domingo, dezembro 21

Desculpem-me leitores, mas revisitei o Alentejo e fui visitar a minha amiga Dominique (reed. 13.2.08)

Tantas vezes tive dúvidas em contar esta história da minha amiga Dominique.
Mas afinal trata-se de uma minha amiga, e por ela já havia pedido a vossa colaboração. Por isso vou contá-la, devo-vos afinal uma justificação qualquer.
E também a conto, porque, por vezes, para não nos pormos a chorar com as histórias dos outros e as nossas, apenas nos resta saber fazer humor.
E porque, há quem o diga, a vida supera o melhor romance.



Ora pois, estava eu tão bem intecionada pela manhã, quando, há dois dias atrás, fui ao Alentejo, já a pensar no que ia ser depois e o meu relato do périplo, pontes, caminhos romanos e medievais, cidades "belas e intocáveis" como Évora, com ruas ortogonais, mas também ruas estreitas de mourarias, eventuais judiarias, silos islâmicos, palácios modernos e Igrejas Renascentistas, Barrocas e tantas coisas mais, enfim todas essas coisas "patrimoniais", entre bonecos de Estremoz e cerâmicas de Nisa ou de S. Pedro do Corval, quando me lembrei: caramba estou ainda devedora aos meus apoiantes de abrir uma caixa postal para os donativos que me fizeram para a ajuda no carro da minha amiga Dominique.


Tão mal me senti que lá resolvi telefonar à Dominique para irmos almoçar, porque, bolas ... da caixa postal bem podia ela tratar, pois de uma amiga espera-se muito, bem o sei, mas também temos que nos organizar!
E lá liguei.

- Dominique, - assim se chama a minha amiga - já que aqui vim, queria ir almoçar contigo para te fazer um ponto da situação dos donativos feitos para o pagamento do arranjo do teu carro.
Claro que aceitou logo, o que transformou a minha ida ao Alentejo num verdadeiro percurso de "cusquices de gajas" (peço desculpa à autora do blogue com esse nome, mas, de facto, não lhe resisti), e eis que o meu acontecimento "cultural" toma matizes inesperados, com que de todo não contava.
Pois a atrevida da minha amiga Dominique, com um carro cujo arranjo ainda está por pagar, e tantas outras contas a liquidar, não teve outra forma de fugir à pressão de tal embaraço do que, imaginem só, ir dar mais uma passeata por essa Europa das neves, das grandes montanhas, dos grandes rios e dos lagos!
SENTI-ME VERDADEIRAMENTE VÍTIMA DO QUE QUASE SE DIRIA UM EMBUSTE!

- CARAMBA, DOMINIQUE, COMO FOSTE CAPAZ? COMO VOU AGORA DIZÊ-LO AOS MEUS LEITORES, QUANDO TENS A LATA DE IRES GASTAR O QUE NÃO TENS PARA O TEU CARRO PAGAR????

Calcularão como me sentia, tão furiosa, ao ponto de lhe bater ...

- Não me batas amiga, fiz tudo isto por amor.

- Qual amor qual carapuça, e que explicação vou dar aos meus amigos, e como vais pagar ao mecânico o arranjo do teu carro? Sim, que “o amor é fogo que arde sem se ver”, já sabemos, mas o mecânico as tuas notas vai querer ver e ter!

Mas a tola, com as lágrimas a correrem-lhe pelas faces, fez um ar de cão abandonado, de orelhas bem mais murchas que um cocker, e disse-me:

- Não te zangues comigo, mas pouco ia gastar com a viagem desta vez.

- O Quê? Como podes dizer-me isso? Saiu-te algum brinde num concurso dum detergente? Ou em algum outro artigo do Supermercado????

- Não amiga, nada disso. Prometes que comigo não te vais zangar?
- Prometo Dominique, quero toda a verdade já e “estou em pulgas” por te ouvir.

E a minha amiga, sensivelmente envergonhada, continuou entre soluços.
- É verdade, amiga, o amor perturba as almas simples. E desta vez voltei a pedido daquele jovem helvético com quem acabei por me zangar. Lembras-te, aquele que injustamente julguei, somente porque tive um terrível pesadelo?
Apenas porque sonhei que recebera um telefonema duma senhora que perguntava ansiosa pelo marido, vê lá tu! E, que estupidez, no meu sonho, aflita fiquei. Procurei por todos os cantos do meu cérebro à procura dum marido e, não tendo nada encontrado, acordei sobressaltada.
Recordas-te ainda? ... pois voltei para o visitar!, mas com a promessa de que a viagem me seria económica desta vez, dados os custos cada vez melhores do lowcost. Não se tratou, portanto, dum brinde num qualquer concurso, mas de qualquer coisa que tinha que urgentemente resolver, a todo o custo, para limar algumas arestas que restaram por alisar.




















Lá fiz um esforço para voltar atrás na história anterior da minha amiga Dominique, tantas e estranhas são nos últimos tempos, ... e, sim, acabei por me relembrar. Havia sim uma história qualquer ... e, julgo, certamente tinha sido mais do que um pesadelo, pois, notava-se já nela algum transtorno ao narrar.
A minha amiga Dominique, pareceu-me, continuava a confundir alguns dados, certamente porque era mais cómodo assim o fazer, transformando em pesadelos seus alguns que lhe não pertenciam. Mas também não quis com ela insistir!

- Pois esse, esse mesmo, - continuou a minha amiga Dominique - ligou-me a chamar-me injusta, como tinha conseguido deixá-lo só apenas por causa de um sonho sobre um telefonema ... a dizer que tínhamos que conversar; que tínhamos que nos encontrar para resolver os equívocos, pois eu tinha sido da maior crueldade.
Acabei por aceder ao seu pedido e lá fui, de novo, toda contente, pois o rapaz é bem apessoado e até considerei ter sido, de facto, demasiado drástica, continuou a Dominique.

- E então?, perguntei eu. Que tal correu, porque não acho graça nenhuma que me tenhas posto a pedir, quando tu te pões no laréu ...».

- Tens toda a razão, amiga, mas afoitamente subi ao monte dos sonhos, ao Mont Blanc, e acabei por voltar para Portugal, ainda mais pobre do que Job.

Eu já nem sabia se havia de apiedar-me da Dominique ou de manter o meu ar austero. Mas, gradualmente, quase comecei a sentir ternura por ela, e assim a sua insólita história continuou.

- imagina tu que, no meu regresso, tive outro pesadelo com um telefonema. Desta vez, e se bem que fosse também uma voz de mulher, não perguntava ansiosa e desgostosa pelo marido. O assunto era outro, a ponto de me ter deixado bastante perturbada. Tentava ela convencer-me que ele esta muito mal e queria disso dar-me notícia.
Terei mesmo recebido a chamada, não estaria, de novo, a imaginar? Pois ainda por cima o garboso rapaz que ali tinha ao lado estava com um ar bem saudável e aprumado, não denotando qualquer ar doentio, a menos que fosse qualquer coisa não visível ...do tipo loup cervien. Daquelas coisas que só com muita atenção se podem verificar? Ou será que eu estava mesmo era a endoidar?
Seja como for, se foi verdade, vou esquecê-lo, se é fruto da minha imaginação, por maioria de razão é para entregar ao deus Mercúrio para o colocar lá bem fundo nos abismos do mar.

- Amiga Dominique, - retorqui eu com ar zangado - e regressaste de novo, mais depenada do que foste? Nada estou a entender. E o carro por pagar???? Nem posso acreditar!
Que história essa a tua mais tola, de um pesadelo com uma senhora que te liga, quase a sufocar pelo marido não encontrar e que, depois, te .... volta a telefonar, com ar maternal falando dum assunto que não sabes bem recordar, mas que te deixou a alucinar?
Nada estou a entender. Belas desculpas tens tu para as contas não pagar e ainda por cima te pores a passear!

A minha amiga Dominique, não sei se para se desculpabilizar, desatou a chorar. Que outra coisa podia ela fazer??? O carro a apodrecer, pois nem a vossa benemérita colaboração vai dar para as dívidas saldar, com o Visa ainda pior, e, para grande desgosto dela, nem com a minha colaboração vai, doravante, poder contar!
Gaita afinal, para que serve uma amiga como eu que bem a tenho avisado, ajudado a leilões montar, quando, verdade, verdadinha, o que ela quer é andar para aí a passear!!! E ainda por cima sempre a inventar historietas de alguidar!

Desculpem-me, portanto leitores e colaboradores, pela vossa melhor dedicação, mas já nem sei como me justificar da minha irresponsável amiga Dominique.

E PIOR AINDA, COMO HEI-DE OS VOSSOS DONATIVOS DEVOLVER? PORQUE PARA ISSO NEM A CAIXA POSTAL VAI DAR!!!!
E COMO POSSO TER DEIXADO DE FALAR DO ALENTEJO HOJE PARA TAIS HISTÓRIAS ATURAR????

Adeus amiga Dominique. Não só o carro vais ter que pagar, como nem as fotografias te vão salvar! Porque, desta vez, não te vou ajudar!

Ou acham, minhas amigas e amigos que a Dominique merece uma segunda oportunidade? Com a promessa de que não volta a sair sem a sua cabeça definitivamente arrumar!

Aceito sugestões. É que, ainda por cima, o espírito natalício anda no ar, e, mesmo que não queira, dele nos acabamos por contagiar.





















Cá por mim, julgo que não vou dar mais para esta causa, mesmo com o presépio já montado em casa e o Menino Jesus a apelar.
A Dominique que vá contar histórias para outra freguesia.
Quanto ao seu amigo helvético, sobre ele nem me posso pronunciar, pois acabei por mal o conhecer.
Mas que se me ajuiza uma bela Caixa de Pandora, ai isso sim.
Qualquer dia, parece-me, que consegue ultrapassar todas as histórias fantasiosas que conheço e ainda ganha o prémio do concurso de surpresas com uma viagem a Portugal!





















Fotografia do prato: http://alentejosapientia.wordpress.com

ET: Claro está que esta história é totalmente ficcionada.
Com ela queria apenas ver se conseguia mais uma "coroas" para o NATAL, e certamente porque já era, de algum modo, repetitiva, poucos donativos obtive e nem deu para o leilão promover!!! Lá vou ter que puxar pela imaginação para as prendas do "Pai Natal" poder comprar. É que já nem sei mais o que fazer.
E, verdade, verdadinha ainda esperava arrecadar mais uns trocos para a viagem da passagem do ano, pois queria ir a NY e para lá não existem voos lowcost!

5 comentários:

Anônimo disse...

Bem sei que sou muito racionalista e nunca consigo ter o teu humor. Mas não resisto a responder.
Cá por mim o que ela devia fazer era juntar umas coroas mensais, que dessem para passear descontraidamente, sem se se dar ao luxo de ter pesadelos.
E desde que te consiga ainda contar umas histórias divertidas que não se preocupe mais!
Custear viagens, isso é que não. Quanto muito por cada bom conto teu nós damos um contributo e tu, se quiseres, propões-lhe uma comissão.

Alberto Oliveira disse...

Este texto, que se iniciou na "primeira solicitação aos bloggers amigos" foi uma surpresa e uma revelação.

Parabéns pelo humor demonstrado!

Anônimo disse...

Como sempre, conseguistes divertir-me.Parabéns pelo humor demosntrado!!"Valeu" princesa

Anônimo disse...

Li o seu conto, cà para mim, Todos merecemos uma segunda chance...Ou não???

bettips disse...

Acho que a Dominique teria mais jeito para cantar o fado!
"...na rua do meu ciúme..."
A fantasia tem limites - e às vezes bem caros!
Bj