segunda-feira, julho 16

E, se estiver em Faro, vá também às Ruínas de Milreu e ao Palácio de Estói


Milreu teve ocupação romana, medieval, dos séculos VI ao X, e moderna.
A zona residencial hoje visitável, que se desenvolve em torno de um peristilo com colunas, foi uma reestruturação do século III, quando a casa é embelezada com mosaicos polícromos, muitos deles com alusões à fauna marítima.
As termas estão ainda com um elevado grau de conservação e nelas se podem encontrar os compartimentos usuais: frigidarium, tepidarium e caldarium.
No século IV é edificado um templo dedicado a divindades aquáticas.
Os proprietários desta uilla eram certamente muito influentes, porque na casa apareceu estatuária de imperadores e familiares, a exemplo da estátua de Agripina que aqui publicámos.
E no Palácio de Estói, casa senhorial como Milreu, mas edificado no século XIX e recentemente transformado em Pousada, outro tanto há para descobrir, nomeadamente os seus jardins e interessante estatuária.

domingo, julho 15

Aos meus amigos e aos meus livros (reed.)



Os livros são como as pessoas, sem tirar nem pôr.
Quando redescobrimos alguns, não há meias-tintas na relação que com eles estabelecemos: ou os amamos de novo, com uma força ainda mais redobrada; ou então, sem nostalgia, pensamos que afinal já estavam mesmo mortos para nós.
Nos últimos dias tive estranhas redescobertas, algumas das quais não passaram senão de vozes distantes ou de folhas entreabertas: mas outras, que saudades ainda me conseguiram fazer ...
Desenterrei, de novo, livros da Ana Hatherly, que sei não conseguir largar tão rapidamente, ao ponto de até me invadirem sofregamente as horas de trabalho, onde costumo ser metodicamente espartana às invasões literárias.
Ando com eles atrás de mim, num saco prateado, como a capa do «Um calculador de Improbabilidades». Passeia-se comigo, o saco e o livro, e não os consigo deixar. Foram feitos um para o outro e para mim. Afinal, sem saberem, foram peças únicas, inventadas para mim! Sempre que posso abro o saco e o livro e deixo as palavras que lá estão escondidas passearem-se por dentro da alma.

A esses amigos, a esses livros devo grande parte do melhor que vive em mim. Para eles vai o meu saco com a Ana Hatherly dentro.

(À Cris)





















«Noite
Canto-te noite para que tu definitivamente
existas
Canto o teu nome porque só coisas cantadas
realmente são e só o nome pronunciado inicia
a mágica corrente
Canto o teu nome como o homem antigo fazia eclodir
o fogo do atrito das pedras
Canto o teu nome como o feiticeiro invoca
a magia do remédio
Canto o teu nome como um animal uiva
de noite
Como os animais pequenos bebem nos regatos depois
das grandes feras
canto-te noite
e tu definitivamente existes nos meus olhos
sempre abertos porque é sempre noite e os meus olhos
são os olhos da criança que nós somos sempre
diante da imensidão do teu espaço
noite

(....)
Noite Canto-te Noite, Ana Hatherly