Este Rossio, colado à Praça da Figueira, onde já se venderam as raspas da estátua de um rei, D. Pedro IV; (que por sinal era a estátua do imperador Maximiliano do México reaproveitada) como se heroína gulosa se tratasse;
Este Rossio que, antes de ser rossio, viu tão perto um esteiro de rio; onde debaixo da praça se esconde um hipódromo romano e sob os já seculares cafés surruram mortos das necrópoles paleo-cristãs.
Este Rossio que, não distante, assistiu ao pior que a Inquisição fabricou na Igreja de S. Domingos e que, por isso, ainda o fogo de incêndios não deixou sossegar e se manterá assim enegrecida dos mortos judeus que imolou, pois dela saíam em procissão os condenados à fogueira pelo Santo Ofício.
Este Rossio do Nicola transpirando poemas e conspirações;
Este Rossio dos comícios e dos concertos;
Este Rossio onde pontua o teatro D. Maria II, que a primeira metade do século XIX viu nascer, sob a "orquestração" de Almeida Garrett, lugar de encontro de amigos que por Lisboa se vão passear.
Este Rossio raso, de onde se espreita o altaneiro Castelo, de um lado, e o Convento do Carmo com as suas ruínas onde ainda se acolhe a Associação dos Arqueólogos Portugûeses, do outro, é uma das praças mais belas que já vi!
E não me alongarei hoje pela Baixa do Iluminismo de Pombal.
À Pascale Malinowski e ao Adriano, obrigada pela constante companhia, mesmo quando longe.
Por tudo quanto temos aprendido juntos.
6 comentários:
Só conheço UMA pessoa (que eu quis conhecer) e que fala do passado projectado no presente, duma forma tão poética!
Bjinhos
É o Rossio por onde muitos passam e pensam conhecer mas que no fundo desconhecem.
Excelente artigo.
O Rossio faz-me evocar aquela imagem de prata maciça que saía em procissão da igreja de S. Domingos em andor também de prata e lâmpadas do mesmo metal. Mas também me faz evocar os autos de fé, as execuções capitais, o mercado das terças feiras, as corridas de touros, as paradas militares, as festas cortesãs, as revoluções e tumultos populares, as fogueiras de morte, o pronunciamento constitucional de Infantaria 4, os literatos Bocage, Malhoa e outros e tantos homens ilustres e tantos acontecimentos importantes que a história regista.
Também me faz lembrar o nosso recente encontro perto do pedestal que suporta a estátua de D. Pedro IV, à luz forte das lâmpadas, numa praça deserta. Um beijo de muita amizade. Daniel
Obrigada D. Falta ainda uma ponta da história, a da nossa bela amiga comum que não se cansa de repetir que não existe mais bela cidade do esta, a nossa!
LISBOA... que amo.
Saudades, que tenho!
Passear na Baixa, ver o Rossio, ver a Sé.
Obrigada Filomena
LISBOA... que amo.
Saudades, que tenho!
Passear na Baixa, ver o Rossio, ver a Sé.
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