quinta-feira, março 19

Aos pais e aos avós



O meu avô, Raul Marques Barata, era beiráo, nascido na Sertá.
Não sei se disso, ou do que vida o transformou, era austero e metódico, nas suas mais infímas actividades.
Catalogava os seus livros, onde colava na combada o respectivo selo carimbado, enchendo a estante que tanto me fascinava em menina.
Em Porto Amboim, onde foi despachante oficial, o seu escritório e os anexos por trás da casa eram o meu lugar de predilecçáo.
Sei que foi uma das pessoas que mais me marcou a infância e adolescência e, como ele, vi os primeiros grandes navios e produtos que para mim eram novidade.
Na pequena cidade onde vivia, Porto Amboim, náo havia advogado, mas devido à sua profissáo, tinha inúmeros livros de Direito e fazia de consultor antes de as pessoas se deslocarem ao outrora designado Novo Redondo, hoje Sumbe.
Quis a ironia da vida que dele pouco tivesse herdado, mas coube-me ainda alguns livros de Direito e umas colecções de postais.
Sempre desejou que um dos netos se formasse em Direito, alegria que nenhum lhe deu, pese eu própria ainda me ter inscrito por uns meses, em 1975, para logo optar pela História, como tanto desejava.
Hoje, porque a vida tem ciclos que se têm que fechar, ao ter que falar de Direito Romano em Porto Amboim, agradeço tudo o que me ensinou, até os fretes de nos pôr a ouvir a Maria Callas, quando teriamos preferido andar sempre rua acima, rua abaixo.



E sei que se der mal as aulas náo me irá perdoar e, mesmo espreitando lá do Céu, ouvirei a sua voz desagradada.
Espero que tal não aconteça.

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