segunda-feira, agosto 24

Lacobriga e a Ponta da Piedade



A Ponta da Piedade (nas fotografias) descrita por Manuel Teixeira Gomes, sétimo Presidente que a República Portuguesa teve, homem do mundo e algarvio de Portimão:
«Caminho estreito e arenoso, entre sebes de cornicabra por onde assomam com frequência as pás das figueiras da Barbaria, ali muito definhadas pela exposição e violência dos ventos reinantes.
(...) Ao longo da "Ponta da Piedade", e depois cercando-a, crescem no mar inúmeras rochas acasteladas, algumas ligadas por arcos naturais, e dispostas em tôrno de pátios onde a água se faz transparente como esmeralda líquida (...).
A água conserva-se até onde a vista alcança, no mesmo tom de turqueza molhada, e o corte perfeito da penha de Sagres, perpendicular, rectíssimo, acaba no horizonte a linha de costa.»

Manuel Teixeira Gomes, in Regressos





O território hoje designado por Algarve entrou na esfera de influência romana nos finais do século III ou inícios do século II, quando Gadir (Cádis) reconheceu a supremacia latina.
As fontes clássicas referem que foi ocupado, antes da chegada de Túrdulos e Celtas, na segunda metade do I milénio a. C., pelos Cónios, um povo de origem não Indo-Europeu.
Na costa algarvia quer Plínio, quer Pompónio Mela e Ptolomeu nomeiam a existência de uma importante localidade designada Lacobriga, entre as que também o foram no período compreeendido entre os dois primeiros séculos de dominação romana, situando-a Plínio entre as populações célticas e Mela refere-se-lhe junto ao Promontório Sacro ...
A povoação Lacobriga, cujo topónimo deve ter dado origem à actual Lagos, deveria situar-se junto de Monte Molião, onde se encontraram importantes vestígios arqueológicos, se bem que sejam também conhecidos achados de origem romana em Lagos, muito possivelmente devido ao desenvolvimento de um núcleo portuário.

Lacobriga deve ter devido a sua importância à produção de preparados de origem pescícola, como o denuncia a existência de conjuntos de cetárias.
O núcleo urbano deve ter sido abandonado a partir do século VII.

Se quiser conhecer um pouco mais de Lagos em Período Medieval, proponho a leitura de:
Entre Muralhas e Templos: a Intervenção Arqueológica no Largo de Santa Maria de Graça (2004-2005), coordenada por Marta Diaz-Guardamino e Elena Morán.

A obra centra-se na intervenção efectuada no Largo de Santa Maria de Graça (onde se teria implantado a Igreja Matriz de Santa Maria de Graça, que fora edificada no século XIV), onde se situava um cemitério medieval, utilizado durante a Época Moderna e Contemporânea, até ao século XIX.
No século XV, este cemitério recebeu a primeira sepultura do Infante D. Henrique, falecido em Sagres, tendo sido posteriormente trasladado para o Panteão Régio de Santa Maria da Vitória, na Batalha.

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