sábado, dezembro 20

A história secreta de um presente voador (reeditado de 4.06.8)


Hoje cheguei ao trabalho e a minha vice-presidente chamou-me a rir e perguntou-me:

«Que era aquele tabuleiro com flores e Moet Chandon que vieram aqui entregar ontem e que ficou na sala de entrada do meu gabinete?»

Respondi atrapalhada: «Foi um presente. Um presente que me fizeram chegar».

«Que belo presente disse ela, pena é a garrafa não ser das maiores. Certamente quem to mandou muito amará», não sabendo ela quanto o meu amigo gosta de manifestações teatrais.

Quase a vi tentada a perguntar-me com quem a ia beber ... mas felizmente teve a sensatez de não o fazer! Não saberia, por ora, o que lhe responder.

Mas, continuou ela, «nem imaginas o que o teu presente originou.
É que parou uma carrinha dentro do pátio do Palácio, quando vinha o senhor Ministro a entrar (sabes que agora no pátio só param os carros que para isso estão autorizados ...)».

«Sai um homem da carrinha com um tabuleiro que tinha umas jarras com flores e uma garrafa de Moet Chandon. O senhor ministro, embasbacado com a situação, parou e ficou a olhar. Depois sorriu e continuou».

«Ao passar a entrada do palácio estavam seguranças e motoristas e um deles disse (mesmo conversa de motoristas quando não têm que fazer)"que mal terá feito o homem que isto mandou para assim ter que se tentar fazer perdoar"?».

«Espero que quem to mandou saiba a garrafa contigo beber», disse-me ela com os olhos malandros que tem nos dias em que pela boa disposição se deixa invadir.

Saí da sala a rir para dentro. Pensei, uma vez mais, como a realidade supera a melhor ficção. Porque esta história, acreditem ou não, é totalmente real.

Ainda não abri a garrafa. Falando nisso, espero que não rebente, porque dela me esqueci no congelador.

Os meus amigos mais pessimistas ou mais racionalistas dirão «toma atenção, há serpentes a olhar os olhos do passarinho, toma mesmo atenção»; os mais sonhadores dirão «goza o presente como se fosse o de mais íntimo que te possam ofertar».
Outros, magoados, pedir-me-ão que largue os seus, por esta história verdadeira contar.

Mas um facto é, hoje, no bar, em nada mais se falava do que no presente que me tinham vindo entregar.

Eu deixarei as rosas, dentro das duas jarras, a olhar para mim enquanto saboreio os chocolates que lá vinham também, porque foi um presente como aquelas coisas que, sendo quase virtuais, são indizivalmente reais. Porque mo fizeram chegar. Mesmo que teatral, é um facto que mo fizeram chegar.



P.S.: Bem me parecia que o presente estava envenendo. Cheguei a casa e a garrafa tinha estoirado no congelador!
Não fosse o mau agouro expandir-se, resolvi as jarras negras no lixo pôr, porque não era coisa que se fosse pensar guardar para um dia poder voltar a dar a alguém! Além disso eram feias de morrer e ainda por cima tinham sido compradas em duplicado, talvez por ser mais módico o preço por dois exemplares iguais!!! Ora bolas, quem se lembraria de presentes tão similares oferecer? Triste ideia essa, quase me parece aquelas mensagens em versão "cadeia" que também por aí andam a proliferar

2 comentários:

Alberto Oliveira disse...

... desculpa invadir o teu espaço a tão matinal hora do dia mas todos os momentos disponíveis os aproveito para pôr a "correspondência" em dia.

Não somos os melhores críticos de nós próprios: ou por desmesurado pudor ora pela ânsia de alcançarmos reclamadas perfeições. Este texto, tem a graça primaveril de um ramo de flores campestres e o inebriante sabor dum Moet Chandon. Parabéns! e...

... agradeço que te tenhas lembrado da minha humilde pessoa.

Tem um óptimo dia!

Anônimo disse...

timeo danaos dona ferentes