sexta-feira, junho 18

O que tem a ver a Blimunda com a Atracção Fatal? (reeditado a propósito da morte de Josá Saramago)



















«Blimunda, Blimunda, filha minha, e já me viu, e não pode falar, tem de fingir que me não conhece ou me despreza, mãe feiticeira e marrana ainda que apenas um quarto, já me viu (...) Blimuda, olha só, olha só com esses teus olhos que tudo são capazes de ver»

Memorial do Convento, José Saramago.

Blimunda, «Sete-Luas», é essa personagem do Memorial do Convento que, por conseguir ver o interior dos outros humanos, bem como por possuir outros poderes, é considerada feiticeira, se bem que tenha conseguido escapar à morte na fogueira às mãos da feroz Inquisição.
Tinha por amante Baltasar Mateus, o «Sete-Sóis», a quem se recusou sempre a ver o interior, «Nunca te olharei por dentro», prometeu Blimunda a Sete-Sóis, não fosse uma desilusão dela se apossar.
Para que não o visse, de manhã, logo ao acordar, comia pão de olhos fechados que guardava junto da cama.
Não escapou, contudo, Blimunda de ver «Sete-Sóis» arder na pira, em Auto-de-fé:

«E uma nuvem fechada está no centro do seu corpo. Então Blimunda disse. Vem. Desprendeu-se a vontade de Baltasar Sete-Sóis, mas não subiu para as estrelas, se à terra pertencia e a Blimunda». in Memorial do Convento

Em «Atracção Fatal» que processo de ilusionismo se passará com ele que até prefere não ver que o objecto contuntente e mortal é usado, efectivamente, pela sua amante, pois apenas ela pode ser tão sedutoramente fatal?

O amor, esse cego poder, será isso mesmo? Uma enorme capacidade de crer, de acreditar, proibindo-nos, por vezes, de ver, de ouvir, de perguntar .... apenas querer e acreditar?

Mas será isso mesmo, afinal? Julgo que não ...

Um comentário:

A Lusitânia disse...

Não sei o que é ... sei apenas que sobrevive a tanta coisa, quando se consegue sonhar!