segunda-feira, dezembro 15

Uma gazela aprisionada

Serafina parece uma gazela;
Não aguenta o cativeiro, nem os quatro filhos que já pariu. Não pode viver num mundo feito de portões.
Todos lhe dizem, tens que estudar; tens que trabalhar; tens que cuidar dos filhos melhor.
Serafina sorri, mas com um sorriso matreiro, logo pensando como esgueira a sua soberana magreza para mais uma noite no "bairro", quando a casa do portão está a adorrmecer.
Nascida no mato, as regras da urbanidade apertam e fazem-lhe doer o coração.
Até os sapatos talvez, mas disso não fala, porque há as ruas que tem que palmilhar, para poder ir às compras apressadas que não pode deixar de fazer.
Mas a gazela está ferida. Ferida pelo cativeiro e porque a pele começou a dar sinais de uma doença que invade o corpo, tornando-o lugar de cicatrizes e caroços.
Malárias de um tempo em que o corpo se rouba a si mesmo, contagiando-o das chagas de outros corpos seus iguais.
Já nem quer saber, e até esquece que as cicatrizes vão começar a aumentar ...
somente pensa que esta noite vai novamente fugir para longe dos portões, esquecendo as obrigações que a acorrentam.
Logo mais dela vos voltarei a falar.

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