segunda-feira, setembro 7

E de novo, Lisboa do Tejo e das pessoas




E de novo, Lisboa, te remancho,
numa deriva de quem tudo olha
de viés: esvaído, o boi no gancho,
ou o outro veermelho que te molha.
Sangue na serradura ou na calçada,
o que mais faz se é de homem ou de boi?
O sangue é sempre uma papoila errada,
cerceado do coração que foi.
Groselha, na esplanada, bebe a velha,
um cartaz, de parede, nos convida
a dar o sangue: Franzo a sobrancelha:
dizem que o sangue é vida: mas que vida?
Que fazemos Lisboa, os dois, aqui,
na terra onde nasceste e eu nasci?
Alexandre O'Neill, Poesias Completas

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