quinta-feira, outubro 19

FORMAS DE IDENTIDADE

Pensando no Passado, falemos do Amanhã!
Prometheus Portugal
"Em torno de Prometeu "
1º sessão - 27 de OUTUBRO 2017
local: Teatro da Comuna | hora: 21h30
FORMAS DE IDENTIDADE
Convidados: Filomena Barata | Marta Loja Neves | Manuel Cândido Pimentel | José Pacheco Pereira .
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"Em torno de Prometeu "
são conversas que acontecem uma vez por mês (ultima sexta-feira), no Teatro da Comuna na Praça de Espanha.
Procura-se com estas conversas informais, trazer à luz temas significativos da actualidade ou visões que pensamos poderem vir a materializar-se num futuro próximo. Pretendemos no presente, visualizar o futuro, sem esquecer evidentemente as heranças do passado.
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FORMAS DE IDENTIDADE
Questionar-se-á o sentido de pertença. O que é ser português, ser monárquico ou republicano, ser de um partido, de um clube ou associação, ser democrático, ser nacionalista, ser xenófobo...
Quais as implicações da afirmação "eu sou" seja feita no sentido filosófico, religioso, partidário, ou por exemplo, quando afirmamos: eu sou um agnóstico ou eu sou um homem de ciência?!
Todas estas formas de ser serão analisadas à luz de uma Astrosofia transpessoal, implicando o entendimento da noção de "eu" até se alcançar uma consciência mais alargada, à escala planetária.
O conhecimento de cada Era astrológica pode também ajudar-nos a ver quais os modelos que a humanidade precisou de desenvolver para chegar ao estado em que se encontra e, a partir desse ponto, observar melhor tentando descortinar quais os modelos que se poderão desenvolver no futuro.
Onde está a identidade que procuramos e porque é que o mito de prometeu nos pode ajudar nessa busca?
Esta conversa tem a orientação de Luís Resina.

SOB A PELE




«Querida Amiga,
Quem somos hoje senão a memória daquilo que já fizemos e que já sentimos? Para grandes feitos, grandes memórias, portanto. Mas os teus feitos não são grandes no sentido em que o são os dos deuses e dos heróis. São antes os episódios comuns da história vivida por alguém que, condicionado às venturas e desventuras do destino, encheu de poesia e de imaginação as decisões que tomou. São, por isso, as tuas decisões que tornam grandes os teus feitos. Tu crês que não há um destino que te determine. Emprestas à vida que teces a riqueza de a construíres de acordo com as tuas convicções, apesar e a propósito dos acontecimentos que te transcendem.
Não escolheste a data, o local e a hora do teu nascimento mas soubeste ver neles matéria para honrares uma geração, uma pátria, uma família e os amigos. Amas uma origem que é a matriz de quem tu és. Sem ressentimento pelas perdas, recriaste essa origem com memórias cheias de fantasia e de beleza. E revisitas fisicamente e em devaneios a origem, como quem se revê desde o princípio, retendo aquilo que constitui o fio imaginário, condutor da tua coerência. Não poderias, portanto, ser outra coisa senão essa mulher generosa,
de esquerda, de História, arqueóloga do mistério do pensamento e da memória, transmutados nos objetos que os materializam.
Da infância e dos amores jovens retiveste a alegria, a vivacidade e a beleza, a poética “Inês” de um Pedro arquiteto da música e do Amor que teceste com ele, em fabulosas histórias de deuses e de faunos, de sons e de tons, de olhares lí-
quidos e claros de quem, gémeo do outro, neles se prende para sempre. O Pedro marinheiro que o mar levou para longe.
E sobreviveste. Transformaste outro acontecimento do destino na aprendizagem de que a vida nos traz surpresas para que com elas nos enriqueçamos. E amaste de novo na tua vida adulta, aprendendo que os olhares maravilhados só
se trocam com os Pedros arquitetos da música e do Amor.
Mais uma vez não desesperaste e alegraste-te nas amizades, nas leituras, na política, no trabalho e na escrita. Tiveste sucessos profissionais e tiveste uma filha, embora a ordem dos acontecimentos não seja esta. Na ordem do tempo, os filhos são o princípio, o meio e a eternidade.
Neste teu livrinho deixas-nos o testemunho da positividade do teu olhar sobre os humanos, quaisquer que sejam os seus defeitos quando produzem guerras, destruição, desamores e desapegos, porque neles vês um Outro de ti. E tu sabes que as forças telúricas que te constituem são também tecidas de construção, de amores e de apegos, de compaixão e de humildade, não fora tão rica a paleta dos deuses que te acompanham e que criámos à nossa imagem e semelhança.
Os teus grandes feitos? As amizades que construíste em tantas latitudes, a tua consciência cidadã, o amor de mãe e a sistemática dedicação à história dos deuses nas mentalidades.
Quem como tu sabe tudo dos deuses, sabe tudo da vida.
Sentada a um canto, observando, vais lendo o teu caminho e o daqueles que se te deparam, à luz dos poderes e dos erros dos deuses. Por qualquer coisa esperas, sem medo das surpresas.
Por isso se pode esperar de ti qualquer coisa, sem medo, porque essa coisa vem iluminada pela sabedoria divina que caracteriza a tua bondade. Este livro diz como».
Luísa Amaral


Inês tinha conseguido voar. Ali, naquele jardim. Mandava-se do alto muro, como eu fazia, braços abertos, do galinheiro que havia no meu quintal de menina. Era bem alto para a idade pouca. Abria os braços, simplesmente, e depois ficava a planar. A partir daí, toda a vida voou a sonhar. Por cima das árvores, das casas e das ruas da cidade onde habitara, ou dos campos de algodão. Sabia que o clima era húmido e que, no fim da viagem, o seu corpo era água densa escorrendo e as suas asas como as de Ícaro perdido. Uma espécie de poça que se formava à sua volta. Talvez o prenúncio do mar. Do céu e do mar.
Excerto do livro "SOB A PELE", Filomena Barata