terça-feira, julho 23

Esta Lisboa que me faz sossegar















































«É esta a cidade que o destino
te reservou. Uma cidade de

gente dura cuja maior
extravagância é um vaso

de sardinheiras na janela
de um ou outro edifício.

Tinhas sonhado com uma
cidade branca mais a sul

Esta cidade não é uma cidade
é um vício.

Porto de Abrigo, Jorge Sousa Braga
in Poemário, 2007

Imagens: Sta. Apolónia
Capela de S. Amaro, Lisboa

terça-feira, julho 16

Para a Luz .... Teixeira de Pascoais


O Homem é o Universo consciente.
Pelos seus lábios, fala a pedra e o nevoeiro.
Por isso, o que ele sente
De mais longínquo e vago é que é mais verdadeiro.
Seu vulto principia
Em nocturna matéria, que termina
Num sonho de harmonia,
Numa nuvem astral, emoção divina.


Teixeira de Pascoais. Para a Luz. Vida Etérra. Elegias ... in Poemário, 2009

segunda-feira, julho 8

Vamos visitar os Castelos de Palmela e Sesimbra e as Fortificações de Setúbal. Para MOI - Movimento Odete Isabel.

Ordem de Sant'Iago da Espada e o castelo de Palmela
A criação da Ordem de Santiago, como todas as outras ordens religioso/militares, surgiu na sequência das Cruzadas, que foram expedições religiosas e militares organizadas, a partir dos finais do século XI, tendo em vista libertar a Terra Santa do poder dos Muçulmanos.
 Esta Ordem surgiu exactamente através da associação de diversos cavaleiros que se ligaram para combater os Mouros.
Os Cavaleiros de Santiago, como ficaram conhecidos, ou Espatários, porque o seu símbolo era uma espada com uma forma crucífera, fizeram voto de pobreza e de obediência, seguindo a Regra de Santo Agostinho. Os seus membros não eram obrigados ao voto de castidade, e podiam como tal contrair matrimónio (alguns dos seus fundadores eram casados). No entanto, a bula papal recomendava (não obrigava) o celibato, e os estatutos da fundação da Ordem afirmavam: "Em castidade conjugal, vivendo sem pecado, assemelham-se aos primeiros padres apostólicos, porque é melhor casar do que viver consumindo-se pelas paixões".
Em 1170, Fernando II de Leão tê-la-á oficializado, dando-lhe, em 1172, a vila de Cáceres, tendo obtido a confirmação papal de Alexandre III, por bula outorgada em 1175, e os frades espalharam-se rapidamente por Castela e Portugal, onde lhe foram doados diversos castelos. Esta Ordem monástica desempenhou um papel fundamental na Reconquista, o que lhe trouxe considerável poderio político, social e económico.
Depois da conquista de Lisboa, D. Afonso Henriques oferece um convento para a  primeira sede da Ordem nesta cidade. Com a conquista dos territórios a sul do Tejo que foram colocados à sua guarda, estabeleceram-se no Castelo de Palmela de 1170-1218 e depois a sede passou para Alcácer do Sal que se tornou a cabeça da Ordem, até que D. Sancho II a mudou para Mértola.
Resumindo, podemos considerar que, em Portugal, a ordem foi actuante desde os primórdios da nacionalidade, ainda no reinado de D. Afonso Henriques, mas só teve maior visibilidade a partir do reinado de D. Afonso II, e sobretudo, D. Sancho II, tendo detido como sedes o Castelo de Palmela e depois o de Alcácer do Sal.
Foi mestre comendatário da Ordem em Alcácer o grande Paio Peres Correia que deu um valoroso contributo para a Reconquista de Portugal – as suas forças, muitas das vezes lideradas por ele pessoalmente, conquistaram, entre 1234 2 1242, grande parte do Baixo Alentejo e foi ainda com o seu auxílio que D. Afonso III consumou a conquista do Algarve.   Como recompensa, a Ordem foi agraciada, em territórios portugueses, com várias dessas terras do Alentejo e do Algarve, com a missão de as povoar e defender. A isso não é alheio, ainda hoje, o facto de muitas delas terem por orago Santiago Maior, e de nas suas armas figurar a cruz espatária.



Como se vê no mapa a ordem de Sant'Iago terá recebido uma extensa área a sul do Tejo.



A par das doações dos castelos às Ordens Religiosas, como referimos com a Ordem de Santiago, e com o progressivo avanço para Sul durante a reconquista, grandes extensões de terras são doadas às ordens eclesiásticas, às ordens militares e aos mosteiros, assim como à nobreza, de forma a que o território pudesse ser povoado e desenvolvido .
No Castelo de Palmela se estabelecem  definitivamente em 1443, no reinado de D.Afonso V e já há muito independentes de Castela, que o elegem como sua sede em território nacional com o próprio Mestrado da Ordem - o mestre infante D.João -, filho de D. João I avô de D.Afonso V.

No ano seguinte começa a construir-se o seu templo - a Igreja de Santiago, - onde se encontra a arca feral de D. Jorge de Lencastre, filho de D. João II e neto de Afonso V, último Grão-Mestre da Ordem e donatário da vila de Grândola.
Foi aqui em Palmela e durante o reinado de D.João II, que muito apreciava a região, que a Ordem conheceu o seu máximo esplendor. 
De 1546 até à extinção da Ordem vigoraram na sua administração os Priores-Mores do Real Convento de Sant'Iago de Palmela. 
A extinção das Ordens Religiosas consumou-se em 1834 por decreto de Joaquim António Aguiar , ministro de D. Pedro, que assim ficou conhecido pelo “Mata Frades" e os seus domínios passaram para a posse do Estado.
As Ordens Militares são definitivamente secularizadas perdendo qualquer significado.
Mais tarde, a Ordem passou a denominar-se Ordem de Santiago, e constituiu-se em ordem honorífica em Portugal, da qual o Chefe do Estado Português se constitui o Grão-Mestre.


O Castelo de Palmela
No caso específico do Castelo de Palmela, parece que o mesmo teve origem muçulmana, (embora haja indícios de ter sido ocupado em época anterior). No período de dominação árabe foi edificado por volta do século IX.
Em 1147 é conquistado por D. Afonso Henriques, mas acaba por cair novamente nas mãos de Muçulmanos, e só em 1190 passa definitivamente às mãos portuguesas.
É durante o reinado de D. Sancho I que são feitas obras de recuperação do castelo, passando a ser sede da Ordem de Santiago.
A construção do convento a que já fizemos referência  inicia-se no reinado de D. João I e aí se instala a Ordem em 1443.
Em 1670 há novamente obras no castelo, visando adaptá-lop ao uso da artilharia, tendo sofrido muito com o Terramoto de 1775. Com a Extinção das Ordens Religiosas é abandonad, até que é classificado Monumento Nacional e se fazem novas obras de conservação e restauro em 1945.

Texto baseado em:

Setúbal e o estuário do Sado
Importante burgo piscatório no século XVI, a povoação não teve um castelo propriamente dito, embora tendo sido amuralhada na época medieval. Normalmente a expressão Castelo de Setúbal designa o Forte de S. Filipe, localizado em posição dominante sobre um outeiro, fronteiro à cidade na margem esquerda da Foz do Rio Sado.
Do que se conhece da cidade de Setúbal, o estuário foi fundamental, desde sempre para a fixação de gentes, conhecendo-se uma ocupação do território desde a Pré-História.
O rio Sado , conhecido ao tempo dos Romanos como Callipus, e, a partir provavelmente da ocupação islâmica, como Sadão, foi sempre gerador de vida, pois, alagando a terra, a fertiliza, permitindo que a água e a terra fossem, efectivamente, os grandes motivos de fixação de gentes.

A Serra da Arrábida teve, desde a Pré-História, populações que por ali foram passando, podendo referir-se a Lapa de Santa Margarida, no Portinho da Arrábida, estudada por G. Zbyszewski, com ocupação do Paleolítico Inferior, e nela acabaram por se fixar gentes, já em Época neolítica e períodos posteriores, nomeadamente da Idade do Cobre, como os povoados da Idade do Cobre implantados em colina de Rotura, Padrão, Chibanes, Moinho da Fonte do Sol e Malhadas.

Da transição do Neolítico para a Idade do Cobre, conhecem-se também as sepulturas colectivas ou hipogeus da Quinta do Anjo e o monumento individidual de enterramento da Roça do Casal do Meio que denota já uma maior complexificação social.

Mas são ainda conhecidos os povoados da Idade do Ferro de Chibanes e Pedrão.

A ocupação romana tem inúmeros vestígios no território de Caetobriga, cujos expoentes podemos considerar os disseminados pela cidade de Setúbal, a antiga Caetobriga, e de Tróia.


Assim, em Setúbal, a antiga Caetobriga romana tem vestígios de fábricas de salga de peixe, bem como restos de habitações com mosaicos, no Centro Histórico da Cidade.

Fazendo a travessia do Sado, no caminho fluvial que outrora ligava as povoações estuarinas de Caetobriga e Tróia a outras cidades importantes, designadamente Salacia, (Alcácer do Sal), permitindo trocas comerciais, pode ainda vislumbrar-se um pouco o que restará da paisagem da Península de Tróia, eventualmente a antiga Ilha de Achale, ou da Serra da Arrábida.

Após a travessia do rio, junto à Caldeira, localizam-se as ruínas de Tróia, um dos maiores complexos fabris conhecidos no Mundo Romano Ocidental, que se mantém em laboração desde o século I d.C., cronologia atestada pela existência de terra sigillata itálica, bem como por algumas inscrições funerárias, até, pelo menos, ao século IV d.C., período em que entram em decadência as actividades ligadas à pesca e transformação do pescado, como acontecera com as suas congéneres da Península Ibérica e do Norte de África.
Ao que se sabe a antiga Caetobriga romana deve ter sido abandonada no século VI D.C. por falta de condições de segurança aos seus moradores segundo alguns autores, ou devido aos movimentos das dunas de areia, segundo outros.

Ao que parece terá também sido ocupada por Muçulmanos, a partir do século VIII.

À época da Reconquista Cristã, o povoado muçulmano foi conquistado pelo primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, em 1165.   Arrasado durante umanova ofensiva comandada pelo califa almóada Abu Yusuf Ya’qub al-Mansur em 1190, foi reerguido a partir de 1200, no reinado de D. Sancho I
O seu neto, D. Sancho (1223-1248), após a retomada do Cstelo de Palmela terá   assegurando a posse desta região, também doou esta povoação à Ordem de Santiago da Espada para que a defendesse e repovoasse.
Porto privilegiado pela sua localização sobre a rota comercial (e dos Cruzados) pelo oceano Atlântico, pelo desenvolvimento cada vez intenso que vivenciou, Setúbal tornou-se, no reinado de D. Afonso III (1248-1279), um dos principais portos de Portugal, a par do de Lisboa, do Porto e de Faro razão pela qual recebeu o seu foral em 1249, sabendo-se que transitavam pelo porto de Setúbal era uvas, vinhos, figos, peixe fresco.
Data deste período a primeira estrutura defensiva da povoação, uma muralha envolvente, cuja edificação se iniciou com D. Afonso IV (1325-1357) e foi concluída no reinado seguinte, com D.Pedro I, tendo a função de conter os assaltos de piratas e de corsários oriundos do Norte d’África.
Em 1439, por decreto real, a vila foi isenta de pagar aposentadoria, tendo-se decidido a construção casas condignas para receberem o rei e a sua Corte.
Ao que se sabe, será deste porto marítimo que D. Afonso V partirá para a conquista da Praça-forte de Alcácer Ceguer, no Norte de África.
Foi também aqui que se celebraram as núpcias de D. João II (1481-1495) com D. Leonor de Viseu, tendo sido neste reinado  que se deu início à construção de um aqueduto para o transporte de água, proveniente da nascente da Arca d' água (Alferrara), para a vila. A expansão da vila para fora das suas muralhas iniciou-se em fins desse século, com a construção, no sector oeste, do Convento de Jesus.
Durante a Dinastia Filipina para reforço da defesa, foi iniciado o Forte de São Filipe (1582).


Forte S. Filipe
 e  Maria Filomena Barata
O Património é um recurso: um percurso ao longo do Sado




Maria Filomena Barata

Arqueologia na Serra da Arrábida



Falar da Ordem de Santiago. Castelo de Palmela


Castelo de Sesimbra