sexta-feira, novembro 21
Apenas vou descansar .... nada me digam, nada me perguntem
Até quando o dia se sobreporá à noite?
Até quando o cansaço não nos vencerá?
Trilhos, caminhos, tantos ainda a palmilhar
E o pensamento que não consegue sossego
Tanto queria dormir
apenas os olhos cerrar ....
Olho o Tejo, e de tal arte
Que me esquece olhar olhando,
E súbito isto me bate
De encontro ao devaneando -
O que é ser-rio e correr?
O que é está-lo eu a ver?
Sinto de repente pouco,
Vácuo, o momento, o lugar.
Tudo de repente é oco -
Mesmo o meu estar a pensar.
Tudo - eu e o mundo em redor -
Fica mais que exterior.
Perde tudo o ser, ficar,
E do pensar se me some.
Fico sem poder ligar
Ser, ideia, alma de nome
A mim, à terra e aos céus.
E súbito encontro Deus.
Fernando Pessoa, Ficções de Interlúdio
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