há quem isso não consiga fazer, nunca tenha aprendido a fazer, tão moldado foi a encontrar na fuga a solução.
Mas, está-se sempre a tempo de começar (?)!

Pois é, bem sei, um blogue não é um lugar de confissão, mas um lugar de comunicação.

Por isso estou a falar, a narrar uma história que, repito, de outro modo, não saberia ele, certamente, contar.

Um dia, reitero, ainda o meu amigo João mais que Tudo me irá agradecer de o ter feito, não me acusando, como agora, de a sua intimidade estar a romper... (coisa que pouco me preocupa, aliás, pois, para isso me merecer alguma consideração, era preciso a dos outros não violentar) porque a minha história, sei-o bem, sabe ele também bem, ainda o vai libertar!
Com o peso do remorso e da fuga como solução é que não pode continuar a viver.

E a intimidade não se proteje porque, com o pérfido silêncio dos outros, ou com a sua cumplicidade, comprado a que preço nem eu sei (relembro o texto que aqui escrevi sobre a chantagem e a corrupçao - que têm em comum?) nos passamos a vida a esconder, sem nunca assumir que as nossas palavras e os nossos gestos são também escolhas e que todos têm as suas consequências, afinal. Porque isso é que é viver.

A intimidade não se corrói porque a vida se consegue enfrentar! Rompe-se, isso sim, quando somos nós os primeiros a não a respeitar.
Por isso há que parar, por vezes, para pensar.

Alguém teria que contar esta história. E ele não está capaz, não era ainda capaz de o fazer!

Um dia Luz se fará!















P.S.: Adorei ver o meu amigo de aliança de brilhantes na mão.
Disse-me que tinha uma igual para te entregar amiga, mas quase se envergonhava de o fazer.
(Aliás está muito envergonhado o nosso amigo, mas também lhe disse que a maior vergonha é a que temos quando nos olhamos no espelho e não para os outros).
Guardei-a comigo cerrando a minha mão, mas aconselhei-o, por ora, a não a deixar.
Porque sei que não lhe darias a tua mão assim! Porque até me queimaria a minha mão.
Haverá ainda caminho a percorrer para a poderes usar!
E o tempo, o tempo é o que é, tudo acaba por fazer viver ou matar.

No entanto amiga, bem mais serena do que eu que consegues ser, dou-te razão, quando não se é capaz de olhar o espelho, de o encarar, quando até dele temos medo, é melhor dizer, tão simplesmente, como conseguiste tu fazer: não varras o lixo, não apanhes o lixo do chão!

E aí, sim, há que amuralhar, amuralhar! No meio do turbilhão alguém tem que manter a lucidez!

Ao João, seguir-lhe-ei os passos possíveis ... quem sabe a vida me vá ainda surpreender! Não sei, há tanto trabalho a fazer.
Desejei-lhe, contudo, que a caminhada que fosse de feição, não fosse o meu amigo ser ainda mais engolido pelo abismo, tão acossado o achei.
Já não escreve pela sua mão, não fossem os grafólogos começarem a opinar, compraram-lhe o silêncio a troco de nem sei bem do quê, mas de um pérfido pacto se tratará, hipotecou a capacidade de se exprimir e nem mails pode mandar, porque tem pânico de tudo que o possa comprometer, muda de telefone conforme a personagem que quer representar - só no último ano lhe conheço pelo menos quatro - num jogo de espelhos e de loucos que não sabe gerir e onde se está completamente a deixar engolir.

A viagem, o retiro, só lhe pode mesmo ser de feição!
Porque ao lugar de origem, sei-o bem, sabe-o ele tão bem, nunca mais voltará como partiu, senão para descansar. Só que ainda tem medo de o aceitar!

Por isso há que saber partir.

Talvez por morse, quem sabe se sob outro pseudónimo qualquer, mas, estou certa, que um dia vai dar sinal!

terça-feira, maio 27

Lisboa está lilás



Lisboa está lilás.
A Russinha tinha a cor das árvores e das pétalas caídas no chão.

segunda-feira, maio 26

Caranguejo, Ruben A.

Pela primeira vez apetecia-me escrever um livro. Quero pôr a claro toda esta trama de sentimentos, despegar-me daquilo que me besunta. Criar em absoluto uma extraterritorialidade. ver as ligações das pessoas e das coisas projectadas num palco grego e sentar-me comodamente no anfiteatro. Dar palmas aos meus personagens evitando que eles enjoem pela banalidade. Cá de cima gesticular ao entardecer e movimentar em atitude tudo aquilo que entra pelos olhos dentro. Não sei se o teatro é melhor que o romance para eu sacrificar. Parece-me que sim - parece-me mesmo. Ela pertencer mais ao que não se descreve. Ela é mais o dizer e o evitar de ambiente.
Ruben A. in Diário, 2008, Assírio & Alvim

Madrugada

















«Rápidas mãos frias
retiram uma a uma
as vendas da sombra
Abro os olhos
Ainda
estou vivo
No centro
de uma ferida ainda fresca».

Octávio Paz, Rosa do Mundo - 2001, Assírio & Alvim

Hoje, ao chegar a casa, vi uma ambulância. Soube minutos depois que tinha morrido o meu vizinho do primeiro andar. Pensei, podia ter sido eu ... podia ser eu.
Mas não. Fechei a porta de casa e murmurei ... não, ainda não foi a minha vez e quero amanhã acordar.

(no princípio era o Verbo ...
e quem não souber que o Verbo é o princípio e o fim de tudo não poderá nunca entender que sentido tem a vida afinal).

Sulcos


Fot. P.P.

Branco é o manto que um dia me vai cobrir
branca a toalha que o teu suor limpará
brancas são as noites em
S. Petersburg ou em Edmonson
só não são brancos os sulcos que tenho na pele.

domingo, maio 25

História Unversal da Infâmia, Jorge Luís Borges


«Já matei 12 homens, sem contar mexicanos». A frase, atribuída pelo autor do best-seller ao bandido Billy the kid é uma demonstração da ironia e do humor de Jorge Luís Borges que, na sua História Universal da Infâmia, faz uma coletânea de curtas biografias romanceadas dos maiores malfeitores da humanidade. (a partir de Submarino)

Recomendo. Ando a reler.
Para recordar que há infâmias de todos os tipos: a dos homicidas, dos ladrões, dos chantagistas, dos mentirosos ou manipuladores.

A propósito da história da infâmia: o meu amigo João mais que Tudo, mas que podia ser outro qualquer (I)

Hoje almocei com um suposto amigo meu, cujo nome, aqui apenas designado por João, não é tido nem achado neste lugar.

Rapaz garboso, menino grande, esperto e composto, talvez um pouco vaidoso, pelas qualidades que enunciei, que por generoso se faz passar - porque com isso talvez nos pense cativar, tudo, aparentemente, dando, sem nada cobrar - e a quem eu tenho (tinha, ou julgava ter) uma certa afeição.

Divertia-me com as suas histórias, singelas, num primeiro olhar, histórias de cafés, de copos e bares e, subliminarmente, mulheres ... é um facto, pensava eu, que ele me conseguia entreter, despreocupando-me com as suas "travessuras" banais!

Casado, cedo abraçado a uma mulher, igualmente se tornou no divertimento de outras fêmeas que, aproveitando o escasso tempo livre da esposa mãe, por ele de amores se foram caindo e perdendo.

E assim o tempo foi passando: entre mãe e filhos e outros encantos mais, ele foi continuando a ser o passatempo de amigas e amigos com as suas histórias de ocasião.

Há uns tempos atrás (anos passaram, não saberei dizer quantos foram, afinal, mas já ultrapassaram os dedos de uma mão), pediu-me uma "entrevista" especial, urgente, carente; precisava de me falar!

Desta vez era uma história especial, com a qual quase não sabia conviver.
Circunspecto, em vez do seu ar normalmente jovial, disse-me: desta vez nem me vais acreditar, nem mesmo eu te sei como te contar: apaixonei-me verdadeiramente, consegui aprender o que queria dizer amar!

Talvez lhe devesse ter respondido qualquer coisa banal, como por exemplo "acontece aos melhores"..., acostumada que já devia estar aos seus episódios.
Mas satisfeita de o ter visto em tal momento de confissão, em tal propósito de amar, em vez de o demover, tal velha amiga ciumenta com receio de perder as horas de descomprometida companhia, soube, contudo, dizer: "Que bom, finalmente vais crescer! Estás bem certo do que estás a dizer?".

Reafirmou-me a sua convicção durante bastante tempo mais. Anos mesmo mais.
Ia eu, de vez enquando, perguntando, com um ar superficial, mas afinal em que ficas se nenhum gesto conseguiste fazer que altere a tua situação?

Desculpas muitas, coisas para resolver e coisas para tratar ... e eu pensando ... bom ... a vida tem os seus tempos, quem sou eu para lhe ditar os meus?

Finalmente, um dia, voltou a anunciar: desta vez é que é. Vou ter que mudar! A minha vida vou transformar. Estou disposto a não ser mais e apenas uma espécie de bobo da corte, a que todos se habituaram a ver em mim. Estou cansado desse lugar ocupar.

Não sei se verdadeiramente acreditei (penso mesmo que não, tanto me habituara aos desfechos das suas histórias banais), mas, mesmo assim, tão crédulo estava, que lhe resolvi dizer:
"Vai força, certamente que a vida vais, de novo, conhecer!
Estás a precisar de contigo próprio romper, estás a precisar de mudar e de crescer".

Soube por conhecidos e amigos meus que um salto ele quis dar, foi estudar, foi conhecer outros lugares para trabalhar.

Mas, entretanto, já a sua suposta grande paixão vinte mil léguas tinha conseguido palmilhar: mudar de casa, trocando de lugar e local de trabalho, tentando não encarar o ofício como a sua único e grande amor, convicta no ele lhe dizia e para ver se o seu bem amado nela conseguia finalmente confiar (pois ele com muitos ciúmes e desconfianças múltiplas a seu respeito ia escondendo as que o corroiam a si próprio)!

Aparentemente, julgava eu e outros tantos mais, lá se tinha decidido ele, finalmente, tentar arriscar e tentar mudar, não sei se por convicção, mas porque, à força de ver decidir, e de tanto ter anunciado, se envergonhou de nada fazer!

Hoje telefonou-me, de novo, urgente, carente, quase não o reconheci, voz dormente, "contigo amiga preciso de falar".

Julgo que já teria bebido demais, não sei, só sei que o ouvi sussurrar: afinal não consegui, não consigo mudar! Ela tudo mudou, tudo fez para caminhar, mas eu ... o meu lar, os meus filhos (tão recorrente e melodramática se tinha tornado esta frase nele ...), esses não posso não posso deixar! Eles não me iriam aceitar.

Quase tive vontade de rir (talvez chorar?) daquele desabafo, caricato, ao olhar menos torelante que hoje tinha e, quem sabe, fruto do cinza que na tarde se espraiara.

E ele continuando a beber...

Só fui capaz de perguntar: "o que te faz sempre fugir? O que te faz continuamente a ti próprio enganar? O que te faz mentir? O que te faz envolver os outros no que não és capaz de ser e agir?

Recordei com desiteresse as mil histórias que nos tinha contado, ou de que tinha amigos ouvido falar, de fugas, de mentiras, vexames, alguns dos quais envolvendo filhos e mulher.

Histórias de que, por momentos, me tinha conseguido rir e que me tinham feito descontrair.
(Afinal quem não precisa de ouvir algumas histórias contadas com humor?)

Mas desta vez não, não consegui rir.

Resolvi ao trabalho regressar, se bem que, no caminho, me tenha posto a pensar:

- Como me posso eu divertir com amigos assim, se afinal de nada mais sirvo do que uma almofada para ele se continuar a escutar e apenas a si próprio?
- De que me servem histórias destas se, no fundo, pouco consegui dizer ou aprender?
- Para que servem amigos desta feição que nem o outro lado do espelho conseguem ver, nem tão pouco o eco ouvir?
- Para que sirvo eu também se nada lhe consegui transmitir?.

Tentei escrever, trabalhar, mas o João mais que Tudo e as suas histórias banais não me saíam da cabeça, tão enfastida me tinha conseguido deixar, até que a mim própria declarei: amigos destes não quero mais!

Podem servir para me fazer rir em momentos de solidão, podem ser um espécie de lastro a que me vou agarrando ... porque acompanham bem um vinho de momento e de sabor, mas quem sou eu, então, para que tais histórias me continuem a fazer divertir?

Histórias iguais ... sempre iguais, de desculpas muitas, e de servidões!
Já basta o tenho para viver, o que tenho que fazer!
Histórias destas acabam por tédio criar.

Amanhã telefonarei ao João e vou-lhe, garantidamente, dizer:

Até quando nos queres divertir se, do outro lado, há choros a ranger e a tanger, decisões a tomar, coisas por fazer?
Egoísta amiga fui eu também que nunca tinha conseguido espreitar o outro lado do espelho que era também o teu! Isso também lho saberei dizer.

Se ao teu lado há a esposa a esperar e, por outro, pessoas que em ti ainda quiseram acreditar?

Não amigo João, com sorte ainda irás fazer parte da História Universal da Infâmia e eu não estou aqui para te aturar nem para as contar!
Porque as tuas ingénuas estórias fazem parte de qualquer História a que não posso pertencer, que já nem me conseguem divertir.

Bebe, bebe, vai dormir ... talvez um bom pesadelo, um dia, te faça acordar.
Ou, quem sabe, uma qualquer Salomé a tua cabeça vá pedir em bandeja de prata.

Amigos assim já não me sabem fazer rir!
Não que seja moralista, mas a mentira, como atitude constante, recorrente, cada vez mais náuseas, mais urticária, me conseguem causar.

Pena? Não sei, apenas deixarei de ter companhia para esses momentos de álcool, de humor ou de desolação.

Quem sabe se, sem audiência, sem nos divertir, um dia te consigas, de facto, escutar.

Senão talvez seja melhor emigrar ... correr o mundo, retirar para pensar, não sei, talvez te venham buscar, apanhando os estilhaços teus, mas histórias como essas eu não quero mais ouvir.
Apenas porque são e serão sempre iguais!

E continuando eu pelo caminho que tenho levado, tu, uma vez mais, nos contarás histórias banais, como se para além de ti nada mais existisse do que um trago de vinho e de bom humor.

É que desta vez quem sofreu na pele as tuas "suaves" infâmias também amiga minha é. Com ela vou estar, porque, ao contrário de ti, conseguiu crescer e mudar.

Sei que lhe continuaste a mentir, quando não silencias, porque já não sabes o que lhe dizer.

(João mais que Tudo, onde está a Liberdade e a Justeza do que, em dias e noites animadas, nos quiseste convencer???)

Tão acossado, encurralado ficaste na tua própria malha, que construiste a tua própria prisão!

Mas também sei que a minha amiga o "lixo não vai varrer, que não o vai apanhar do chão"!
Aprendi, com ela, a ver como são cruéis as tuas histórias de encantar!
E a mim não me farás mais sorrir em vão.

P.S.: Por mim, pelo menos por mim, que tantas histórias soube escutar, sabe um dia pedir desculpa a todas essas mulheres que não soubeste amar, a quem mentiste e enganaste, e, por favor, nunca mais nos fales dos filhos intocáveis (expressão que tanto te ouvi ultimamente usar) e que não conseguiste deixar ... só te fica mal, porque eles mais não são que o nosso espelho e do que o exemplo de verdade que podemos e conseguimos mostrar. E do amor que lhe conseguimos dar.
Não os uses também, quando as coisas já não te estão a caber, já não te calham de feição!
Porque merecem os filhos de todos e quaisquer pais serem, de facto, respeitados, e não incluídos, engolidos, em teias de indecisão.
Certamente te lembrarás, nas histórias que viveste e tão humoristicamente nos soubeste narrar que também havia filhos de mães a quem envolveste com as tuas canções... e outros pais, amigos e casas a que(m) cuja intimidade, pelos vistos, não soubeste respeitar!
E é por eles, para eles, que estou a escrever: é preciso testemunhar.

Porque a minha amiga, sei-o bem, apenas dirá, de si para si, "bela oportunidade perdeste para crescer". Quase a consigo imaginar, bem mais serena do que eu, como sempre consegue ser.
Tentarei com ela aprender o que de ti não terei para narrar, pois no medo te conseguiste embrulhar.

quinta-feira, maio 22

Entronização, Leonor de Almeida



Tenho o braço cansado,
A mão dorida, trôpega ...
Mas uma espécie de ânsia sôfrega
Ordena:
Empurrar tudo!
- Não quero, nem passado,
Nem presente,
Nem futuro! -

O braço faz de muro,
A mão abre caminho, coerente ...

Quero uma estrada cá dentro ... lisa, plena,
Para a tua palavra mágica, profética,
Bela e magnética,
Passear livremente,
E demoradamente!...
(Antologia da Poesia Portuguesa
1940- 1977, 1º Volume)

terça-feira, maio 20

Obrigada Dulce Ferraz por nos mostrares as belas peças do teu labor



Contigo estarei no lugar em sabemos nos vamos encontrar. Pena tenho de ainda não ter conseguido escrever as palavras certas para descrever esses teus lugares de silêncio em que inventas coisas fantásticas, transformando e moldando os metais, ao anoitecer.
Mas lá irei, por ti, por nós.

À Teresa também o meu aceno, pelas mãos, pelo abraço que me deu.

Faces de Eva, nº 19









"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar."

Helena Vaz da Silva

Faces de Eva. Centro de Estudos sobre a Mulher, o Centro Nacional de Cultura e as Edições Colibri têm o prazer de convidar Vª Ex.ª para a apresentação do N.º19 da Revista Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher pelo Senhor Dr. Guilherme d'Oliveira Martins.

Dia 28 de Maio (quarta-feira) às 18.30

Centro Nacional de Cultura
Rua António Maria Cardoso, 68
1249-101 Lisboa
(A entrada faz-se pelo Largo do Picadeiro, nº 10)

telefone 21 3466722

Andrés Segovia

segunda-feira, maio 19

A vida a recomeçar









maio, maio meu
flores no regaço
cetim nas mãos
anéis em casa
poesia ao vento
ao entardecer.

maio, maio meu
sonhar de dia
semear rosas
murmurar segredos
e rasgar, rasgar
o que guardar não se pode


Hoje, no meu Museu da memória e dos afectos, fala-se do Mundo.

Obrigada Betttips





















palavras tuas
sim murmúrios
uma mão que se dá
e eu recebo-a, neste meu dia de renascer
flores, belas, iguais

Obrigada pelo teu museu de maio
Fotografias: Bettips

domingo, maio 18

Hoje é dia 18, dia dos Museus






Hoje, dia dos Museus, haverá ainda lugar à realização de iniciativas em inúmeros Museus nacionais, na continuidade das que já tiveram lugar.

Como o meu Museu é o da memória e da escrita, e porque "não tenho nada de meu", tenciono dedicar-me a ela aqui, neste lugar, homenageando assim, uma vez mais, esta única supremacia humana que é ter inventado o valor da comunicação signada, como a das paredes de Tessalónica, e a de ter produzido objectos que de si próprio deixam rastos.

Mas mesmo assim, hoje espreitarei o Museu do Traje e o Museu Nacional de Arqueologia para visitar, já que tive a sorte de poder ver o que era a Noite dos Museus nos Coches (na imagem) e ter visitado o Museu Nacional de Arte Antiga.

Dia Internacional dos Museus no MNArqueologia
PROGRAMA COMPLETO
www.mnarqueologia-ipmuseus.pt (agenda)Programa-Convite da Festa de Maio no MUSEU

As princesas





Sim, são as minhas princesas.
Intocáveis, claro está, ... como gostaríamos que fossem todas as princesas e princípes do Mundo!
Os nossos e todos os outros mais.

Mas a vida, mesmo sem querer, vai fazendo ver-lhes que com ela também temos que aprender.
Com moças, beliscões, braços ou corações partidos, as nossas princesas acabam sempre por crescer. E nós, com elas, também.

Porque as minhas princesas, mesmo pequenas, já aprendetam que o Amor e a Verdade se conquistam com as nossas mãos.

Por isso, intocáveis serão, aprendendo sempre a caminhar!

E são a melhor coisa que tenho no coração.

Às minhas princesas as flores do Maio meu, do dia do meu renascer.

sábado, maio 17

gorizia



Per informazioni ed iscrizioni:

ACMA Centro Italiano di Architettura
via Antonio Grossich, 16 20131 Milano
tel +39 02 70639293 fax +39 02 70639761

www.acmaweb.com acma@acmaweb.com

sexta-feira, maio 16

A grande vantagem da idade - o meu mês de Maio

Quando se está a envelhecer, quando já se fez cinquenta anos,
sabe-se que, por muito que se viva, nunca se viverá tanto como os anos já passados.

Por isso:

- Ou ainda não conseguimos encontrar a nossa pele, e, dificilmente, a encontraremos;

- Ou a já encontrámos e:

1 - Tentamos cada dia viver, como se fosse o primeiro, e como se o último pudesse ser.
2 - Tentamos arrumar-nos, arrumando coisas. Pondo a História em dia e, com ela, esforçando-nos por entender o que nos continua a mover;
3 - Cosemos as várias coisas que conseguimos terminar - há que criar espaço, mais aberto, mais amplo, para as que acreditamos que estão ainda a começar;
4 - Não tememos a imagem que de nós possam ter, e não receamos aceitar que nos enganamos.
Preocupamo-nos, isso sim, com o que somos, o que vamos fazer e com o que conseguimos amar.
5 - Não temos medo de nada, porque depois de imaginar a morte, apenas como o outro lado da vida, e não o temer, nada mais insolúvel pode haver.
6 - Queremos, mais do que nunca, o tudo e o todo que nos vai no coração e no pensamento;
7 - Convivemos muito mal com o cinismo e com a cobardia e, pior ainda, com o culto que alguns fazem da imagem que querem construir de si, sem correspondência com o que, de facto, são.
E não deixamos que outros sujem as mãos por nós.
8 - Apenas lemos o que nos apetece e escrevemos tudo o que nos compraz.

Com a enorme vantagem de, de nós, quem da vida nada ensinou poder dizer: coitada, está louca ... é do envelhecer!

O arco-íris da Mariana



A minha filha aprendeu a fazer um pedido cada vez que se vê o arco-íris.
E que, mesmo nos dias mais escuros, há sempre esta luz a cruzar o mundo.


Fotografia: Mariana

quinta-feira, maio 15

O valor da amizade












Não se comenta, vive-se.
MUSEU ARQUEOLÓGICO DE SÃO MIGUEL DE ODRINHAS – SINTRA
Noites do Museu
(Informação obtida a partir do Archport)

Dia 17 de Maio de 2008

Ave Amici!

O Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas, em Sintra, realiza no próximo dia 17 de Maio, as "Noites do Museu", dando continuidade a um projecto iniciado em 2006.

A partir das 21.00h abrem-se as portas para acolher todo o público que deseje fazer uma visita sensitiva à colecção romana, que se inicia ao som da harpa céltica e será guiada por figuras da romanidade, apenas iluminadas pela luz trémula das candeias de azeite e dos archotes.

Ave Amici! É a saudação inicial dedicada a todos quantos venham a participar nesta iniciativa que, tirando partido do efeito cenográfico da «Basílica Romana» (sala de epigrafia latina), cria uma ambiência clássica com figurantes trajados à época. Alguns deles, ao longo da via romana, lêem em latim e em voz alta algumas das inscrições, recriando uma prática da Antiguidade.

Findo o percurso, os visitantes poderão repousar na Taberna e provar algumas iguarias preparadas de acordo com receitas romanas: vinho quente com especiarias, tâmaras com nozes e pinhões, patina desenformada…

A não perder…

Vale!

Sábado, 17 de Maio, das 21h00 às 24h00.

Ingresso: 8,00 Euros; com marcação prévia.

Informações ou imagens: Marta Ribeiro 21 961 35 74

Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas
Av. Prof. Dr. D. Fernando d`Almeida
São Miguel de Odrinhas 2705-739 São João das Lampas

Telef. 21 961 35 74
Fax. 21 961 35 78
Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas
Av. Prof. Dr. D. Fernando d`Almeida
São Miguel de Odrinhas 2705-739 São João das Lampas

quarta-feira, maio 14

Porque dizem os terapeutas que a esquizofrenia cada vez toma mais conta das pessoas?


Ontem à noite vi um programa muito interessante, sobre a Esquizofrenia, debatendo-se possíveis causas e efeitos da doença que parece estar, por motivos de vária ordem, designadamente as grandes pressões sociais, económicas e afectivas, a tomar cada vez mais proporções.

Tratando-se de uma doença que se manifesta através de uma alteração ou desvio de personalidade, ou seja de "fracturações" ou alterações da mesma, pode conduzir, em casos mais fissurantes, à verdadeira duplicidade do "eu".

Caracterizando-se ainda por uma dissociação das funções psíquicas e pela perda de contacto com o mundo exterior, pois, gradualmente, se vai acreditando numa "realidade" que não o é de facto, ou se vão criando realidades paralelas, a doença afecta não só a própria pessoa mas todos os que com ela se relacionam, porque o "contágio" se acaba por fazer.

Segundo os especialistas, um dos seus «primeiros sintomas é a diminuição da afectividade, quando não a sua total supressão ou ausência, existindo um desligamento do mundo por parte do doente, que se volta sobre si mesmo»(com algumas similitudes com o autismo). As funções intelectuais são igualmente perturbadas o que acarreta rapidamente a alienação de tudo o que se passa à sua volta.

Muitas destas pessoas atravessaram períodos de depressão, ou grandes conflitos emocionais antes de entrarem nesta situação, o que leva a concluir que estes problemas desencadearam ou agravaram a esquizofrenia, aceitando-se, assim, que a tensão e o stress nos quais a pessoa esteja envolvida possam ser, efectivamente, grandes causas da esquizofrenia.

Mais, uma vez que a pessoa vive sob tensões, stress, medos, pânicos e alterações comportamentais contínuos, deverá procurar situações que a aliviem, que lhe tragam tranquilidade ou que as relaxe.

Só quando a pessoa está mais tranquila e estável é que se pode pensar em fazer um trabalho mais profundo.

Assim, atenção, porque todos estamos sujeitos a conviver com processos de esquizonfrenia, ou a ser vítimas dos que se deixaram levar por ela, ou mesmo ainda a vir a sê-lo, procuremos não acumular tensões a mais.

Eu cá vou escrevendo. Resultará?

Mas atenção, ao primeiro sintoma, há que saber irmo-nos tratar!

São as tuas mãos a minha cidade?





















São as tuas mãos a minha cidade?
Certamente não!

Porque para o serem
seria também o bairro
o escolhido, o eleito
mãos nas mãos, numa rua, e não perdidas ao vento
sem assento, sem convicção... sem destino,
apenas perdidas na indecisão.

Não seriam apenas membros escondidos na noite,
lugar de solidão, desejo envergonhado
clímax de cenário de televisão,
toalha branca limpando apenas a extensão de umas mãos.

Chorando o triste destino dos momentos sem projecção.

Seriam mãos, somente mãos
sem medo, sem mentira, e, muito menos,
apenas lugar de prazer de minutos
escondido de si próprio,
envergonhado, encerrado, nas próprias mãos.

Para que as mãos se tornem numa cidade
é preciso conhecer as vielas, os becos
e mesmo assim escolher o todo que a imensidão tem.

Porque se as tuas mãos fossem uma cidade, a minha,
teriam que nela saber viver, dela conhecendo
os sítios onde as ruas se cruzam com outras ruas
mas, mesmo assim, se identifica o lugar onde moram as mãos.

Serão as tuas mãos a minha cidade?
Não, certamente não, porque ainda procuram
o lugar que habitam, as tuas mãos

Se na noite escondida,
ou na Aurora, à luz do nascer do Sol.
E, esse lugar perdido, o sítio de umas mãos como as tuas,
não é por certo o da cidade que eu habito.
Simplesmente porque se perdem nas encruzilhadas da indecisão.

Com sorte, haverá talvez um anjo da noite que as conduza a um qualquer lugar.


- Falaram-me um dia de Intimidade. Onde residirá ela com mãos assim? Mãos que tudo sentem o direito de devassar?

Residirá a Intimidade numas outras mãos, ou em algum pescoço apertado, sem ar, em estertor, como um dia, em tom de aviso ou de admoestação - talvez para tentarem calar a palavra ou os afectos a quem a verdade não teme - me chegaram a dizer???

Não sei, sei que mãos assim terão que se limpar. Terão que percorrer muitos e longos caminhos mais. Até se conseguirem clarear.
Terão que aprender que não existem mãos sem o pensamento, sem a Palavra.
E que a vida nunca se resolve pelas mãos dos outros, em bancos sujos de hospitais, ou pelo receio de umas mãos.

Se hoje tivesse uma aliança de brilhantes na minha mão, tentaria decepar os dedos. Até que a terrível dor me acordasse de vez!
Porque nunca deixaria que, na minha vida, fossem outros a fazer a eutanásia (a sujar as mãos) por mim, fossem amigos, familiares, maridos, filhos, sopeiras, chefes, secretárias,juízes, médicos, ou tribunais!


P.S.: Recomendo vivamente a leitura do livro «As Mãos Sujas» do existencialista Sartre, que tão bem descreve as mãos que, mantendo-se limpas, se sujam pelas mãos dos outros.
Para quem nunca leu Sartre (ignorando-o, mas arrogando-se de tudo saber, de tudo conhecer, e de tudo poder violentar), trascreverei a sinopse do livro «Mãos Sujas», de acordo com a Webboom.pt: A filosofia de Sartre, tão discutida, pode ser definida como uma filosofia da liberdade e da responsabilidade. Ao homem compete inventar a própria vida e o próprio destino e escolher a própria liberdade e construir o seu valor. Esta filosofia é designada sob o nome genérico de "existencialismo" e revela-se, sobretudo, nos volumes L' être et le Néant, Situations e Critique de la Raison Dialectique. Em 1964, Sartre foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura, que recusou. As Mãos Sujas, a sua peça mais célebre, nasce da oposição política de um realista e de um idealista. Um chefe revolucionário colabora com os seus adversários; uma facção do seu próprio partido considera essa táctica inoportuna e encarrega um jovem idealista de o assassinar. Este livro reflecte principalmente as ideias de Sartre sobre o problema da liberdade.

segunda-feira, maio 12

Senhor da Pedra





Hei-de ir ao senhor da pedra
Ainda que me leve um mês
Só para ver os milagres
que o senhor da pedra fez


Bendito senhor da pedra
Bendito sempre sejais
Não tenho nada de meu
Ó senhor tanto me dais





(À Bettips agradeço pela fotografia da Vivi (a primeira).
Obrigada Adriano pelas três últimas fotografias e pelas quadras. Senhor da Pedra, Miramar

No lugar da Bettips li, a propósito da sua última edição, um comentário da "Jardineira Aprendiz" que não esquecerei:

«Numa situação dessas não se atiram palavras fora...
A pedra é dura e não deixa mentir».

sexta-feira, maio 9

Sit Tibi Terra Levis - Rituais funerários romanos







Ao meu mestre e meu orientador J.C.B., que hoje me deu o prazer de o acompanhar à viagem no Museu Nacional de Arqueologia, com os seus alunos de Évora, no encalço desse grande Homem que o Portugal do Conhecimento do cruzar de oitocentos para novecentos teve: José Leite de Vasconcelos.

Com ele fui espreitar as palavras escritas e os objectos que, atravessando os Tempos, acompanharam os mortos até à Eternidade, e que José Leite de Vasconcelos recolheu, arregimentou, deu sentido e valor.

Obrigada aos dois.


Sobre o MNA:
exposições temporárias:
- Religiões da Lusitânia. Loquuntur saxa.- "SIT TIBI TERRA LEVIS: Rituais funerários romanos e paleocristãos em Portugal"

- Sit Tibi Terra Levis. Rituais funerários Romanos e Paleocristãos em Portugal (catálogo)
edição: Museu Nacional de Arqueologia
Nº páginas: 59
ISBN: 978-972-9257-23-0
Preço: € 10,00

Título: As necrópoles de Silveirona (Santo Estêvão, Estremoz). Do mundo funerário romano à Antiguidade Tardia. Mélanie Cunha
edição: Museu Nacional de Arqueologia

Exposição:
SIT TIBI TERRA LEVIS: Rituais funerários romanos e paleocristãos em Portugal"

Datas:
22 de Abril de 2008 a 31 de Dezembro de 2008
Local no MNA:
Galeria Ocidental
Organização institucional:
Museu Nacional de Arqueologia
Comissariado científico:
Carlos Fabião, Mafalda Dias e Mélanie Cunha. Comissariado Executivo: Ana Melo
Tipo de exposição:
Apresentação de colecções

«O insondável mistério da morte gera nas sociedades humanas distintos modos de lidar com os sentimentos de perda e ausência.

Nas atitudes em face da morte se percebe como se convive com o fim da vida.

Que a terra te seja leve (Sit tibi terra levis, segundo a fórmula consagrada pelos romanos), se conservas ainda uma existência subterrânea; descansa em paz (Requievit in pace, segundo a fórmula consagrada pelo Cristianismo), na esperança da ressurreição. De uma fé a outra se encerra um percurso civilizacional, da Roma pagã ao mundo do cristianismo, que sobreviveu à dissolução política do velho império, mas uma mesma interrogação intemporal.

Apresenta esta exposição, pela primeira vez de um modo sistemático, duas necrópoles romanas que foram escavadas em distintas fases da vida deste Museu.

As necrópoles propriamente ditas espelham bem o alcance e limitações do registo arqueológico. Dos complexos ritos que envolvem a última homenagem, somente parcos resíduos materiais se conservam. Contudo, se nem esses escassos indícios fossem devidamente lidos e salvaguardados, que restaria então?

Aqui se evocam as gentes da Fraga (em Marco de Canavezes) e da Silveirona (em Estremoz), do Norte e do Sul do espaço hoje português, mas também os dois primeiros directores do Museu Nacional de Arqueologia (José Leite de Vasconcelos e Manuel Heleno) que, pela escavação as resgataram do esquecimento.

Exposição integrada no programa comemorativo do 150º aniversário do nascimento do Doutor José Leite de Vasconcelos»


Informação (em itálico) obtida a partir de: info@mnarqueologia-ipmuseus.pt | webmaster@mnarqueologia-ipmuseus.pt»

De seguida rumámos ao Museu de Etnografia para conhecer as suas colecções e para ouvir e ver a exposição «As canções pintadas».