domingo, setembro 30
sexta-feira, setembro 28
Bom dia Outono
Bom dia Outono.
Bem sei que com esta chuva nos queres avisar que não tardará o frio e as árvores com as folhas caídas. Que virá mais recolhimento nas casas, quando Outubro, Novembro e Dezembro nos vierem visitar.
Mas contigo vêm também as castanhas, as vindimas, as ruas cheirosas e defumadas, mantas brilhantes de folhas nos jardins.
O Santo, esse Martinho de nome próprio, será lá mais para adiante. Mas com ele virá o vinho novo e as pessoas que se juntam conversando e degustando, copo cheio na mão.
Vem então Outono que estamos prontos para te receber!
domingo, setembro 16
Noite
Não deixarei mais que as insónias me invadam a noite;
antes a noite me sorva a mim
com a doce humidade que paira no ar, contando-me segredos, murmúrios, desvendando em sonhos as palavras por recriar
está claro este luar e tão brancos os lençóis do meu leito
que me venha acordar a alvorada,
não sabendo quando começa a noite ou o dia
neste lugar que é o meu, simplesmente igual a mim.
.
sexta-feira, setembro 14
Conimbriga
As cidades, todas as cidades contam histórias. As que hoje são vivas e as que chamam "mortas".
Conimbriga é uma cidade como outra qualquer. Nascida apenas antes de algumas outras: aqui o tempo já antes do Império de Roma a viu crescer. Da Idade do Bronze e do Ferro ficaram testemunhos que Roma absorveu.Cidade romana de origem indígena cuja ocupação remonta, pelo menos, ao Bronze Final.
Este povoado foi lugar central na área do Baixo Mondego no período orientalizante, mantendo-se ao longo de toda a Idade do Ferro como um dos maiores oppida do centro do país.
Conquistada provavelmente em 136 a.C., durante as campanhas de décimo Júnio Bruto, a cidade será alvo de uma importante renovação urbanística sob o principado de Augusto, que se vai estender a finais do século I: o fórum, primeiras termas públicas (cerca de 12 a.C.), muralha, anfiteatro, ampliação do fórum com a construção de uma basílica de três naves (ao longo do período Júlio Claudiano), novas termas, remodelação das antigas e do fórum (ao longo do período Flávio-Trajânico).
Amuralhada se viu a urbs desde o século I, sofreu ampas remodelações quando lhe foi concedido o estatudo de Munícípio por Vespasiano, se bem que a decadência do Império, a partir do século III, tenha visto o perímetro da cidade decrescer, dando lugar a uma imponente edificação militar, a muralha do Baixo Império.
No século V, a cidade entra em decadência após várias incursões Suévicas, situando-se o seu abandono por volta do século IX.
Conimbriga tem tudo o que as cidades de Roma costumam ter: casas pobres e ricas, apartamentos, vias, termas, lugares de espectáculo, como o anfiteatro, e o seu centro cívico.
O Forum, que alguns quiseram melhor interpretar e parcialmente reconstruir, refazendo ambientes e espacialidades, tinha, sob a mira do olhar que o poder centralizado da Roma imperial impunha, um templo, esse lugar axial. Tanto poder naquele mesmo local, esse Forum do dever e do prazer; do profano e do sagrado com o seu santuário dedicado ao culto imperial...
E Conínbriga tem ainda um aqueduto com águas vindas de Alcabideque para a cidade fornecer.
Mas também o foi o de Teseu e do Minotauro assustador.
Mas tem ainda as marcas que o Homem deixou nos objectos que construiu, úteis e tão belos alguns.
Depositados em vários museus estão muitos desses objectos: no Museu Monográfico de Conímbriga , no Museu Municipal Dr. Santos Rocha, Figueira da Foz e no Museu Nacional de Machado de Castro, em Coimbra.
Representação de botim ou sandália abotinada em estuque
Fragmento de pé calçado com sandália de couraçado em mármore. Origem romana, Século I. d.C. Museu Monográfico de Conimbriga. Setembro 2012.
Mas amanhã lhe voltarei que o ar próximo de Sicó tão bem me cansou ...
«A evidência arqueológica revela-nos que
Conimbriga foi habitada, pelo menos, entre
o séc. IX a.C. e Sécs. VII-VIII, da nossa era.
Quando os Romanos chegaram, na
segunda metade do séc. I a.C.,
Conimbriga era um povoado florescente.
Graças à paz estabelecida na Lusitania
operou-se uma rápida romanização
da população indígena e Conimbriga tornou-
-se uma próspera cidade.
Seguindo a profunda
crise poíítica e administrativa
do Império, Conimbriga sofreu as
consequências das invasões bárbaras.
Em 465 e em 468 os Suevos capturaram e
saquearam parcialmente a cidade, levando a
que, paulatinamente, esta fosse abandonada.
Conimbriga corresponde actualmente a
uma área consagrada como monumentonacional, definida por decreto em 1910».
Venha visitar estas ruínas.
Informação a itálico obtida a partir de:
http://www.conimbriga.pt/portugues/ruinas.html
quarta-feira, setembro 12
Há mar e mares: Ainda o Breviário Mediterrânico (reed.)
Aqui onde se cruzam mares, o Atlântico, que sobre si próprio nunca se fecha, e o Mediterrâneo que, mesmo ali ao lado, em Gibraltar, se finda ou se estrangula, relembrei um dos livros que mais gostei de ler nos últimos tempos : « O Breviário Mediterrânico».
Aqui, neste lugar, onde se cruza também a alfarrobeira e a oliveira; o limoeiro, a tamareira e o medronheiro, aqui, onde se desfecham ondas dos dois mares, e perto restam enterrados os vestígios da 2ª Idade do Ferro de Tartessos, que nunca perdeu as relações comerciais com vários povos mediterrânicos, e dos Romanos da cidade de Ossonoba, que aqui chegaram a partir do século III a.C., ou das cidades de Balsa, onde parece ter havido também um circo, ou de Lacóbriga, dos influentes proprietários da uilla de Milreu e do Cerro da Vila, mas também os Árabes de Faro, de Loulé, de Paderne, de Silves, Tavira, de Vila Moura ou de tantos, tantos, outros lugares, reli-o, e lembrei-me o que no livro admirei: a capacidade de fazer tempo sem tempo; de inventar geografias e políticas com valor universal, sem, contudo, se prenderem a um espaço, ou a um lugar de preconceitos.
Mas, antes disso, não resisto a citá-lo:
«Não sabemos ao certo até onde vai o Mediterrâneo, nem que parte do litoral ocupa, nem onde acaba, tanto em terra como no mar. (...) Os sábios da Antiguidade ensinavam que os confins do Medirrenâneo se situam onde a oliveira se detém ...
Tive a sorte de ver a exposição «Caminhos do Algarve Romano» no Museu Municipal de Faro.
E de reveja ainda a fabulosa estátua de Agripina, proveniente de Milreu, e de ouvir falar da cidade de Ossonoba, do seu forum e edifícios públicos, da sua organização urbana.
Aqui, neste lugar, onde se cruza também a alfarrobeira e a oliveira; o limoeiro, a tamareira e o medronheiro, aqui, onde se desfecham ondas dos dois mares, e perto restam enterrados os vestígios da 2ª Idade do Ferro de Tartessos, que nunca perdeu as relações comerciais com vários povos mediterrânicos, e dos Romanos da cidade de Ossonoba, que aqui chegaram a partir do século III a.C., ou das cidades de Balsa, onde parece ter havido também um circo, ou de Lacóbriga, dos influentes proprietários da uilla de Milreu e do Cerro da Vila, mas também os Árabes de Faro, de Loulé, de Paderne, de Silves, Tavira, de Vila Moura ou de tantos, tantos, outros lugares, reli-o, e lembrei-me o que no livro admirei: a capacidade de fazer tempo sem tempo; de inventar geografias e políticas com valor universal, sem, contudo, se prenderem a um espaço, ou a um lugar de preconceitos.
Hoje, com a alegria de quem consegue sentir que o apego não é senão a angústia, o medo de perder, o livro vai mudar de mão.
Mas, antes disso, não resisto a citá-lo:
«Não sabemos ao certo até onde vai o Mediterrâneo, nem que parte do litoral ocupa, nem onde acaba, tanto em terra como no mar. (...) Os sábios da Antiguidade ensinavam que os confins do Medirrenâneo se situam onde a oliveira se detém ...
As suas fronteiras não se inscrevem nem no espaço, nem no tempo. Não vemos como determiná-las, nem em função de quê. Não são históricas, nem étnicas, nem nacionais, nem estatais: círculo de giz que se traça e se apaga constantemente, que ondas e ventos, obras e inspirações alargam ou restringem».
Será que o Mediterrâneo não vem até aqui, afinal?
Será que o Mediterrâneo não vem até aqui, afinal?
Tive a sorte de ver a exposição «Caminhos do Algarve Romano» no Museu Municipal de Faro.
E de reveja ainda a fabulosa estátua de Agripina, proveniente de Milreu, e de ouvir falar da cidade de Ossonoba, do seu forum e edifícios públicos, da sua organização urbana.
Recomendo a consulta de:
«Alvarve: Noventa Séculos entre a Serra e o Mar».
«Gentes do mar e da terra», in PAULO (Dália) [coord.], Caminhos do Algarve Romano, Câmara Municipal de Faro (Museu Municipal), 2005, p. 21-25. ISBN: 972-8776-01-2. - http://hdl.handle.net/10316/10478
Imagens: Agripina, Museu de Faro
Museu Municipal de Faro.
sexta-feira, setembro 7
Luz (em Fernando Pessoa)
O espaço indefinido é da noite par;
A luz é só ilhas nesse mar sem costa;
Mas noite é menos que luz em nosso pensar,
No valor que lhe damos tal como se mostra.
O mundo é o silêncio: o som astros contém,
Vida é lagos mortos como ermo devastado;
Assim quando noite, silêncio e morte ferem
Nosso sentido, o infinito é alcançado.
Quando da cidade o sono sem lua então
Me acorda para um senso terrível de estar
Rente ao saber, me vem uma funda intuição
De poder, pela alma, a verdade captar,
Pudéssemos despir as vestes do sentido
De termos luz, som e vida conhecido
Fernando Pessoa, Poesia Inglesa
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