quarta-feira, abril 23

A «Morte de Marat», David





Sempre que vejo uma toalha branca manchada, me tenho lembro do célebre quadro de Jacques-Louis David, amigo pessoal de Marat, que imortalizou a sua morte desleal, traiçoeira.

Porta-voz do partido jacobino, a ala mais radical da Revolução Francesa, Marat é assassinado por Charlotte Corday, militante do partido moderado dos Girondinos, que se infiltra na sua casa e o apunhala na banheira.
Cruenta morte essa às mãos de uma lâmina, que não sendo a arma fria e mortífera do seu amigo Guilhot (cujo uso Marat tanto havia defendido), o acaba por matar, corpo ferido em lanhos letais.

Tendo sido médico pessoal do conde d'Artois, irmão de Luís XVI, Marat desencanta-se da corte e da aristocracia, aderindo às causas da Revolução que dele acabará por fazer uma das suas próprias vítimas.

O quadro é, para mim uma das obras-primas da Pintura Ocidental! Pena é que David se tenha, depois, tornado o emortalizador de Napoleão...

A Morte de Marat tem sido retomada por inúmeros pintores e escritores, como Munch e Picasso que, em 1931, pinta o soberbo quadro «Uma Mulher de Estilete - A Morte de Marat».

A mim, não me sairá da mente, enquanto a alma mo deixar.

E é um dos quadros da minha eleição, por tudo o que representa e também por essa estranha vingança da vida entre o que "atraiçoa e é atraiçoado".


(ver Wikipédia, Google)

8 comentários:

Anônimo disse...

"O diabo tem uma capa com que tapa e outra com que destapa", diz o povo, e ao que parece, sàbiamente. Será por isso que as revoluções devoram os seus mais leais filhos?
um abraço
adriano

A Lusitânia disse...

Como os Homens devoram aqueles a quem mais amam.
A vida é apenas essa aprendizagem de saber conciliar o amor e o ódio. E daí criar. Ou não será?

Anônimo disse...

Concordo com a tua máxima que nunca tinha lido nem ouvido.
A natureza dos seres é imperfeita e tende para a perfeição, numa busca contínua do seu equilíbrio. Os fanáticos são seres em desequilíbrio que disso não têm uma clara consciência, provocando a morte daqueles que perturbam o seu desequilíbrio, v.g. Marat-Charlotte Corday,(ele o "amigo do povo", ela a aristocrata educada num convento católico da Normandia)e Henrique IV de França-François Ravaillac (a vítima o rei amigo do povo, o carrasco o burguês prof e irmão católico converso) e tantos outros.

A Lusitânia disse...

Pois é, o fanatismo é sempre fruto da revolta, e anda de mãos dadas com a incapacidade de ver que do outro lado do espelho estão pessoas como nós.
É essa arrogância, sim , de se julgar que se tem sempre razão.
Não quer com isso dizer que não haja momentos que a própria vida não se encarregue, ou não nos obrigue mesmo, a pôr as armas na mão. Porque, por vezes, é a única forma de combater.
Mas, continuo a dizer, o caminho está em tentar fazer do amor e do ódio algo melhor do que combater.

Anônimo disse...

Gostei do teu texto do Marat. Pena é que ela, de vermelho, como deve ser, não tenha a seus pés, na fotografia, um lençol branco também manchado de vermelho.
Nunca te esqueças. Marat traiu os seus, defendendo o uso da guilhotina para sua exterminação.

A Lusitânia disse...

Gonçalo, nem a tua defesa da estirpe me consegue fazer aceitar o teu comentário, aliás tão conservador.
Foi uma morte traiçoeira e cruel!
Nunca podemos justificar erros por, ou com, erros iguais.
Não posso, pois, concordar.

A Lusitânia disse...

E não podes esperar Gonçalo que as revoluções se façam de cravos e de rosas... Em França, o mundo assitiu a uma mudança que não se compadeceu com "tratados de ocasião".

A Lusitânia disse...

Mas, hoje, também consigo compreender a assassina, porque há traições que só se vingam com traições. A questão é apenas que conseguir fugir da vingança como sentimento que tome conta de nós.