terça-feira, abril 25
quinta-feira, abril 13
BOA PÁSCOA
Bom renascer, bom borrego sagrado servido à mesa.
Ou imaginado, para quem o não puder provar.
Restos tragados em dia de Pascoela, em barragens ou rios para bem sagrar.
Bons ovos da Páscoa, esses símbolos genésicos, para tudo conter.
O ovo cósmico que, identificando-se com o Andrógino, representando a plenitude da unidade fundamental e genésica, onde se confundem os opostos.
Círculo que contém o princípio e o fim.
Seja génese do Mundo fecundado pelo Sol, ou criação das águas primordiais que, ao separar-se, origina o Céu e a Terra. É através da partição, da divisão do ovo, desse círculo inicial, e do Andrógino primordial, que cosmicamente se cria, ou se diferencia a noite e o dia, o macho e a fêmea.
Por isso, para agraciar os Lares, era comum em Roma enterrarem-se ovos ou taças com ossos de aves, cuja significação, na essência, era a mesma.
Nos seus elementos decorativos, sagravam os Latinos esse ovo matricial.
Friso-cornija: Museu Monográfico de Conimbriga
«... naquele tempo, o andrógino era um género distinto que, tanto pela forma como pelo nome, continha os outros dois, ao mesmo tempo macho e fêmea».
O ovo da Páscoa contendo assim tudo: a Primavera com tudo a nascer! É o Ovo Filosófico, "germe da vida espiritual".
A própria Bíblia, segundo o Génesis, ao assumir que Eva foi tirada de uma costela de Adão aceita que, na origem, todo o humano era indiferenciado e que o nascimento de Eva mais não teria sido do que a cisão do Andrógino primordial em dois seres: macho e fêmea. O retorno ao estado primordial, à unicidade primeira, em que se inclui a ideia de fusão do divino e humano, é para a maioria das religiões o grande objectivo da vida.
E recordo com saudades que, no Alentejo, no dias seguinte ao Renascer ainda se comem os restos do Borrego, junto à água, fazendo-se libações até ao sol pôr.
Assam-se silarcas e cantam-se modas aquecidas com vinho acre.
Quem me dera a Graça do Divor, mas contigo pela mão, pois dela não me sei separar, tal Andrógino inicial ...
Mas até lá ainda há que as provações passar, porque hoje qinda é Quinta, véspera do dia em que se cerram as portas apenas para pensar.
E lembro ainda velhos textos escritos para a Revista Setúbal na Rede, em 2015:
Aproveito este espaço que me é dado, para, em primeiro lugar, desejar a todos vós uma BOA PÁSCOA, neste período em que a vida renasce.
Já em período romano são conhecidas inúmeras referências a essa sua capacidade, ao ponto de ser considerada uma praga, como nos refere Plínio, « ... Ao género das lebres pertencem também os animais a que na Hispânia se chamam «cunuculi», de fecundidade inesgotável (...) Plínio, N.H., VIII, 217 ou mesmo Estrabão que se refere às como «animais daninhos» : «Estes animais, como se alimentam de raízes, destroem plantas e sementes». (...) uma invasão (de lebres) deste género ultrapassa as suas proporções habituais e propaga-se como uma peste, ao modo das pragas de serpentes ou de ratos campestres» Estr. III, 2, 69.
Os ovos, (ou óvulos) representam o nascimento, a fecundidade ou a força genésica primordial, portanto, a própria ideia da vida, da eternidade ou da ressurreição, acabam por pertencer a um dos mais comuns motivos decorativos quer de bens de utilidade doméstica quer de elementos arquitectónicos: frisos; capitéis.
Ao que se sabe já era comum presentear as pessoas com ovos ornamentados na Antiguidade.
Os egípcios e persas costumavam tingir ovos com as cores primaveris e os davam a seus amigos. Os persas acreditavam que a Terra saíra de um ovo gigante, tal como na Mitologia Clássica onde se considera que o Universo surgiu a partir de um ovo Cósmico semelhante ao de um pássaro.
Ao que se sabe, os primitivos cristãos da Mesopotâmia foram os primeiros a usar ovos coloridos na Páscoa, representando a alegria da ressurreição.
Na Grã-Bretanha, costumava-se escrever mensagens e datas nos ovos dados aos amigos e em muitos países europeus, os ovos são oferecidos às crianças como presentes de Páscoa. Também eram decorados ovos ocos na Arménia com retratos de Cristo, da Virgem Maria e de outras imagens religiosas.
Mas muitos outros povos, como os chineses, os indus, finlandeses, japoneses, índios americanos, e mesmo povos africanos têm a sua cosmogonia derivada do ovo, a que se associa a ideia de fertilidade, nascimento e ressurreição, como se pode confirmar nos tradicionais ovos de Páscoa.
Por sua vez as aves e pássaros são considerados mensageiros dos deuses ou símbolo de verdades ocultas só ao alcance dos iniciados, motivo pelo que o deus dos viajantes, Mercúrio, na mitologia romana,(associado ao deus Grego Hermes)tem um capacete e pés alados. Esta divindade era mensageiro de Júpiter e deus da venda, lucro e comércio, pelo que é notória a associação do seu nome à palavra Mercadoria ("merx"), mas também dos ladrões. É também a personificação da eloquência e da inteligência. O planeta Mercúrio deve-lhe o nome muito possivelmente porque se move como a divindade rapidamente no céu.
Também entre os Gregos, da Noite, esfera imensa e oca, separam-se, como o desabrochar de um ovo, duas metades: O Céu e a Terra (Urano e Geia), de cuja união nascem os Titãs.
O mito do Andrógino, ou signo de totalidade inicial, é muitas vezes concebido como ovo cósmico, representa a plenitude da unidade fundamental e primordial onde se confundem os opostos, círculo que contém o princípio e o fim.
E lembro ainda velhos textos escritos para a Revista Setúbal na Rede, em 2015:
Aproveito este espaço que me é dado, para, em primeiro lugar, desejar a todos vós uma BOA PÁSCOA, neste período em que a vida renasce.
Agora que no Alentejo se prepara a Pascoela,
esse dia em que junto aos ribeiros ou barragens se reúnem ainda as famílias
para comer os restos do borrego pascal, celebrando as fontes de vida, como a
água e o sacrifício depurador do animal, é época para tentarmos também dentro
de nós fazer renascer um sentido de vida melhor, numa época em que diariamente
a crise nos testa.
Esse mesmo cordeiro pascal, imolado na Bíblia,
e que segundo na Mitologia Clássica era reportado a Ganimedes, que era
guardador de rebanhos nas montanhas de Tróia quando o pai dos deuses Zeus, em
pessoa ou em forma de águia, o raptou ou levou para o Olimpo, onde passou a
desempenhar o papel de escanção do néctar dos deuses, o vinho. Também o vinho,
a par do borrego e do pão faz parte da ceia pascal, pois dessa refeição sagrada fazem parte o borrego,
significando aqui o próprio Jesus, o vinho e o pão, o seu sangue e o seu corpo.
Esse borrego que o Cristianismo consagrou como
alimento divino e que, para além de fornecer a lã que pasmará os romanos em Salacia (Alcácer do Sal), quase
substituiu o porco alimentado a bolota, no período islâmico, é ainda um dos
alimentos mais presentes na dieta alimentar do Alentejo.
Poucos dias passaram do Equinócio, essa
palavra latina que aglutina dois termos
Aequus, que significa "igual"
e "nox", noite.
Isto é, inaugura-se a Primavera, altura que a noite e o dia passam a ter sensivelmente a mesma duração.
O Equinócio ou a chegada da Primavera é um momento celebrado em todo o mundo, desde tempos imemoriais, exaltando-se a natureza e a abundância, sendo-lhe dedicados festivais ao longo dos séculos.
A Cerealia era exactamente uma festividade em honra de Ceres, deusa das colheitas, que os romanos enquadravam no período da regeneração do equinócio da
Primavera, simbolizando o renascer da Natureza e a chegada período de fertilidade. A sua importância ao longo do tempo tornou-se bastante
visível, acabando por esta festividade ser adoptada pelos cristãos, coincidindo com o período que vivemos, ou sejam da Páscoa.
Ao que diz a Mitologia, Prosérpina, filha de Ceres e de Júpiter, era uma das mais belas deusas de Roma e, enquanto Prosérpina apanhava flores no campo, surgiu
Plutão que a rapta e a leva para as profundezas da Terra, tornando-a sua esposa.
Ceres, sua mãe, procura-a desesperadamente, mas, no entanto, porque ela havia comido sementes de romã, acabou por ficar definitivamente cativa, e foi mantida debaixo
e terra durante seis meses, até à Primavera, época de fertilidade e colheita, quando ela renasce e regressa para junto da mãe até ao fim
do verão.
Durante a Cerealia, eram famosos os jogos de Ceres (ludi cereales), que consistiam na procura de Prosérpina e eram representados por mulheres de branco que corriam com tochas acesas. Os jogos apresentavam atividades variadas nas quais os cidadãos poderiam participar.
Isto é, inaugura-se a Primavera, altura que a noite e o dia passam a ter sensivelmente a mesma duração.
O Equinócio ou a chegada da Primavera é um momento celebrado em todo o mundo, desde tempos imemoriais, exaltando-se a natureza e a abundância, sendo-lhe dedicados festivais ao longo dos séculos.
A Cerealia era exactamente uma festividade em honra de Ceres, deusa das colheitas, que os romanos enquadravam no período da regeneração do equinócio da
Primavera, simbolizando o renascer da Natureza e a chegada período de fertilidade. A sua importância ao longo do tempo tornou-se bastante
visível, acabando por esta festividade ser adoptada pelos cristãos, coincidindo com o período que vivemos, ou sejam da Páscoa.
Ao que diz a Mitologia, Prosérpina, filha de Ceres e de Júpiter, era uma das mais belas deusas de Roma e, enquanto Prosérpina apanhava flores no campo, surgiu
Plutão que a rapta e a leva para as profundezas da Terra, tornando-a sua esposa.
Ceres, sua mãe, procura-a desesperadamente, mas, no entanto, porque ela havia comido sementes de romã, acabou por ficar definitivamente cativa, e foi mantida debaixo
e terra durante seis meses, até à Primavera, época de fertilidade e colheita, quando ela renasce e regressa para junto da mãe até ao fim
do verão.
Durante a Cerealia, eram famosos os jogos de Ceres (ludi cereales), que consistiam na procura de Prosérpina e eram representados por mulheres de branco que corriam com tochas acesas. Os jogos apresentavam atividades variadas nas quais os cidadãos poderiam participar.
Relacionados com a Páscoa cristã estão vários
símbolos, desde o cordeiro pascal, a outros símbolos de filiação distante, como
são o coelho e os ovos.
O coelho é um
símbolo da fertilidade pela sua enorme capacidade de reprodução. Tal como a
ideia da Páscoa é vida, ressurreição, é renascimento.Já em período romano são conhecidas inúmeras referências a essa sua capacidade, ao ponto de ser considerada uma praga, como nos refere Plínio, « ... Ao género das lebres pertencem também os animais a que na Hispânia se chamam «cunuculi», de fecundidade inesgotável (...) Plínio, N.H., VIII, 217 ou mesmo Estrabão que se refere às como «animais daninhos» : «Estes animais, como se alimentam de raízes, destroem plantas e sementes». (...) uma invasão (de lebres) deste género ultrapassa as suas proporções habituais e propaga-se como uma peste, ao modo das pragas de serpentes ou de ratos campestres» Estr. III, 2, 69.
Os ovos, (ou óvulos) representam o nascimento, a fecundidade ou a força genésica primordial, portanto, a própria ideia da vida, da eternidade ou da ressurreição, acabam por pertencer a um dos mais comuns motivos decorativos quer de bens de utilidade doméstica quer de elementos arquitectónicos: frisos; capitéis.
Ao que se sabe já era comum presentear as pessoas com ovos ornamentados na Antiguidade.
Os egípcios e persas costumavam tingir ovos com as cores primaveris e os davam a seus amigos. Os persas acreditavam que a Terra saíra de um ovo gigante, tal como na Mitologia Clássica onde se considera que o Universo surgiu a partir de um ovo Cósmico semelhante ao de um pássaro.
Ao que se sabe, os primitivos cristãos da Mesopotâmia foram os primeiros a usar ovos coloridos na Páscoa, representando a alegria da ressurreição.
Na Grã-Bretanha, costumava-se escrever mensagens e datas nos ovos dados aos amigos e em muitos países europeus, os ovos são oferecidos às crianças como presentes de Páscoa. Também eram decorados ovos ocos na Arménia com retratos de Cristo, da Virgem Maria e de outras imagens religiosas.
Mas muitos outros povos, como os chineses, os indus, finlandeses, japoneses, índios americanos, e mesmo povos africanos têm a sua cosmogonia derivada do ovo, a que se associa a ideia de fertilidade, nascimento e ressurreição, como se pode confirmar nos tradicionais ovos de Páscoa.
Por sua vez as aves e pássaros são considerados mensageiros dos deuses ou símbolo de verdades ocultas só ao alcance dos iniciados, motivo pelo que o deus dos viajantes, Mercúrio, na mitologia romana,(associado ao deus Grego Hermes)tem um capacete e pés alados. Esta divindade era mensageiro de Júpiter e deus da venda, lucro e comércio, pelo que é notória a associação do seu nome à palavra Mercadoria ("merx"), mas também dos ladrões. É também a personificação da eloquência e da inteligência. O planeta Mercúrio deve-lhe o nome muito possivelmente porque se move como a divindade rapidamente no céu.
Também entre os Gregos, da Noite, esfera imensa e oca, separam-se, como o desabrochar de um ovo, duas metades: O Céu e a Terra (Urano e Geia), de cuja união nascem os Titãs.
O mito do Andrógino, ou signo de totalidade inicial, é muitas vezes concebido como ovo cósmico, representa a plenitude da unidade fundamental e primordial onde se confundem os opostos, círculo que contém o princípio e o fim.
E é por esse motivo que há o hábito de oferecer ovos na Páscoa ou de os
colocar sobre os bolos confeccionados nesta altura, pois a Primavera e o
Equinócio são esse ciclo do RENASCER.
Fragmento escultórico em estuque com friso de óvulos. Conimbriga
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Nas fotografias:
1 - No mosaico emeritense que
se encontra actualmente a ser restaurado pelo Museo Nacional de Arte Romano
está representado um coelho.
2 – Capitel com decoração
com óvulos.
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