quarta-feira, agosto 13

Espelho (reeditado)


Imagem: Espelho, Ana Vieira


Se tivesses que te olhar assim que verias?

Pensa bem...
Que imagem seria a tua refectida no espelho?
A da coragem ou do medo cravado no rosto?

Verias nele a imagem da pessoa que temes,
que amas ou que te dá prazer?
(Talvez devesses guardar essa imagem, para a poderes reter).

Seria o retrato de alguém que até do próprio espelho, da sombra, tem pânico,
ainda por cima mascarando-se com um ar de destemor?

Que baixa os olhos acossado, para não ver

Ou de quem os vai levantar, finalmente, sem temer?

Verias muitas mentiras ou apenas ilusões?
Tantos são os reflexos irreais!

O rosto da lealdade ou o da maior desfaçatez?
Perfídia ou extrema lucidez?

Uma imagem, ou duas e três?

Que verias tu espelho meu
no mar revolto que para ti continuas a construir
e onde os outros queres enredar.

Faz, pelo menos, um esforço, foca bem a imagem uma vez.

Tenta olhar-te demoradamente e com atenção.
Porque se não o fizeres, podem os que te rodeiam simular que te estão a respeitar,
mas tu, sabes bem que tenho razão, de máscara terás que andar por o não teres sabido fazer.
E eles, no fundo, também, por não quererem ver.

Sim, fá-lo, sabe isso fazer!
Porque um dia todos temos que nos enfrentar!


Não te importes com os outros. Somos nós a nossa maior construção.
Os outros apenas serão o reflexo do que conseguimos também ser.
E viverão sempre melhor se a imagem se conseguir encarar.

Fá-lo por ti. Sem medo do que possas ver!
Fecha depois os olhos, suavemente.
Chora se te apetecer! Ou sorri.
Talvez o sono tranquilo te visite assim.

Talvez aí me possas falar, quem sabe, depois, tenhas algo de verdadeiro a dizer.
Me possas ver "olhos nos olhos", sem o rosto ter que baixar.

Mas não o faças, nunca às escondidas, ou de madrugada, porque isso fazia a PIDE nos seus anos vorazes.

Fá-lo com a luz do Sol, sem teres que te esconder de ninguém, porque já nem idade tens para a tua intimidade não respeitar e, muito menos, para que sobre ela os outros se sintam no direito de decidir. Não será?


Que mais queres fazer afinal de ti? Continuar a fugir?
Pára sim, por ti, por todos a quem dizes amar.
Pela amizade que ainda possa restar ...
e pelo melhor de ti que ainda possas guardar.


Nada mais te quero dizer.

Se o faço é ainda porque espero que, um dia, consigas levantar definitivamente os olhos do chão ...

Porque, mesmo na morte, há que, com dignidade, saber enterrar!!!.


E muito menos te darei tempo de antena aqui (que parece só te ter agradado quando te servia a vaidade, pois aí não temias sequer comentar! Não era pública, então, a manifestação? Apenas tinha outros assitentes no camarote)

Mas isso não mais farei.
Está na altura de seres tu a conquistar o teu lugar.
Está na tua vez de criar algo que te caiba bem e que te faça, de facto, feliz.
Desejo sinceramente que sim.

E aprende de vez: não querias que a realidade seja "real" apenas para o que te convém.
Se ela o é para o que te apraz, então o que há a esconder?
A intimidade, repito-o, a ser um lugar especial, tem que ser tratada de igual para igual!
Não lutamos nós para que, a vários níveis, na vida, haja a maior equidistância???? Ou é a fingir também?

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