segunda-feira, outubro 26

Ainda o livro de José d'Encarnação «Paisagens da Antiguidade»

A propósito do trabalho do epigrafista ...

«Pois que significa acreditar? Se eu acredito que o Verão faz amadurecer a cevada, nada afirmo que seja fértil ou criticável, dado que, à partida, eu designei por Verão a estação em que a cevada amadurece. E o mesmo sucederia com outras estações do ano. Mas se eu tiro daí conclusões acerca das relações entre as estações, como essa de saber que a cevada amadurece antes da aveia, eu acreditei nessas relações, atendendo a que elas existem. De pouco me importam os objectos relacionados: apenas deles me servi como se se tratasse de uma rede para apanhar uma presa» - escreveu Saint-Exupéry.

Acreditar nas relações a partir do momento em que elas se tornam evidentes. E essas relações que são factos - «a cevada amadurece antes da aveia» - servem-nos para ir mais além, descobrir outras relações, o tal «fio para apanhar uma presa» ...
O importante, por isso, é observar com atenção, detectar exactamente as relações - para que não haja erro, depois, na confecção da rede, com a consequente perda da oportunidade em «apanhar a presa».

Ainda noutro capítulo designado «Utilidade e outros saberes» que José d'Encarnação dedica ao estudo de lucernas romanas , o autor dedica-se ao uso desse produto dos deuses, o azeite, esse elemento da triologia mediterrânica, nas candeias referindo-se-lhe da seguinte forma:

«Havia sombras bailando nas paredes, que bruxuleante era a chama. Espalhava-se pela estância um cheiro forte a azeite ardendo.
Discutia-se, quiçá, à boca da noite, a vindima por fazer, a fruta que medrava nos pomares, o granizo que tudo deitara a perder, a alegria do filho já para vir....
Noite mais adiantada - o luar nem ousaria intrometer-se!... - seria discreta a lucerna que ensinara posições e acariciava, quente, a ternura dos amantes ...
Assim.
Ontem como hoje. Ontem e hoje».

José d'Encarnação, Paisagens da Antiguidade

Reitero, esta é uma obra a reter.
Trata-se de um livros mais poéticos que li a propósito de temas que, para o comum dos mortais, se poderiam tornar áridos, pois é dedicado ao valor das palavras e das representações em vestígios arqueológicos, como epígrafes, lucernas, numismas, através do estudo de vários investigadores.

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E hoje, porque a semana de trabalho está a começar, vou rumar a ouras paisagens:
http://mirobrigaeoalentejo.blogspot.com/

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