sexta-feira, setembro 12

Talismã, Carlos Alberto Machado

Ofereces-me uma pedra negra mágica que trazes do norte
e as minhas palavras e as minhas mãos detêm-se sem saber
por quanto tempo irão ficar na soleira da noite e do dia
tacteamos os corpos em busca de memórias adormecidas
ocultas por sucessivas camadas de palavras por dizer
deslizamos para o chão sem resposta e o fumo sobe
equilibra-se em nuvem sobre as nossas cabeças e evola-se
em direcção a uma lua vermelha momentaneamente apagada
ao som do bob marley fazes as malas e eu fico
a arrumar as minhas mãos e as palavras atrapalhadas
no fumo desorientado pela ausência de um ponto cardeal
junto cuidadosamente os teus cabelos rubros perdidos
entranço uma bola de fogo e guardo-a na memória
acendo uma dúzia de paus de incenso e imagino uma igreja
de adoradores do silêncio que escorre entre as preces
a tua pedra negra regressa à minha mão fechada
e ilumina como um sol a minha noite em claro
virás por uma palavra?


C.A.M. in Poemário, 2008

Não, não esconderei mais o amor debaixo dos lencóis!
Não o farei jamais