segunda-feira, fevereiro 4
África, minha? Ainda o carnaval. À Mariana
Angola foi o sítio que me viu nascer.
Dela tenho lembranças fantásticas, de sol sem fim e terra com cheiro forte e quente, quando a chuva resolvia, nesta altura do ano, fazer galgar os rios e as quedas de água se enchiam tanto que tudo invadiam.
Dela tenho ainda a memória dos dias que vi os meus pais viver plenos de alegria; inventando festas e "assaltos" em casas de amigos, em carnavais que não tinham o mesmo sentido do que os que agora conheço. Lembro-me de os ver dançar, a minha mãe de vestidos soltos e floridos, e de ter aprendido com o meu pai a dar os primeiros passos de uma valsa.
Dos quintais enormes e das ruas onde brinquei, ao ponto de não se saber onde começava a rua e acabava a casa.
Recordo as florestas densas, onde o sol mal penetrava, e onde os gritos dos pássaros e os gemidos de seres escondidos quase nos faziam atemorizar.
Lembro também a família, os dias de férias grandes, onde juntos bricávamos em casa do meu avô que me ensinou o que era um escritório de livros catalogados; o rigor do trabalho metódico e o que era a Maria Callas cantando a Madame Butterfly que horrorizada tentava entender.
No entanto, é um dos discos de vinil da Columbia Graphophone que tive a sorte de herdar e que guardo hoje como se de uma relíquia se tratasse.
O mar bravo em época de "calemas", como nunca mais encontrei outro! E os navios, os paquetes cheios de coisas, que também pela mão do meu avô descobri, fonte de admiração, até porque deles, sendo pequena, me recordo serem gigantes.
Mas Angola também foi a terra que me viu partir, sem qualquer clemência, apenas porque era branca e a guerra, sempre cruel, não permitiu que existisse compaixão.
Nostalgias, terei? Não sei, nesta casa onde redescubro as minhas geografias afectivas, tento serenar as marcas que a vida me foi deixando, acalmando marés vivas e tempestades.
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3 comentários:
Belos tempos minha cara. Quem passa por africa não esquece, eu já lá voltei. Eu Luanda e você?
Beijinho
Belos tempos minha cara. Quem passa por lá não esquece.
Eu já lá voltei
Beijinhos
Nunca, mas quero voltar
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