E.T.: pensei, recuei, vacilei, porque não sabia se estas questões eram próprias de um blogue.
Mas acabei por decidir, sim, são estas e todas as demais, porque somos tanto feitos disto como de tudo o resto a que, commumente, chamam o "próprio", desafectado, desanexado do que de nós tem de mais emocional.
Queria deixar mesmo claro que a história que contei é uma história real, de uma amiga cujo nome não poderei referir. A minha amiga D a quem mando um abraço enorme, pois, infelizmente, as histórias repetem-se ao contrário do que dizem alguns e, desculpem-me a brejeirice, "quem se lixa é o mexilhão".
Mas repito, histórias destas de maridos dúplices, mentindo anos e anos a fio, continuando assim, até sabe-se lá quando, a tudo querer e pouco ou nada dar, que ainda por cima pactuam com o insulto ou a admoestação que esposas e familiares se dignam fazer às pessoas que eles dizem amar, tem um nome só: PORCARIA! Porque, mesmo dizendo que não, com ela estão todos a conciliar, pois não é possível querer e admitir, ao mesmo tempo, quase como num processo de esquizofrenia, que o que se deseja e quer seja mal tratado ou ultrajado.
E, lamento, situações dessas há que denunciar, como há que chamar pelos nomes todas as outras em que não se é capaz de ser vertical, usando as palavras de B. no comentário que aqui deixou.
Em casa começa a cidadania e o respeito pelos outros, ou não é?
E quem quiser enfiar a carapuça que a enfie, que eu cá não deixarei de chamar as coisas pelos seus nomes, venha a ter com isso as consequências que tiver que ter. Porque quem não deve não teme, e quem a verdade não aguenta, também não vale a pena considerar. É passar à frente, salgando a soleira da porta para não entrar. Desejando boa viagem a quem tem que partir, levando consigo as cobardias, longas mentiras e fingimentos dentro do saco.
Porque se alguma coisa estou certa é que situações assim uma PORCARIA são!
Ontem à noite, depois de ter passado um dia sereno, grande parte dele em casa ou em casa de familiares, comecei a ficar confusa com alguns sinais.
Tinha recebido sexta-feira, melhor, já na madrugada de Sábado, pelas 4 da manhã, uma chamada telefónica do meu célebre amigo João mais que Tudo.
Como nesse dia tinha passado quatro horas num hospital, a propósito de um acidente com que o dia me brindou, e só não fui desta para melhor porque os anjos estavam por perto (calculem a ironia que mesmo a seguir a ter desligado o telefone, quando estava também a tentar perceber, à hora do almoço, o que me queria dizer o meu amigo João mais que Tudo), claro está que, de madrugada, estava a dormir profundamente com um belo e conveniente Lexotan que o médico achou por bem recomendar, para ver se o descanso finalmente me visitava.
Assim, não retive metade do que me disse o meu amigo João: apenas qualquer coisa como, não vou ficar, afinal sempre vou regressar a Portugal ... mas, como digo, estava um pouco em transe, para ter entendido bem tudo o resto, nomeadamente em que aeroporto ia aterrar.
Sábado, passei-o entre amigos e pouco me consegui lembrar do teor do telefonema da madrugada.
Mas ontem, porque tinha encontrado, na sardinhada a que fui, a amiga do meu amigo João, comecei a lembrar-me, ao retardador, das palavras que, na madrugada, tinham ficado no ar.
Resolvi telefonar para Évora, para uma amiga que lá tenho e perguntar: "desculpa D., mas recebi um estranho telefonema do amigo que sabes, não estava em condições para o ouvir, estava a dormir, mas tens por acaso ideia se já aterrou pelos teus lados, para lhe poder falar, pois havia qualquer coisa de emergente no telefonema que, de madrugada, me fez?"
"Não, não o vi ainda, respondeu ela, mas está descansada que, pelo que me descreveste, tão igual ao usual, e se já perdeu o sinal, provavelmente entrou naquelas fases de "despistagem ou descontaminação" que exigem nos países de maior segurança às pessoas que vão entrar nas aeronaves ou nos aviões. Por seguro já aterrou".
Eu quis acreditar que não, porque ele prometera dizer-me antes de aterrar, porque comigo precisava de estar ... mas, é um facto, as dúvidas pairavam no ar, porque, como é sabido, quem mente uma vez, mente duas ou três.
Notei que a minha amiga estava demasiado tensa para me dar atenção. Até que entrou em descompressão e começou a chorar desalmadamente.
Tinha posto finalmente na rua, há uma semana atrás, o amante com quem dormia há oito anos (posso testemunhá-lo, porque vizinhas fomos e há coisas que nos bairros não escapam a ninguém..., como também sei que não lhe foi alheia a vida que fiz enquanto lá vivi).
Imagine-se que o seu amigo, de nome P...., mas não interessa agora o nome para a ocasião, dormia com ela todas as noites, entrando por volta das 22 e saindo, sempre, como um despertador, às 8h da manhã, para ainda ter tempo de, em casa da família, se apresentar e poder dizer aos filhos que lá estava, para os acompanhar à hora da escola começar.
E, claro, assim, como bom esposo e pai de família se poder pavonear, em alturas de festa ou em ocasiões sociais.
Só que houve em Évora a Feira de S. Pedro, onde saiem à rua as famílias todas, para se divertir entre tendas, churrascos e músicas do tipo «vai ajuelhar».
Claro está que o amigo P. saiu e, como não era de estranhar, levou com ele a família, deixando a minha amiga, até à hora usual, em casa a esperar.
Foi de mão dada à esposa que, com óculos de sol maiores do que a cara, como convém para se esconder, pois inchada e altiva tem que aparentar para bem mostrar o macho que vai a passear.
Mas, desta vez, foi longe demais e andou-se mostrando também abraçado à excelsa mulher junto da tenda das rifas, onde havia conhecidos demais que se encarregaram de contar à minha amiga D. (coisas das cidades pequenas, mas que, tendo desvantagens, tantas vantagens também acabam por ter ...).
Quando às 22h chegou, pontual, também como um amante dedicado que quer aparentar, esperou-o desta vez uma recepção invulgar e, claro, saiu de rabo entre as pernas, enxovalhado e com o bairro todo a saber que porcaria daquela ela não queria mais. Bairro todo ouvindo e ele de pernas a tremer!
Disse-me a minha amiga D. ainda a chorar, «amiga, porcarias destas só as esposas iguais podem aguentar, porque, fazendo-se de santas, até parece que connosco se querem deitar, tão tolerantes são a edredons de múltiplos utilizadores. Se calhar isso até lhes dá estímulo para ainda poderem dizer: mas está aqui e é comigo que as férias e o Natal vai passar».
«PORCARIA, PORCARIA», dizia-me ela quase a gritar. «Mas quem gosta da porcaria que a guarde em família, porque assim, como diz o ditado: tudo se estraga numa casa só. Porque enquanto a esposa vai dizendo "lavado e enxaguado serve bem", ele, garboso, vai contando, com o jeito que tem para a efabulação, um dos seus trunfos mais. Fica a PORCARIA TODA IGUAL».
Acabei por desligar, esquecendo o meu amigo João, mas a pensar no que tinha acabado de ouvir.
Hoje, ao acordar, relembrei a história da minha amiga D. e das velhas estórias do meu amigo João mais que Tudo e dou-lhe toda a razão: PORCARIA CHAMA PORCARIA IGUAL. SÓ OS IGUAIS A PODEM TOLERAR!
Estupefacta fico de ainda assim se construir Portugal! Como nos havemos de admirar que em tudo haja trapaças, candongas, batotas, se nem a intimidade conseguimos construir de outra forma? Gabando-nos ainda de os outros aldrabar?
Razão tem a D., coisas assim longe da porta, é tratá-las como uma infecção.
E quanto mais depressa fizer efeito o antibiótico, melhor!
Eu cá dispenso que me saia na rifa uma coisa assim, porque nem serve para umas voltas de necessidade ou ocasião, quanto mais para amante, pois ainda o tenho como um "estatuto" que exige respeito e atenção.
Mas para prevenir já fui buscar o sal e deitá-lo à minha porta, não vá o Diabo ainda me querer testar!
2 comentários:
Não, as pessoas "assim" estão em todo o lado. Aí ao menos há espaço e paisagem.
Nem perguntes as horas, estou cansada "to deal with me and the others".
Um beijo amigo na noite longa, de coragens verticais.
Cesuraste-me no outro dia um comentário. Mas replicarei, porque te tenho por frontal e aos outros terás que dar o direito de se pronunciar, mesmo que consideres que pode afrontar alguém e não o queiras fazer.
Mas dizia, repetirei: o lixo chama o lixo, é verdade sim! E atitudes dessas como a que descreves, tão comuns nos nossos brandos costumes, de que tudo se diz mal, mas pactuando com o mal se continua a estar, por desculpabilizações ou cobardias de vária índole, merecem o nome que lhes chamaste e muito mais. Denotam egoísmo, má-fé, porque nem a salutar equidistância de tratamento que os humanos têm direito é permitido exercer. Enganam-se dois ou três lados, ou outros tantos mais, cada um de formas diferentes, mas sempre em benefício de um que afinal pouco deveria merecer. Parabéns à tua amiga. Que se pavoneie o amante agora, mas ela que se divirta por não ter que esperar por ele.
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