sexta-feira, outubro 4

A propósito da República: ser Mulher hoje (reed. de 04/10/09)




Ana Maria Gonçalves Dias defendeu, em 1910, no Congresso Republicano do Porto, que "todas as mulheres feministas devem ser em Portugal republicanas, visto que só da República podem aguardar leis igualitárias e justas".

Ana de Castro Osório, por seu lado, esclareceu recentemente que muitas das activistas aderiram à República apenas por empatia com os seus maridos e parentes masculinos, porque ao fazê-lo, estivessem "eles contentes, e elas ficarão satisfeitas no seu papel tradicional de dedicadas e modestas companheiras"

Ana de Castro Osório destaca-se dessa posição, afirmando "Eu (...) quero a República como libertação e felicidade para as mulheres, visto que a humanidade é composta dum só grupo de animais , indiferentemente masculinos ou femininos".

Citação a partir de : Mulheres e Republicanismo (1908-1928)

Considerando a Democracia Republicana o regime que julgo poder, pese todas as suas dificuldades, defender melhor os cidadãos, independentemente da sua condição ou estatuto, venho, contudo, questionar:

"O que mudou para as mulheres"?

- Maior Igualdade no trabalho e em casa? Sabemos bem como ainda é irreal: basta ver as estatísticas e ter em atenção os condicionalismos que muitas mulheres têm nas suas carreiras por, em termos práticos, lhes ser ainda imputada, quase a título exclusivo, a responsabilidade dos filhos.

- Maior Liberdade, quando delas se espera que continuem a usar os padrões ético-morais seculares, guiados por manifestações totalitárias de pensamento?
Poderia aqui (apenas como repto para a reflexão), salientar que continua a haver grande diferenciação no estatuto das "mulheres casadas", de moral inquestionável, mesmo que não o seja, as "divorciadas", as "amantes" e as "outras", aquelas que não se querem inscrever em nenhum estatuto e apenas querem ser mulheres e indivíduos.


- Maior Fraternidade? Nem isso, enquanto as mulheres continuarem a ser as maiores juízas umas das outras, utilizando essa estratégia como mecanismo de luta contra as desigualdades que sentem na pele, numa sociedade em que, embora com cada vez menos protagonismo, o Homem continua a querer dominar.

Porque amanhã é dia da República, e porque partilho de muitos dos princípios das Feministas Republicanas deixo aqui, de novo, o meu Grito Feminista (reeditado) a que hoje chamaria o meu "Manifesto de Mulher, Mãe e Amante", porque no fundo o que todas queremos é, mais do que tudo, ter a liberdade de decidir sobre o nosso corpo, o nosso trabalho e os nossos afectos e com eles encontrar o equilíbrio a que temos direito, independentemente do estatuto ou condição.


Se hoje pudesse eleger duas mulheres republicanas (e alentejanas do Mundo), dedicar-me-ia a Adelaide Cabede e a Alda Guerreiro, pela luta dos direitos das Mulheres e dos valores republicanos.

Um comentário:

Alberto Oliveira disse...

... um post bem a propósito da efeméride complementado com as tuas interrogações não menos pertinentes.

Óptimo feriado!