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(...) Aquela era uma cidade do norte, notava-se bem, uma cidade flamenga. A que vinha o nome francês de Anvers? (...) Abriam-se algumas ruas da estação. Perto a praça. Depois da praça, outras ruas, outras praças. A névoa enchia os caminhos, e as pessoas passavam como fora da realidade, apareciam e desapareciam tão pouco humanamente que se duvidava tivessem um quotodiano, a esperança, que morressem, nascessem, morressem. Compreendeu logo que tudo ali seria muito difícil e, por conseguinte, só ali valeria a pena procurar. Procurar o quê?
(...)
Teria um propósito, parecia não vacilar sob as luzes que começavam agora no meio do nevoeiro. Os anúncios luminosos pulsavam: era o corpo da cidade; e essas figurações vivamente entalhadas na noite, essa escrita brusca, renascida, eram indecifráveis para um intruso. Entendemos tão pouco dessas belezas bárbaras da civilização. Ele era apanhado, com o doloroso propósito da descoberta, nas pistas inextrincáveis de uma cidade do norte (...).
H.H., "Descobrimento", in Os Passos em Volta
A ti, obrigada, por, estando hoje aqui, no mesmo sítio, me fazeres redescobrir «Os Passos em volta» e, com ele, as cidades que outrora sonhei conhecer.
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