sexta-feira, maio 16

A grande vantagem da idade - o meu mês de Maio

Quando se está a envelhecer, quando já se fez cinquenta anos,
sabe-se que, por muito que se viva, nunca se viverá tanto como os anos já passados.

Por isso:

- Ou ainda não conseguimos encontrar a nossa pele, e, dificilmente, a encontraremos;

- Ou a já encontrámos e:

1 - Tentamos cada dia viver, como se fosse o primeiro, e como se o último pudesse ser.
2 - Tentamos arrumar-nos, arrumando coisas. Pondo a História em dia e, com ela, esforçando-nos por entender o que nos continua a mover;
3 - Cosemos as várias coisas que conseguimos terminar - há que criar espaço, mais aberto, mais amplo, para as que acreditamos que estão ainda a começar;
4 - Não tememos a imagem que de nós possam ter, e não receamos aceitar que nos enganamos.
Preocupamo-nos, isso sim, com o que somos, o que vamos fazer e com o que conseguimos amar.
5 - Não temos medo de nada, porque depois de imaginar a morte, apenas como o outro lado da vida, e não o temer, nada mais insolúvel pode haver.
6 - Queremos, mais do que nunca, o tudo e o todo que nos vai no coração e no pensamento;
7 - Convivemos muito mal com o cinismo e com a cobardia e, pior ainda, com o culto que alguns fazem da imagem que querem construir de si, sem correspondência com o que, de facto, são.
E não deixamos que outros sujem as mãos por nós.
8 - Apenas lemos o que nos apetece e escrevemos tudo o que nos compraz.

Com a enorme vantagem de, de nós, quem da vida nada ensinou poder dizer: coitada, está louca ... é do envelhecer!

5 comentários:

Anônimo disse...

oito lindos pensamentos. Foram arrancados à seiva das tuas artérias ou fazem parte da tua colheita desse mundo cultural vasto onde navegas? Estive à volta deste texto cerca de vinte minutos. Já tinha tomado o pequeno almoço e tive dificuldade em digeri-los em profundidade, como eles merecem. Um dia atingirás a idade da inocência.
Um abraço
adriano

Alberto Oliveira disse...

... apenas(?!) o ponto 5 me obriga a alguma ginástica mental. Embora sabendo da irreversibilidade da morte, na medida em que o tempo avança, mais gosto tenho em viver. Ora não é nada fácil conciliar as duas coisas com um sorriso nos lábios: gostar imenso de viver e aceitar ter de morrer. Provavelmente, ainda não estou bem preparado para o infausto evento.
Tenho de ler mais sobre a matéria, prejudicando o ponto 8.

sorrisos bem vivos.

Anônimo disse...

Se há verdades inquestionáveis ao cimo da terra, esta é uma delas. Somos pó e ao pó voltaremos. E como o sono é a imagem da morte, todos os dias morremos um pouco e vamos ficando preparados para a passagem. Não é a morte que eu temo, mas o caminho que a ela conduz. Gosto da vida, adoro viver, mas, como sei que um dia tenho de atravessar a ponte, que seja com sol, com música, com alegria, com bom tempo

bettips disse...

Perfeitas somos, as décadas já passam a correr...
Mulheres de Atenas.
Bjinho

A Lusitânia disse...

Bettips, não queria, mas não resisto a dizer-te que me segredaste agora o murmúrio que precisava ouvir.
Mulheres de Atenas somos sim, mas não da Grécia que, sem a chama acesa, já me quiseram levar.
Seremos sim, mas há que saber apaziguar os deuses.