sexta-feira, maio 9

Os dias


Já tive fé nas palavras; nos sentidos múltiplos dos seus significados; já acreditei na imagem, metáfora da palavra ou a primeira palavra não dita, não escrita, mas entendida; já tive esperança no sentido do corpo desejado e conquistado.
E sorri tantas vezes com os olhos a brilhar.
Riso e choro, ainda com supremacia de gente, face às algas que não consegui entender.
Já acreditei na vida depois da morte; e na morte como fim e descanso. Apenas no silêncio!
Acreditei nos segredos que solidificam poderes, intimidades, instâncias últimas da partilha e do protagonismo que temos no coração de alguém, esse exercício mais desejado do possuir.
Acreditei no Sol, como motor da manhã e dos dias passados perto de alguém.
E na noite que fazia sentido reinventado letras, desenhando-as como no começo de todas as coisas: contando histórias na pele.
De nada disso hoje sobra senão o corpo cansado: os olhos que se fecham inchados, lentamente; sem fé, mas sem desespero.
Sem crença, mas sem raiva.
Um cansaço enorme, sem noite; sem dia; sem querer, mas sem revolta.
Um sono enorme sem sonho!

Que amanhã o dia seja outro. (Isto afinal ainda é desejar....).
Porque a respiração da minha filha certamente me vai fazer acordar.
Cansaço será? Lucidez que provém das horas que não consegui dormir?
Amanhã outro dia será ... e isso ainda é ter fé, certamente será?

(Descobri que a efabulação e a mentira existem, que são, afinal, reais: arma de alguns contra o sonho de outros; a impotência maior de quem não se consegue enfrentar, de quem não aprendeu o sentido do crescer!).

Eu?
Amanhã outro dia será. E vou continuar, porque o Sol vai espreitar!

3 comentários:

Anônimo disse...

E não só o dia de amanhã.
Que seja outro o presente em movimento e que a fé que temos em nós próprios nunca esmoreça e nos conduza ao porto dos nossos melhores sonhos, porque "o sonho comanda a vida".
Um abraço.
adriano

A Lusitânia disse...

Sim, o sonho comanda a vida, acredita.
Mesmo que haja momentos em que a descrença pareça querer invadir as nossas forças, surpreendidos que somos ainda pela maldade, pela dúvida, pelas nossas incertezas e pelas dos outros que, consciente ou inconscientemente, nos querem contagiar.
Sei que sim, que um novo dia está a começar.
Mas, como já uma vez referi, quanto mais se souber encarar o luto, a dor, a alegria, mais fortalecidos ficamos. E há coisas que só nós próprios podemos encarar.

Anônimo disse...

"sursum corda"
Traduzindo: "corações ao alto"
um abraço