quarta-feira, junho 10

Lusíadas, Camões




(...)
Ali quer que as aquáticas donzelas
Esperem os fortíssimos barões
(Todas as que têm título de belas,
Glória dos olhos, dor dos corações,
Com danças e coreias, porque nelas
Influirá secretas afeições,
para com mais vontade trabalharem
De contentarem a quem se afeiçoarem.

Tal manha buscou já, para aquele
Que de Anquises pariu, bem recebido
Fosse no campo que a bovina pele
Tomou de espaço, por sutil partido.
Seu filho vai buscar, porque só nele
Tem todo seu poder, fero cupido,
Que assim como naquela empresa antiga
A ajudou já, nestoutra a ajude e siga.

No carro ajunta as aves que na vida
Vão da morte as exéquias celebrando,
E aquelas em que já foi convertida
Perístera, as boninas apanhando.
Em derredor da Deusa já partida,
No ar lascivos beijos se vão dando.
Ela, por onde passa, o ar e o vento
Sereno Faz, com brando movimento.

(...)

Os Lusíadas, Canto IX

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