sexta-feira, dezembro 18

Amadeu Baptista: Obrigada. Será hoje meu o teu poema ...



E sabíamos todos que a hora

era chegada e tudo em volta

escurecia,

...

e que, em Port-Aven,

era chegado o tempo da colheita

e os campos estavam todos amarelos.

...

E aconteceu que as mulheres da Bretanha

ajoelharam,

e vinha eu no caminho

e via a luz,

...

e os meus olhos cegaram para que visse

a roda do matírio

e o escárnio.

...

E aconteceu que as cores se saturaram,

e a paleta recebeu,

vindas do céu,

as cores

...

e eu enchi a tela de perguntas

e, pelo esplendor,

atirei-me ao chão

e em mim senti um som sombrio.

...

E vi, então, que as mulheres

choravam

e que os homens não se compadeciam

de quem sofria.

...

e tudo tinha um brilho

esplêndido,

um brilho sobrenatural,

à minha volta

...

E aconteceu que se ouviu cantar o galo

e que toda a terra se abriu para aquele brilho.

..............


Amadeu Baptista, Paul Gaugin: O Cristo Amarelo

Um comentário:

cris disse...

este poema é tão lindo que é de ir às lágrimas. obrigada (a quem o escreveu) e a quem aqui o afixou :)
beijo de bom fim de semana