Já passaram cinco anos do dia de Maio em que me atribuíram uma parcela de terra, numa horta comunitária.
Lembro-me de nesse momento ter chorado de alegria, e comigo, nesse mesmo assomo de comoção, estava um vizinho nascido na Roménia a quem as lágrimas caíam cara fora, ao ponto de as ter que lamber.
A primeira rega do terreno foi assim salgada.
Para mim tão longínquos eram os anos em que me recordava ter podido crescer entre terras muito largas ;).
Hoje sei que só lá não vou quando não posso!
E as couves, as alfaces; as favas vão crescendo, mas só ao ritmo que bem lhes apraz.
Felizmente, ao local que me viu nascer também pude voltar. De lá trouxe uma mão cheia de terra vermelha que também plantei no meio da horta ;). Ali por perto é o sítio da nespereira que este ano já me presenteou ;).
19.06.2012
Muito boa tarde
O meu nome é Maria Filomena Santos Barata, sou residente na Rua
............................................................
À entrada do meu prédio vi um anúncio que muito me interessou, respeitante a hortas ecológicas.
Uma vez que estou interessada em que me seja atribuída uma delas
também, muito gostaria que me informassem do que terei que fazer para
me candidatar, pois não me foi possível comparecer na reunião marcada
para ontem.
Grata pela vossa atenção, junto um link que um trabalho que ando a
desenvolver no Facebook, num Grupo denominado «Angola em Portugal;
Portugal em Angola» sobre as hortas, jardins e parques dos nossos
bairros, onde também constam vários espaços verdes de Odivelas.
http://aeppea.wordpress.com/2012/06/13/vamos-conhecer-a-vegetacao-e-a-fauna-dos-nossos-bairros/
Ficando a aguardar a vossa resposta, subscrevo-me,
Maria Filomena Barata
Passado quase um ano, em início de Maio de 2013, no dia 4, as hortas foram atribuídas por sorteio, pela Presidente do Município de Odivelas.
E, desde então, a vida não deixou de nascer, pois ninguém mais parou, cada um com o tempo e conhecimento que tem.
Cumprimento assim o Município de Odivelas por esta iniciativa e por ter tornado um espaço que era totalmente abandonado num local aprazível que todos agora podemos partilhar, vendo crescer o que cada um planta, mas partilhando também silêncios ou conversas, aos fins de tarde e horas matinais de fim de semana quem no bairro nem sequer se conhecia.
" Virgílio na sua obra didáctica sobre a agricultura, «As Geórgicas» que é um elogio da vida campestre, em harmonia com a natureza, símbolo da paz e da serenidade que se instala com a «Pax Romana» ao tempo de Augusto que reconciliou Roma a vida agrícola e a história dos seus antepassados, inicia o seu Livro , exactamente dedicado ao imperador, do seguinte modo:
«CANTEI!, até aqui, o amanho dos campos e os astros do céu; cantar-te-ei a ti, Baco, e contigo as árvores silvestres e a prole da oliveira, lenta no crescer. Vem, ó pae Leneu! Tudo aqui está cheio dos teus dons; em tua honra floresce o campo, carregado de pâmpanos outonais, e a vindima espuma nos lagares atestados. Vem ó pae Leneu! Descalça os conturnos e tinge comigo as pernas nuas no mosto novo! Antes de mais nada, direi que a natureza varia quanto modo por que cria as árvores. Na verdade, umas, sem intervenção humana, nascem expontaneamente, e cobrem ao longe os campos e as margens sinuosas dos rios, como o fime flexível, a branda giesta, o choupo, e os salgueiros brancos, coroados de verde folhagem; outros brotam da semente colocada pela mão do homem, como os altos castanheiros, o roble, que, sobraceiro às mais árvores, se veste de folhas em honra de Júpiter, e as carvalheiras que serviam de oráculos aos Gregos; a outras rebenta da raiz densa mata de pôlas, como sucede às gingeiras e aos ulmeiros, e também ao loureiro do Parnaso, que, pequeno ainda, se desapega da vasta sombra da mãe. Tais são os meios por que a natureza forma primitivamente as árvores: destarte verdeja toda a raça que povoa as florestas, os matagais de arbustos e os sagrados bosques» (Virgílio, Livro II, 1948: «As Geórgicas»).
A propósito de um trabalho dedicado à Fauna e Flora dos jardins, hortas ou parques dos nossos bairros, partilho este trabalho da minha filha :
Era uma vez uma senhora de pele muito clara que se chamava Sr.ª Batata e era casada com o Sr. Laranja e viviam muito felizes e saudáveis, porque comiam muitos vegetais. Ela era muito velhinha, tinha 82 anos e o seu esposo 83. Ela e o seu marido tinham duas filhas: a Batanaura e a Cenoutata.
A Sr.ª Batata tinha muitos amigos com os quais gostava muito de conversar. Para além disso, adorava fazer crochet para que no Inverno toda a sua família estivesse quentinha. O Sr. Laranja passava os seus dias a ver televisão.
Dia após dia, a Sr.ª Batata levantava-se e começava a varrer a casa de cima abaixo e o seu querido maridinho sempre sentado a ver TV.
Este era mais um desses dias, até que a Sr.ª Batata lhe perguntou se ele a podia ajudar nas lides da casa mas o Sr. Laranja como era dependente da televisão, obviamente, disse-lhe que não. A mulher foi muito chateada para a cozinha e ele, arrependido da sua atitude, lá foi atrás dela dizer-lhe que não ligasse, que gostaria de a ajudar. Embora não o fizesse de vontade lá cumpriu a tarefa que lhe fora destinada e até foi ao supermercado.Uma vez feitas as compras, também decidiu que era ele que cozinharia o jantar: um belo peixinho fresco e saudável! A sua mulher e filhas reconheceram-lhe o esforço mas ficaram esfomeadas pois o Sr. Laranja percebia muito pouco de culinária. No entanto, este aparente esforço do Sr. Laranja foi sol de pouca dura e rapidamente regressaram os desentendimentos com a Sr.ª Batata de pele branca. De tal maneira se stressaram que adoeceram. As filhas mandaram chamar a Dr.ª Água e ela explicou-lhes que não se deviam preocupar porque por serem alimentos saudáveis iriam recuperar depressa. E assim foi!
Ambos recuperaram e perceberam que deviam chegar a um entendimento pois, sendo alimentos saudáveis, estavam preparados para fazer as pessoas felizes e para eles próprios viverem em harmonia e felicidade.Ideia original: Mariana Lampreia
E um ano passado da entrega das hortas, a 5 de Junho de 2014, os hortelãos juntaram-se às comemorações do Dia Mundial do Ambiente, uma iniciativa do Município de Odivelas, levando consigo alguns dos produtos ali cultivados.
3 comentários:
A horta da Mena.
Não sei de que matéria são feitos os sonhos, além de palavras e tenacidade, não conheço a receita da longevidade e de tubérculos, rabanetes, batatas, tomates e coentros, não entendo nada que um senhor de avental branco não possa pesar, acrescente-se que aprecio, sobremaneira, que o leite venha diretamente da vaca para os iogurtes. A marca Pão de Açúcar e o Cartão Continente são, portanto, o meu norte nestas questões naturais, responsáveis pelo bom funcionamento da minha existência. Tenho pela natureza o respeito que se tem por qualquer língua morta – reconheço o que me ensinou, aprendi a generosidade de um saber milenar, admiro os segredos por revelar, de um território longínquo que, para mim, citadina empedernida, será fronteira nunca violada, nem por um desejo “de perder países”, nem por uma qualquer demanda de Santo Graal. Coisas minhas e do meu amor à cidade. Admiro, estimo e, em dias de maior tédio, sinto, até uma ligeira inveja desse gosto de chafurdar na lama e, qual Caeiro, em dia mais contemplativo, ficar a ver os morangos, os tomates e as abóboras a crescerem. Confesso que a inveja não é muito duradoura, os morangos prefiro-os em batidos e a única a abóbora em que acredito é a que se transforma em carruagem luxuosa. Chega, no entanto, muito viva “[…] a Paz da Natureza sem gente / […] sentar-se a meu lado” e a minha admiração, por quem, de uma semente consegue arrancar, depois de dias e dias de labuta um soberbo prato de sopa de nabiças, ou um arroz de favas que não deixaria indiferente o nosso amigo Jacinto. E, se por milagre, a semente se transforma em sopa, é porque numa qualquer, mais rija, folha de couve houve “metafísica suficiente ”. Mena, o próximo caldo verde que comer em tua casa comê-lo-ei com a mesma verdade com que aquela pequena, nossa amiga, come chocolates. Prometo.
A horta da Mena.
Não sei de que matéria são feitos os sonhos, além de palavras e tenacidade, não conheço a receita da longevidade e de tubérculos, rabanetes, batatas, tomates e coentros, não entendo nada que um senhor de avental branco não possa pesar, acrescente-se que aprecio, sobremaneira, que o leite venha diretamente da vaca para os iogurtes. A marca Pão de Açúcar e o Cartão Continente são, portanto, o meu norte nestas questões naturais, responsáveis pelo bom funcionamento da minha existência. Tenho pela natureza o respeito que se tem por qualquer língua morta – reconheço o que me ensinou, aprendi a generosidade de um saber milenar, admiro os segredos por revelar, de um território longínquo que, para mim, citadina empedernida, será fronteira nunca violada, nem por um desejo “de perder países”, nem por uma qualquer demanda de Santo Graal. Coisas minhas e do meu amor à cidade. Admiro, estimo e, em dias de maior tédio, sinto, até uma ligeira inveja desse gosto de chafurdar na lama e, qual Caeiro, em dia mais contemplativo, ficar a ver os morangos, os tomates e as abóboras a crescerem. Confesso que a inveja não é muito duradoura, os morangos prefiro-os em batidos e a única a abóbora em que acredito é a que se transforma em carruagem luxuosa. Chega, no entanto, muito viva “[…] a Paz da Natureza sem gente / […] sentar-se a meu lado” e a minha admiração, por quem, de uma semente consegue arrancar, depois de dias e dias de labuta um soberbo prato de sopa de nabiças, ou um arroz de favas que não deixaria indiferente o nosso amigo Jacinto. E, se por milagre, a semente se transforma em sopa, é porque numa qualquer, mais rija, folha de couve houve “metafísica suficiente ”. Mena, o próximo caldo verde que comer em tua casa comê-lo-ei com a mesma verdade com que aquela pequena, nossa amiga, come chocolates. Prometo.
Linda David
A horta da Mena.
Não sei de que matéria são feitos os sonhos, além de palavras e tenacidade, não conheço a receita da longevidade e de tubérculos, rabanetes, batatas, tomates e coentros, não entendo nada que um senhor de avental branco não possa pesar, acrescente-se que aprecio, sobremaneira, que o leite venha diretamente da vaca para os iogurtes. A marca Pão de Açúcar e o Cartão Continente são, portanto, o meu norte nestas questões naturais, responsáveis pelo bom funcionamento da minha existência. Tenho pela natureza o respeito que se tem por qualquer língua morta – reconheço o que me ensinou, aprendi a generosidade de um saber milenar, admiro os segredos por revelar, de um território longínquo que, para mim, citadina empedernida, será fronteira nunca violada, nem por um desejo “de perder países”, nem por uma qualquer demanda de Santo Graal. Coisas minhas e do meu amor à cidade. Admiro, estimo e, em dias de maior tédio, sinto, até uma ligeira inveja desse gosto de chafurdar na lama e, qual Caeiro, em dia mais contemplativo, ficar a ver os morangos, os tomates e as abóboras a crescerem. Confesso que a inveja não é muito duradoura, os morangos prefiro-os em batidos e a única a abóbora em que acredito é a que se transforma em carruagem luxuosa. Chega, no entanto, muito viva “[…] a Paz da Natureza sem gente / […] sentar-se a meu lado” e a minha admiração, por quem, de uma semente consegue arrancar, depois de dias e dias de labuta um soberbo prato de sopa de nabiças, ou um arroz de favas que não deixaria indiferente o nosso amigo Jacinto. E, se por milagre, a semente se transforma em sopa, é porque numa qualquer, mais rija, folha de couve houve “metafísica suficiente ”. Mena, o próximo caldo verde que comer em tua casa comê-lo-ei com a mesma verdade com que aquela pequena, nossa amiga, come chocolates. Prometo.
Linda David
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