quarta-feira, setembro 12

Há mar e mares: Ainda o Breviário Mediterrânico (reed.)


Aqui onde se cruzam mares, o Atlântico, que sobre si próprio nunca se fecha, e o Mediterrâneo que, mesmo ali ao lado, em Gibraltar, se finda ou se estrangula, relembrei um dos livros que mais gostei de ler nos últimos tempos : « O Breviário Mediterrânico».
Aqui, neste lugar, onde se cruza também a alfarrobeira e a oliveira; o limoeiro, a tamareira e o medronheiro, aqui, onde se desfecham ondas dos dois mares, e perto restam enterrados os vestígios da 2ª Idade do Ferro de Tartessos, que nunca perdeu as relações comerciais com vários povos mediterrânicos, e dos Romanos da cidade de Ossonoba, que aqui chegaram a partir do século III a.C., ou das cidades de Balsa, onde parece ter havido também um circo, ou de Lacóbriga, dos influentes proprietários da uilla de Milreu e do Cerro da Vila, mas também os Árabes de Faro, de Loulé, de Paderne, de Silves, Tavira, de Vila Moura ou de tantos, tantos, outros lugares, reli-o, e lembrei-me o que no livro admirei: a capacidade de fazer tempo sem tempo; de inventar geografias e políticas com valor universal, sem, contudo, se prenderem a um espaço, ou a um lugar de preconceitos.

Hoje, com a alegria de quem consegue sentir que o apego não é senão a angústia, o medo de perder, o livro vai mudar de mão.


Mas, antes disso, não resisto a citá-lo:

«Não sabemos ao certo até onde vai o Mediterrâneo, nem que parte do litoral ocupa, nem onde acaba, tanto em terra como no mar. (...) Os sábios da Antiguidade ensinavam que os confins do Medirrenâneo se situam onde a oliveira se detém ...

As suas fronteiras não se inscrevem nem no espaço, nem no tempo. Não vemos como determiná-las, nem em função de quê. Não são históricas, nem étnicas, nem nacionais, nem estatais: círculo de giz que se traça e se apaga constantemente, que ondas e ventos, obras e inspirações alargam ou restringem».

Será que o Mediterrâneo não vem até aqui, afinal?

Tive a sorte de ver a exposição «Caminhos do Algarve Romano»  no Museu Municipal de Faro.
E de reveja ainda a fabulosa estátua de Agripina, proveniente de Milreu, e de ouvir falar da cidade de Ossonoba, do seu forum e edifícios públicos, da sua organização urbana.

Recomendo a consulta de:
«Alvarve: Noventa Séculos entre a Serra e o Mar».
«Gentes do mar e da terra», in PAULO (Dália) [coord.], Caminhos do Algarve Romano, Câmara Municipal de Faro (Museu Municipal), 2005, p. 21-25. ISBN: 972-8776-01-2. - http://hdl.handle.net/10316/10478


Imagens: Agripina, Museu de Faro
Museu Municipal de Faro.

Nenhum comentário: