Acabada de chegar ali da rua d'Os Lusíadas, onde estive à conversa com a Ana Saragoça, não quero deixar de partilhar algumas pérolas do (meu) folclore materno, assim, logo para início de conversa não posso deixar de vos oferecer uma pérola, que sempre me acompanhou e, ainda hoje, com cinquenta e quatro anos, me acompanha, qual cruel sentença - "Não Venhas tarde", de tal maneira este estribilho era um fado para mim, que manhã, tarde ou noite em que não o ouvia, alguma coisa de catastrófico me acontecia. Tremo de medo, mesmo quando saio a meio da manhã para beber um café ou ir fazer um "mandado" - outra pérola lá de casa - se a minha mãe se esquecer de dizer, com o tom que só ela conhece: "Não venhas tarde". Quando, por alguma razão, comento, a trezentos quilómetros de distância, que vou sair, ela nunca se esquece de o entoar, com a jovial ansiedade de uma mãe de adolescente, "Cuidado com as crianças, não venhas tarde ...Podem constipar-se, meus ricos filhos". O "tens bicho carpinteiro" e "engoliste uma grafonola" fazem parte de mim como a cor de cabelo, mesmo quando pinto os brancos, para já não falar do "não te atrases nem te adiantes, se queres ser um bom relógio", o que explicará, sem a ajuda de Freud, chegar à estação do comboio, do autocarro ou do aeroporto sempre, sempre, com uma hora de antecedência.
A minha natureza inquieta e tagarela, no entanto, apesar dos esforços da senhora minha mãe e dos pedidos a Nosso Senhor da minha avó, não mudou. Ainda hoje "falo pelos cotovelos" e não paro quieta, "É por isso, que não há homem nenhum que me ature", uma pérola -negra - das mulheres da minha família materna, quando, muito lacrimejantes, constatam que já dei cabo de dois casamentos. Mas o colar que sempre me acompanha e me dá forças para eu não cair de tristeza e solidão é: "há sempre um chinelo velho para um pé doente". Sim, é verdade, as mães de todo mundo têm de se unir, porque sem elas o mundo seria um lugar sem graça nenhuma..
( para a próxima conto o episódio em que eu adolescente - furiosa, irreverente e revolucionária a rebentar de PREC - grito "Mamã, vou fugir de casa, porque és fascista!" e ela responde, sem tirar os olhos da Modas e Bordados, " Está bem, mas primeiro aspira o teu quarto").
Mãe há só uma.
Um abraço.
Linda David
A minha natureza inquieta e tagarela, no entanto, apesar dos esforços da senhora minha mãe e dos pedidos a Nosso Senhor da minha avó, não mudou. Ainda hoje "falo pelos cotovelos" e não paro quieta, "É por isso, que não há homem nenhum que me ature", uma pérola -negra - das mulheres da minha família materna, quando, muito lacrimejantes, constatam que já dei cabo de dois casamentos. Mas o colar que sempre me acompanha e me dá forças para eu não cair de tristeza e solidão é: "há sempre um chinelo velho para um pé doente". Sim, é verdade, as mães de todo mundo têm de se unir, porque sem elas o mundo seria um lugar sem graça nenhuma..
( para a próxima conto o episódio em que eu adolescente - furiosa, irreverente e revolucionária a rebentar de PREC - grito "Mamã, vou fugir de casa, porque és fascista!" e ela responde, sem tirar os olhos da Modas e Bordados, " Está bem, mas primeiro aspira o teu quarto").
Mãe há só uma.
Um abraço.
Linda David
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