terça-feira, outubro 14

À minha filha. Porque não são os filhos as desculpas dos pais, mas apenas a sua força mais (reed. Maio 2008)





Quando cheguei a Évora, há uns anos atrás, experiência para viver, sem amigos, sem família e sem alojamento , tive de presente, para culminar, ficar prenhe de um ser.
Primeiro pensei, são apenas uns "espenicões" na barriga (como se diz naquele lugar)... ou, quem sabe, a idade me está já a atraiçoar!
Na mão tinha um livro emprestado da minha mãe «Chocolate»;
No saber e no querer tinha tantas ilusões!...
Nasceu uma criança, o meu «princípe sapo» que, por sinal, e tal como seria de seria de imaginar numa casa de tantas mulheres como era a minha, era fêmea também.
Mariana de seu nome, Alcoforado, não será! (espero-o eu, pese a sua bela escrita que algumas Feministas como eu ainda conseguem manipular. Porque Mariana Alcoforado foi mulher e de desejo. Mas o vilão, o cavaleiro francês toda a vida a fez esperar ...).

Pensei ... desistir? Vou à base retornar... vou fugir do que me tinha proposto fazer?
Mas não, continuei a ler e a trabalhar.
Mariana comigo e eu com ela a refilar e aprender a ser mãe e filha, mãos dadas com a alegria.
Viu os barros de Beja e os campos onde o Sol ainda se põe. Assistiu à solidão de dias e à comunhão de bairros. Viu-me amar muito, rir e chorar.
Sem temor, ela e eu aprendemos que nenhum sentimento ou emoção são de esconder, de fingir ou de evitar. Há apenas que os encarar.
E assim aprendeu ela a escrever e a cantar, correndo campos fora e amigos a acompanhar.
Mochos de ciência e de sorte ainda conseguiu encontrar e chamou os bombeiros para um gato assustado árvore acima poder arregimentar.

Ela e eu acreditámos que a seara semeada de tempo podia ser o nosso lugar.

Não ... o Alentejo é grande, mas não era o nosso espaço de habitar.
Tão longe, tão longe tudo, que, quando agremiadas as gentes, em alguns lugares, pouco mais fazem do que tentar controlar o que de cada um pertença é, perdendo o essencial!

Vamos partir, está na hora, de outros lugares conhecer, filha minha, o sapinho transformado em princesa e que se tornou o ente encantado do meu ser.
E assim foi, fomos acampar noutro lugar. O mesmo onde estamos agora, mesmo que para ela ainda hoje não tenha sido grande solução, pois deixara amigos e tanto espaço para brincar.

Para mim sem searas, mas sem medos da solidão, pois esta é a cidade que desde cedo aprendi a amar!

Sítios grandes estes, cheios de gentes, mas com espaços para outros lugares.

Sim, livro na mão, ela e eu fomos outro sítio espreitar. Trazia novos sonhos e uma vontade enorme de ser feliz, pois a mudança vinha de mãos dadas a tantas outras ilusões.


Ainda ao meu Museu da Memória, à minha filha, micróbio meu, sapo encantado dos dias a desvendar, aos milagres do ser ... SIM, A TUDO ISSO, o melhor do meu ser.

Porque, se filhos nossos são, nada que lhes seja atribuível poderá servir de desculpa para não tomarmos decisões, isso aprendi eu com o meu sapo tranformado em princesa. Só se esconde nos filhos quem com eles não soube crescer!
Nem um dia me fez desistir, apenas continuar, esta "infecção" de que, para sorte minha, nunca me vou livrar:

Mariana
Nascida em Outubro 1999
Olhos cor de azeitona
"Peste" de cognome e convicção

Micróbio na minha pele
menina que a tudo diz não.

Resposta rápida,
mas com a mentira bem escondida debaixo do colchão
porque viu, desde cedo, que a palavra
é a única força que temos na mão.

Para a mentira pede licença
como já não pede para me invadir,
mas quero, quero sim, este meu tão único luar.

Não sendo de Maio, a Mariana é a rosa do meu quintal. É Mulher de Maio meu.

Para ela fica a reedição de um episódio que quase me cortou o ar.


"Estou mais exausta do que é costume. Fui a Santiago... tentei ainda acabar os textos de madrugada, mas não consegui todos ... tentei, mas não consegui acabar todos os textos que tinha em mente, nas minhas madrugadas.
Não tenho parado de tremer estes dias, de novo, outra vez assim!!! Cansaço, demais, cansaço.
Mas nada se compara ao que hoje senti ao chegar ao colégio.
15 min atrasada ... apanhámos um desastre na estrada, talvez numa estrada do sul ... Santiago, será?; houve que pedir uma ambulância ... eu, como sempre, com os minutos contados para chegar ao outro lado do espaço ... ao lado interior do Alentejo ... ao ponto de quase me apetecer deixar o homem na valeta; bêbado .... partiu um carro, mas parecia estar consciente ... os minutos contados ... aquele stress de não me atrasar ... de não pedir à Ângela; à Alexandra ... ou a outra qualquer, a quem mais poderia pedir??? Não, vou eu ... mesmo que com 15 min de atraso.
Chego, finalmente ... com os tais minutos de atraso ... a Mariana, onde está ... e a Tété que hoje vinha com ela cá para casa???? pátio ... não ... pavilhão de ginástica .... não estão .... entrada ... não ... quem as viu afinal??? há pouco estavam mesmo aqui ... mesmo há uns minutos atrás .... diziam. Um telefonema do Segurança do meu trabalho ... eu tinha ficado sem bateria num dos telemóveis para chatear .... uns minutos, uns quilómetros antes ...A senhora, onde está ... estou aqui no colégio ... porquê??? É que a sua filha está aqui no trabalho .... com uma amiga ...
Amaldiçoei possíveis transportadores imaginários que lhes tivesses dado boleia ... sem me avisar ....angústia, porque o telemóvel tinha ficado sem rede ... se calhar tentaram ligar esses "beneméritos" ... gaita e eu sem bateria .... porque me hei-se atrasar??? O homem na valeta??? Não, tu que não páras de te atrasar ....
Afinal não, elas foram lá ter ... as duas sozinhas ... lembraram-se assim de me fazer uma surpresa ...No trabalho, atravessando as circulares à cidade ...de mochilas às costas, ruas fora ... as duas...
Mãe não chegavas ... viemos fazer-te uma surpresa ... mãe .... atrasaste-te .... mãe estamos aqui, que pena não estares antes ... queria mostrar a tua sala à Tété
Eu ... sei ... lá ... tremuras ... pernas ... mãos ... coração ... revoltas ... e elas as duas sorridentes!!!Não parei ainda de ter vontade de chorar ... ela não saiu de castigo hoje ... nem um minuto ... mas o castigo merecia-o eu que me atrasei ... sei lá.... um homem quase morto na estrada ... mas quem se atrasou fui eu que sou mãe ... chorei ... choro ainda ... muito ... choro e se pudesse chorava mais ainda mais ... já não sou capaz de mais nada... apenas de dormir ... depois de uma vela acesa .... de uma Mariana aqui; felizmente aqui .... castigo, sim ... mas aqui.
Que eu já me castiguei a mim ....
Vou dormir com ela; pois ... quero-o sim ... para ver se sossego o choro ... se o acalmo ... que amanhã será outro dia. O que foi que fizeste Mariana? Mãe, atrasaste-te ... e eu quis fazer uma surpresa!!!
Senti-me tão sozinha ... vou dormir ... hoje não consigo esperar por nada mais ... só dormir ...Outro dia será amanhã ... mãe ... vamos dormir ... que bom é afinal, ouvi-lo!


Sim, vou tentar dormir sem pesadelos ... amanhã é outro dia e a Mariana está aqui hoje perto de mim!



E ela é a melhor coisa que a vida me pôde dar!

2 comentários:

angelá disse...

:)prefiro ficar em silêncio e sorrindo, de quem conhece...

bettips disse...

Combater pelo que acreditamos e para aperfeiçoar a justiça, ou a equidade. E já agora que estamos em tempo de bíblias (vim da Salomé) que tal o exemplo de Salomão para descobrir a verdadeira mãe? Se se ama da carne, preferimos perder a deixar morrer. E não me venham com a ideia da justiça cega... que o humano pensa e age e mata sem necessidade.
Mariana é fruto do teu querer e sabor da tua vida, cúmplice dela.
Bj