sexta-feira, julho 24

Porque pode ser a «Mentira» um pecado capital? (reeditado)

Estando-se já em pré-campanha eleitoral, e reconhecendo-se. com justeza ou sem ela, que a mentira é identificada como um atributo dos políticos para que, deste modo, exerçam sobre os outros uma forma específica de poder, mas sendo, também ela tão presente na vida do comum dos mortais, usada como sustentáculo da maioria das relações, aproveito o período das férias, onde tantos simulacros de paraíso e de prestígio social ou de bem estar se projectam, para fazer um repto: pensar a mentira, como mais um exercício de prepotência de alguns que sobre os outros (os que acreditam e os que, mentindo também, num processo de mimético, fazem crer que acreditam).

Porque poderia a Mentira ser um pecado capital? Porque, efectivamente, pode enformar, moldar todos os outros "pecados capitais", transmutando-se de forma substantiva em forma adjectival de todos eles?

Porque não serão a Soberba, a Luxúria, a Ira ... tantas vezes senão meras subsidiárias da «Mentira»? Ou sua consequência?

E, contudo, nada pode envenenar mais a vida do que a «Mentira» ou a «Não Palavra». Não digo a Palavra Não Dita, ou a omissão, mas, a «não Palavra», enquanto isso mesmo, enquanto o contrário do que é.

A mentira é o pecado por excelência, tendo sempre por companheira a cobardia, a desonestidade, a vaidade de se querer ser o que não se é, ou pânico do confronto de nós para nós!

E a dúvida, mãe da descrença, não será também ela senão filha da ausência da "Palavra" ou da "Mentira"? E com ela, da ausência do gesto?

A mentira pode fazer elouquecer!
Deveria ser punível como outra coisa qualquer - é o roubo da alma de quem nela crê.

Não obstante, ao mentir, é a nós próprios que estamos a enganar. É a nós que estamos a falsear.

E, apesar de tudo, há quem se disponha sempre a acreditar na mentira, porque dela lhe advém algum prazer especial, algum proveito ou, pura simplesmente, porque gosta de ser enganado e assim poderá enganar também.

Por isso até o Senhor, O Senhor da Palavra e da Crença, precisou do valor da palavra e do gesto e disse « Por que estais aflitos e por que se levantam dúvidas em vossos corações? Vede minhas mãos e meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede, porque um espírito não tem carne e ossos assim como observais que eu tenho. (e dizendo isto mostrou-lhes as suas mãos e seus pés). (...) Disse-lhes então: "Estas são as minhas palavras de que vos falei enquanto ainda estava convosco, que todas as coisas escritas na lei de Moisés, e nos profetas, e nos Salmos, a respeito de mim, têm de se cumprir" (...) haveis de ser testemunhas destas coisas (Lucas 24:39). Sagradas Escrituras.

Que o Sol, o Sal e a Luz lavem as mentiras que, tantas, tantas, pelo Mundo há!
E que o retorno das férias traga uma depuração especial.

5 comentários:

Nathália Band disse...

mas a mentira passa a ser verdade, se todos acreditarem nela como tal. se todos quiserem que ela seja verdade. e em algumas situações é melhor o refúgio da mentira do que a dor da verdade.
intão se a mentira passa ser contada como verdade para polpar um sofrimento.
mentir não é pecado. é boa ação

A Lusitânia disse...

Bem sei que a mentira pode ser piedosa .... mas nem a piedade é caminho para qualquer lugar!

Prefiro a outra sua frase, editada no seu blogue, que diz qualquer coisa como «que só quem sofreu é que sabe que pode sobreviver».

A Lusitânia disse...

Já agora, como conseguiu chegar a este Luar?

Anônimo disse...

Aquilo de que o homem não tem conhecimento não existe para si.Se para cúmulo, se tudo o que lhe vem ao conhecimento vem embrulhado em mentira ou meias verdades, temos aqui um homem envenenado. A mentira pode ser a droga que alivia, mas não redime nem salva. Por isso se diz que o diabo é o pai da mentira, sem qualquer distinção. "Fortior omnium vincit veritas"

A Lusitânia disse...

A mentira é simplesmente isto: o contrário da verdade, seja ela piedosa, para nos fazer acreditar e projectar; maldosa, inconsciente ou preversa. É sempre exercício do poder.