Muitas vezes me tenho questionado sobre continuar este blogue ou não, uma vez que, tal como já o afirmei noutras ocasiões, foi concebido exactamente para ser como que uma espécie de "caderno de campo" com apontamentos, reflexões, sensações, emoções, partilhando experiências, conhecimentos ou vivências.
Obviamente, ao ser concebido assim, não só não é fácil injectá-lo continuadamente com assuntos, temas ou experiências de interesse particular, pois o tempo não é todo o do mundo, e a imaginação e paciência também se esgotam ...
E, não obstante, é necessário manter (ou alterar, claro está) um conceito e dar-lhe conteúdos.
Tenho consciência e partilho da ideia que qualquer pessoa, em qualquer esfera da vida se expõe, quer em casa, onde também há fortes "mecanismos de representação ou de expectativa", na rua, no bairro, onde vizinhas observam atentas (ou não), no trabalho, onde os nossos pares são também os nossos "juízes" ou conselheiros, enfim ... em qualquer lugar, porque, efectivamente, só não se expõe quem não vive, quem não faz ou não sente.
Claro está que também num blogue!
Entra-se aqui, portanto, numa outra esfera mais difícil de definir e ainda mais de separar, que é a esfera do "público" e privado a que as pessoas denominam "privacidade".
Afinal de contas onde começa a "intimidade" e a nossa vida pública?
No trabalho?
Na blogosfera?
Em casa?
No nosso quarto, onde nem sempre podemos ler até à hora que nos apetece?
No sofá que, por vezes, partilhamos, mesmo quando nos apetece estar sós?
No momento em que nos respeitam ou devassam mails ou msn?
No momento em que descalçamos os sapatos ou tiramos a roupa com que chegámos da rua?
No momento em que socialmente nos mostramos serenos, como convém, ou em fases de convulsão?
Na fachada da casa, ou naquilo a que se chama o "dentro e fora" daquela porta?
Nas festas de Natal, da Páscoa ou do Carnaval?
Curiosamente, muitos dos analistas deste tema acabam por aceitar que há uma constante no Mundo Ocidental. Que a noção de privacidade ainda se continua a conotar genericamente com a sexualidade, pois a sociedade ainda a considera um tabu, algo de que não se pode publicamente falar, até porque sobre esse tabu assenta ainda uma representação moral, onde "tudo se pode passar" desde que desse "tudo" não se possa falar.
Não sei definir essa noção, confesso, a da "privacidade", pois também a ela se vai associando gradualmente a ideia de que é o "espaço físico ou psicológico" onde estamos livres de qualquer poder. Difícil discussão ...
Uma coisa sei, continuarei o meu "caderno de apontamentos" ciente que, mais do que tudo, o que pode ajudar a construir a privacidade, como pilar da individualidade, é o respeito ao direito de ser igual ou diferente. E que ela se constrói por empatias, mas também por oposições.
É também o lugar de conseguirmos estar sós!
Faço um repto aos meus leitores e comentadores ... ajudem-me a responder onde começa a privacidade de quem faz e a de quem lê?